OPINIÃO: O Veterano | Relvado

OPINIÃO: O Veterano

Tem de haver espaço para veteranos, como Nuno Gomes, no futebol moderno. As mais-valias que oferecem
 

Quando parar? Eis a questão para um futebolista em final de carreira. Com o passar dos anos, esta dúvida ganha corpo e ensombra o atleta. Para um observador atento, é claro como água. Para o artista do relvado, tão importante quanto a estreia, é a despedida. 

A maioria dos atletas sonha com uma despedida em grande. Com direito a estádio cheio e debaixo de uma ovação estrondosa. Nem sempre isso acontece. Por vezes, clube e jogador, não estão em sintonia. O caso de Nuno Gomes é sintomático disso. O Benfica quis antecipar o fim da sua carreira e enquadrá-lo na sua estrutura diretiva, mas Nuno Gomes preferiu continuar em campo. Irá fazê-lo em Braga, e quem sabe se nos próximos anos não teremos uma espécie de Pipo Inzaghi no Minho. A apetência pela baliza adversária, o toque de bola e o faro de goleador mantêm-se intactos. Provou-o nas escassas oportunidades que lhe foram dadas em épocas recentes. Se se aproximar dos números de João Tomás, que aos 35 anos marcou por quinze vezes na época transata, então a aposta terá sido amplamente ganha.

Haverá espaço para o veterano no futebol moderno? Tem de haver. As mais-valias que um jogador veterano oferece ao plantel não têm preço. Traz consigo um capital de experiência inestimável e sabe transmitir os valores de um clube como ninguém. As gerações mais novas olham-nos com reverência e recebem com agrado os seus ensinamentos. Na era do 'clube entreposto' onde circulam jogadores e milhões, um jogador com anos de casa é um garante de estabilidade. Tem de ser preservado e acarinhado. Em momentos de alta tensão, típicos de uma final de taça ou de um jogo decisivo no campeonato, quantas vezes não vemos os jogadores mais experientes a brilharem a grande altura. Os jovens do momento, nervosos e noviços nestas andanças, eclipsam-se. A antiguidade continua a ser um posto.

Para os jogadores em final de carreira, o rumo que o futebol tem tomado tem sido tudo menos benevolente. A pressão dos resultados e a ganância dos atuais dirigentes deixa-lhes pouco espaço de manobra. São poucos os clubes que resistem ao facilitismo de tudo mudar quando as coisas não correm de feição. Segue-se a inevitável revolução e procede-se ao desmantelamento por peças do plantel. Alvo fácil da crítica, e muitas vezes injustamente culpado pelos insucessos desportivos, ao jogador mais velho é-lhe mostrada a porta da saída de forma inglória. A falta de tato e de sensibilidade nesta matéria é por vezes chocante. E com esta política de terra queimada os clubes vão perdendo aos poucos a sua identidade. Não há merchandising, por mais entusiasmante que seja, que suprima esta perda. 'Out with the old, in with the new' como dizem os ingleses.

Podem já não ter a capacidade física de antigamente, mas entregam-se de forma inteligente ao jogo. Adaptam-se. Reinventam-se. Refinam-se. E muitos evoluem como jogadores na etapa final do seu ciclo desportivo. O pendurar das botas, ato simbólico, encerra em si mesmo um dramatismo que muitos jogadores ainda não querem enfrentar. Ainda sentem vontade de treinar e de jogar. Na era do futebol dos resultados, até mesmo o AC Milão, que sabia como ninguém preservar as suas lendas, parece ter aderido às novas tendências. Ícones como Baresi e Maldini poderão já não ter espaço no futebol de amanhã.

Embora nem sempre devidamente apreciada, não há figura no futebol que colha maior simpatia. Um futebolista de eleição em final de carreira atinge um estatuto que nem dirigentes nem treinadores conseguem alcançar. Uma carreira galardoada com títulos, golos decisivos e exibições memoráveis, confere-lhe uma aura que é espantosa de observar. É bom que assim seja. São bons exemplos a seguir para os mais novos. Representam a melhor face dos clubes e são os seus mais honrosos embaixadores.

Afinal de contas, o Jogador é o Futebol.

(Pedro Mota é um adepto atento e especialista no fenómeno futebolístico)

diversos:

Comentários [6]

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Este senhor é um grande

Este senhor é um grande jogador no panorama futebolístico português!

Como em tudo há veteranos e veteranos

Na verdade, tal como em tudo, há diferentes categorias de veteranos.
Há alguns que apenas não sabem ou não querem retirar-se nos momentos de glória e preferem ir continuando uma carreira outrora brilhante, em clubes mais modestos e menos exigentes onde os seus conhecimentos podem ainda ser muito úteis.
Há outros que, apesar de ainda em boas condições físicas, se tornaram, de alguma forma, "donos das equipas onde actuam há muitos anos e querem-nas a jogar á sua volta e dentro dos seus parâmetros. Estes, e será por exemplo e para as pessoas entenderem, o caso do ex-bota de ouro Fernando Gomes, quando vão para outra formação, onde surgem de novo e não podem ser "donos" da equipa, podem ainda fazer algumas épocas de bom nível.
Alguns, apesar de estarem bem, querem muito deixar o futebol em alta e são convencidos, ano após ano a renovarem os seus contratos até um determinado momento em que se recusam continuar (veja-se o caso de Aloísio). Mas também existem os que, dedicados a um clube e sem noção exacta das suas capacidades, querem prolongar a sua carreira de jogadores indefinidamente e não aceitam o seu fim (ex-Jorge Costa).
Poder-se-ia falar de outras situações. O que importa é que o momento de acabar como jogador é sempre um momento doloroso e representa, além disso, um momento em que os rendimentos económicos baixam de forma drástica o que não é despiciendo muitas vezes.
Ser veterano pode ser um trunfo, mas pode também ser um peso. Todas as generalizações são sempre erradas e cada caso tem de ser analisado por si.
Nuno Gomes nunca foi apreciado por Jorge Jesus e é capaz, pelo seu prestígio, de faz demasiada sombra ao treinador que pode querer ter o protagonismo! Certo é que nao se pode manter um jogador numa equipa contra a vontade do treinador. Cabe a Nuno Gomes mostrar, em Braga, que ainda tinha boas condições!

nuno só dois anos em itália

o resto foi no benfica levou um pontapé no cu que foi parar a braga sem apelo nem agravo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nuno_Gomes

rui costa só joga dois anos é um rei reforma vitalicia este clube é o máximo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rui_Costa_(futebolista)

grande caldinho 2 anos fica para sempre eu até choro

http://pt.wikipedia.org/wiki/Rui_Costa_(futebolista)

Excelente texto

Normalmente por estes lados, textos longos são sinónimo de enfado e de um enorme bocejo.

Este texto do Pedro Mota não e até é, nesta "season" especialmente "silly", um refrescante e oportuno oásis.

Parabéns

Depende sempre dos "velhos".

Depende sempre dos "velhos". A despeito de gostar do Nuno e de achar que ainda teria lugar no Benfica, não creio que se enquadra no tipo de veteranos de que fala. Não foi um jogador ganhador, ganhou muito pouco, e a qualidade também não se compara aqueloutros que fizeram história, como Scholes, Giggs, Maldini, Figo, etc. Por isto há uma diferença substancial entre Nuno e aqueles que de facto foram símbolos. E quando se fala destes, fala-se de jogadores cuja carreira fez com que fossem reconhecidos em todo mundo. O que, diga-se, em abono da verdade, não é o caso do Nuno Gomes.