OPINIÃO: Os mundos de Blatter e Platini | Relvado

OPINIÃO: Os mundos de Blatter e Platini

Nunca foi tão consensual no universo do futebol um certo ódio de estimação em relação a Joseph Blatt
 

Numa conjuntura aziaga, propícia a manifestações de toda a ordem e feitio, as altas instâncias que regem o futebol seguem o seu caminho aparentemente tranquilas. Por entre escândalos e acusações gravíssimas, os negócios florescem e a bola não para de rolar. Tanto na FIFA como na UEFA, duas figuras controversas exercem a sua influência de forma magnânima. Nunca foi tão consensual no universo do futebol um certo ódio de estimação em relação a Joseph Blatter e Michel Platini. Digamos que não é caso para menos.

João Havelange, figura mítica da FIFA criou as bases para o esquema que prolifera nos dias de hoje. Através de um elaborado tráfico de influências, onde o suborno ocasional ajudou a desbloquear alguns “indecisos”, Havelange surgiu no poder contando com os votos de associações de segundo plano, prometendo-lhes apoios monetários e organizações de futuros mundiais. Blatter, apadrinhado por Havelange, repetiu a fórmula contra Lennart Johansson e num resultado inesperado tomou o poder. Após treze anos no poder e prestes a iniciar um quarto mandato (emergindo “vitorioso” num processo eleitoral no mínimo caricato), Blatter já não esconde a sua preferência por Platini. Nesta estafeta do poder confirma-se o que toda a gente já sabe: a UEFA serve de trampolim rumo à FIFA.

Tanto o suíço como o francês são figuras controversas por si mesmas. É difícil acolher a simpatia do público quando as "gaffes" sucedem-se em catadupa. Em matéria de relações públicas fazem lembrar por vezes o desastrado George Bush. Alguns comentários de ambos, xenófobos e por vezes a roçarem um certo racismo, são inaceitáveis para quem ocupa cargos tão cimeiros.

Blatter tem sido teimosamente crítico em relação ao uso de tecnologia na linha de baliza. Após um Mundial recheado de incidentes e com golos mal anulados, tem vindo a retratar-se e já admite recorrer a certas inovações que visam melhorar o jogo sem o deturpar. A propósito de Blatter, ficaram famosas as suas declarações em 2004, aquando do Campeonato do Mundo de futebol feminino. Blatter sugeriu que, para aumentar o interesse masculino na prova, talvez se devesse fomentar uma estética mais feminina, que passaria pelas jogadoras envergarem umas camisolas mais decotadas e uns calções mais curtos. As reações não se fizeram esperar.

A última polémica com Platini prende-se com o seu ataque cerrado aos clubes que alinham com demasiados estrangeiros. Tem disparado em várias direções e nem o Porto nem o Braga escaparam depois da recente final da Liga Europa. O seu ataque aos clubes lusos foi deselegante e revelou uma enorme falta de tato. Alguma azia por esta não ter sido a lucrativa final idealizada por si fizeram transbordar o copo. Vindo de Platini, este tipo de comportamento já não causa espanto. Basta ver que enquadramento legal permite que isso aconteça sem que nada possa ser feito. Basta olhar para a Premier League, nomeadamente para o Arsenal, onde o seu conterrâneo Arsène Wenger faz alinhar com frequência um onze totalmente estrangeiro.

Apesar de procedimentos pouco transparentes e de um notório défice democrático, tanto a FIFA como a UEFA são os principais responsáveis pela evolução do futebol nos ultimas décadas. Criaram competições de elevado interesse e atuam positivamente em vários estratos da sociedade através de programas de abrangência social meritória. Pena que tão nobres ideais sejam por vezes postos de lado pelos seus principais interlocutores.

(Pedro Mota é um adepto atento e especialista no fenómeno futebolístico)

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Comentários [4]

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Falta democracia

Falta democracia e as Federações têm sempre medo de votarem contra um candidato que ganhe e serem prejudicadas depois!
Quanto ao Paltini, é pena que não se lembre das críticas aos estrangeiros com outros como o Arsenal e muitas equipas inglesas, mas enfim, estamos habituados aos seus disparates!

Tecnologias e futebol

Há muito que é necessária a introdução das novas tecnologias no futebol que desta forma corre o risco de ficar ultrapassado pelas exigências do espectador moderno.
Não faz sentido não se utilizar os meios que permitam repor a justiça no jogo quando ainda para mais com os meios disponíveis permitiria um mais rápido fluir porque anularia os protestos e reclamações das equipas que muitas vezes causam demoras e crispações e que por vezes se transformam em violência.
Permitiria igualmente ajudar a eliminar as tentativas de enganar o árbitro nas simulações e de igual modo daria a legitimidade a equipas que atacam para não serem constantemente frustradas ou cirurgicamente frustradas nas suas tentativas de ataque.
Todos sabemos que é uma questão de tempo mas o facto é que o tempo está a passar e os responsáveis pelo futebol fazem a figura arcaica que o clero fazia nos séculos passados afirmando que os astros se moviam ao redor da Terra negando a evidência da astronomia. Aqui nega-se as evidências das vantagens para o jogo jogado.
Ao contrário do que se afirma as novas tecnologias trariam mais emoção ao futebol pois então as equipas mais pequenas não veriam o golo anulado ou o golo consentido contra as regras que muitas vezes fazem a balança inclinar-se para os grandes do futebol, trazendo assim o sabor da surpresa para o campo do espectáculo nos grandes palcos das competições Europeias e mesmo nas ligas nacionais.
Sem dúvida que as grandes equipas são grandes porque superam as contrariedades e os imponderáveis, mas porque é futebol e os imponderáveis acontecem os chamados "underdogs" entrariam em campo sabendo que os imponderáveis não aconteceriam na arbitragem.
E isto seria igualmente um factor de protecção para o árbitro que não temeria apitar em ambientes adversos e tensos porque seria das regras a possibilidade da dúvida ser desfeita pela imagem. Igualmente factor de protecção porque todos nós sabemos da dificuldade de analisar em campo numa fracção de segundo ou com ângulos cobertos (tantas vezes é necessário repetir e ver com atenção para se ter a certeza de uma infracção ou de um contacto).
E se especulássemos sobre a sua aplicação penso que uma sugestão a ponderar seria a de uma regra semelhante á que existe no ténis em que o tenista (neste caso o capitão da equipa) pode pedir a análise á jogada em causa se o árbitro não o fizer. Tal como no ténis para se evitar o abuso o jogador teria um limite de pedidos (ex: 3 por jogo) em que se se verificasse não ter razão, quando os esgotasse não mais o poderia fazer.
Só teria a ganhar o futebol e a sua prática com a aplicação das novas tecnologias porque reforçaria a tónica na competitividade e não na decisão.

2 coisas a dizer. 1º - O

2 coisas a dizer.
1º - O assunto da tecnologia, pessoalmente acho que não deveria ser utilizada. Iria retirar aquela emoção ao futebol sempre que havia alguma dúvida, qualquer coisa duvidosa e o computador resolvia. Não gosto muito da ideia. Prefiro que hajam alguns erros do que tecnologia.

2ª- A ideia dos decotes e calções não é má de todo.

Interessante artigo.

Interessante artigo.