OPINIÃO: “Scholes means goals.” | Relvado

OPINIÃO: “Scholes means goals.”

Paul Scholes acaba por deixar os relvados da forma como nele viveu: com total discrição - escreve Pe
 

Cai o pano em mais uma época memorável de futebol e entramos no rebuliço que marca o defeso. Entre contratações sonantes e retórica de empresários, sobra pouco espaço mediático para homenagear os artistas que saem de cena. Em Old Trafford inicia-se mais um ciclo onde será notada a ausência de um dos seus maiores símbolos. A despedida em definitivo dos relvados foi encarada com a tranquilidade e maturidade que definem um campeão. Paul Scholes acaba por deixar os relvados da forma como nele viveu. Com total discrição.

Dono de uma timidez que sempre exasperou os media britânicos, Scholes apenas concedeu entrevistas quando o clube o notificava a fazê-lo. Parco em palavras, sempre se sentiu mais à vontade dentro das quatro linhas a fazer jogar a equipa. No panorama atual em que as estrelas estão enredadas num circo mediático asfixiante, Scholes assumiu-se claramente como a anti-vedeta. É refrescante para o adepto comum ver um atleta tão focado no seu trabalho. Imune ao marketing voraz dos patrocinadores e indiferente às novas tendências extra-futebol que tanto talento destrói.
   
Temível avançado no início de carreira, foi recuando com o passar dos anos para o centro do meio-campo sem nunca perder o seu instinto goleador. Fez parte de uma colheita de ouro onde brilharam os irmãos Neville, David Beckham, Nicky Butt e o incrível Ryan Giggs. Esta safra de talento juntava milhares de adeptos que assistiam estupefactos a uma equipa que cilindrava os adversários nos escalões de formação. Dizia-se na altura que praticavam melhor futebol que a equipa sénior. Ferguson assistia aos jogos, de sorriso rasgado pois sabia o que tinha em mãos. Até Éric Cantona foi visto várias vezes a espiar os futuros craques.

Nas épocas de maior fulgor, Scholes era uma máquina de jogar futebol. Um dos melhores circuladores de bola de que há memória na Premier League, era raro vê-lo a falhar um passe. Possuía uma visão de jogo ímpar, era decisivo nas arrancadas para o ataque, certeiro nas assistências e letal a finalizar. Tinha um remate fortíssimo e não tinha medo de arriscar. O resultado foi uma avalanche de golos. Para um homem de baixa estatura, finalizava de cabeça com enorme qualidade. Futebol total. Dos pés à cabeça.

Foi acusado várias vezes de falta de fair-play e de excessiva dureza. Arséne Wenger admirava-lhe o talento mas referia várias vezes que ele tinha um lado negro e sombrio. Corria quilómetros e o seu empenho valeu-lhe um cadastro apreciável de cartões. Continua a ser o jogador que mais cartões viu na Liga dos Campeões com um total de 32 cartões amarelos, destronando mesmo o colérico Gennaro Gattuso. Apesar desta sua faceta combativa, colhia a admiração e respeito dos seus colegas de profissão. Thierry Henry considerava-o ano após ano o melhor jogador do campeonato inglês e recentemente, numa entrevista, Xavi Hernandez admitiu que o seu maior ídolo fora sempre o pequeno médio ruivo.

Os números que definem a sua carreira no Manchester United são impressionantes em longevidade e esclarecedores em termos de golos: 676 jogos e 150 golos. Num percurso de dezassete anos sob o comando de Alex Ferguson venceu tudo o que havia para ganhar. Pela seleção inglesa o seu registo de 14 golos em 66 partidas espelha uma relação que nem sempre foi fácil. Despediu-se prematuramente da seleção aos 29 anos, alegando necessitar de mais tempo para estar com a família e querer dedicar-se exclusivamente ao seu clube. Nas entrelinhas ficou claro que a sua relação com Sven-Goran Eriksson tinha atingido o ponto de rutura. Eriksson insistia em coloca-lo a médio-esquerdo dando primazia à inoperância chocante de Lampard e Gerrard no centro do terreno. O divórcio com a seleção em nada o prejudicou. Ajudaria o seu clube a conquistar inúmeros títulos nos anos que se seguiram.

Se visitarem o mítico Old Trafford e perguntarem a um adepto do Manchester United o que acha de Paul Scholes, a resposta será simples e inequívoca. Dirá: “Scholes means goals.” Percebe-se porquê e aceita-se a franqueza.

(Pedro Mota é um adepto atento e especialista no fenómeno futebolístico)

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Comentários [9]

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ALVO FÁCIL

Artigo básico com informações básicas que podia ser a escreve-lo. É um artigo de busca de informação na Internet. Redondo. Meramente informativo. Percebo pelos comentários dos meus de bancada do Relvado , muita azia contra o jornalista Rui Santos. Ora bem, nem é possível estabelecer comparações com o autor deste artigo. O Rui santos não precisa de advogados de defesa e deve sentir-se muito lisonjeado por estar sempre alojado na cabeça dos aziados. Os seus 35 anos de carreira não são afectados por gente maledicente. O Rui Santos tem uma pena fina como há (com 'h', sr. Leonel) poucas em Portugal. Escreve muito bem, com português correcto, desenvolve ideias e fundamenta as suas opiniões. Não é politicamente correcto e ainda bem. Fartos de 'boys' deveriam estar os portugueses. Os boys da política e os boys do futebol. O jornalismo desportivo está condenado, exactamente porque escasseia o sentido crítico e a independência. No contexto do relvado conseguiu-se elevar muito o nível de discussão através da escrita do jornalista Rui Santos.
O Rui Santos é um alvo fácil para descarregar frustrações provenientes de adeptos de clubes que gostariam de o ver defender as suas cores. Como ele defende aquilo em que acredita, independentemente dos emblemas, algumas pessoas (porque ainda existe massa crítica em Portugal) sentem-se atingidas. Aqui reflecte-se muito da mentalidade do país que somos. Infelizmente...

"Artigo básico com informações básicas que podia ser (eu?) a..."

E no entanto não foi. Se fosse mereceria os meus parabéns. De uma crónica jornalística bem escrita pede-se que contenha factos, se a informação é "básica" ou não, não interessa (não me interessa o que o Scholes guarda na gaveta das meias, e esse é um género de informação muito pouco "básico"), pede-se também que seja de agradável leitura (por ser "jornalístico" por oposição a "técnico") sem comprometer ambições estilísticas e a pesada herança de escrever em português.

Em vez de um bom texto o Sr MFPires apresenta-nos a apologia do Sr. Rui Santos, exercício que me mereceu a atenção pelo facto de ocupar 12 das 13 linhas que decidiu escrever. como resposta a uma crónica sobre o ex-futebolista Scholes. Para quem utiliza o triste facto de haver "boys" a mais na sociedade portuguesa o seu exemplo não é o de independência despreocupada.

Mas concordo consigo quando diz que o Sr. Rui Santos é um alvo fácil, entenda é que essa "facilidade" é inteiramente mérito do próprio. Tem o peso de ser alvo de críticas, mas a vantagem de ter um nome comerciável, tão comerciável que empresta a cara a este mesmo site.

O jornalismo desportivo estará, de facto, condenado quando não houver leitores capazes de distinguir e apreciar uma crónica sincera, baseada em informações "básicas" mas pelo menos genuínas, de um artigo de opinião clubística ou suposta informação sobre uma contratação que acontecerá-mas-poderá-não ter-de-facto-acontecido. Felizmente, a apreciar as respostas a esta crónica, são mais os que ainda sabem fazer essa distinção.

Rui Santos, versao camuflada??

És tu, Rui Santos?

Rui Santos é um marasmo de ideias. É mais do mesmo. Ouvi-lo falar hoje ou há dez anos atrás, é a mesma coisa. É a pescadinha de rabo na boca. Nao evolui, nao sai do mesmo registo. Sempre a mesma lenga lenga, sempre os mesmos temas, sempre o mesmo discurso. Nao traz nada de novo. Entediante.

Haja um artigo como o destes, uma lufada de ar fresco, e que tem interesse, pois fala do jogo de futebol e de futebolistas.

Parabéns!

Ponham este senhor no lugar do Rui Santos...
Bem melhor! (Também não é preciso muito...)

Parabéns...

.. já à uns tempos que não se lia nada aqui por estas bandas sobre futebol!

Um texto, agradável de se ler e bastante sintetizado sobre o Paul Scholes, gostei.

Em relação ao Paul Scholes, sempre gostei de o ver jogar, era daqueles jogadores que é capaz de andar um jogo meio despercebido e depois de um minuto para o outro acaba por inventar uma jogada de outro mundo, é sempre com pesar que se vê jogadores deste calibre deixarem os relvados, mas há que saber fazer-lo no momento certo.

Parabéns, bom texto. Scholes

Parabéns, bom texto.

Scholes é, acima de tudo, o exemplo perfeito de como um jogador de futebol deveria ser.

Gostei de ler

e concordo com o Tom na questão da diferença entre ler uma crónica acerca do futebol puro e dos seus intervenientes, versus um pobre coitado que parece um gira discos riscado e que fala sempre das mesmas coisas há anos, de cliché em cliché, e num futebolês bafiento, que pouco ou nada interessa.

falem de bola!

Estes artigos à beira de

Estes artigos à beira de outros que aqui se publicam são como água para vinho. O outro senhor que aqui escreve, além de mal escrever, é venenoso quanto basta. Podia dar aqui uma olhado de como se escreve um bom artigo.

Bom artigo.

Bom artigo, parabéns por este texto! 'Ganda jogador o Scholes, vai deixar saudades.