Crónica: Paulo Bento, Sporting e futuro

Paulo Bento nem sempre reuniu consenso no seio sportinguista. Todavia em quatro anos ganhou algumas Taças, qualificou-se quase sempre para a Liga dos Campeões e conseguiu, de algum modo, fazer com pouco o que muitos fazem com muito. Confesso que nem sempre estive de acordo com Bento, com as suas opções, a sua teimosia. Igualmente que nem sempre o futebol do Sporting me convenceu. Agradou-me porém que haja apostado na juventude, que haja defendido o Sporting como se de um sportinguista se tratasse: sobretudo a sua humildade, rara no futebol.Paulo Bento tem apostado com regularidade nessa juventude que pulula das camadas jovens. Muitos foram os jovens em quem apostou, outros que descurou. Varela é exemplo. Essa aposta fora mais por necessidade do que por opção, porquanto me parece que, a escolher, Paulo Bento teria preferido apostar em jogadores mais experientes ao invés de jovens. A necessidade camuflou essa lacuna de Bento. (É opinião minha).Patrício, Veloso, Carriço e Nani são apostas de Bento ganhas, porque de qualidade inquestionável e porque não havia melhores opções. Apostaria ele neles se tivesse jogadores para aquelas posições mais experientes e mormente de qualidade semelhante? No seguimento da minha conjectura diria que não. Pereirinha, Adrien, Yanick, André Marques e Saleiro são outras apostas que, por ora, ainda não ganharam espaço. Os dois primeiros de qualidade razoável, os três últimos de qualidade questionável. Se quanto a Veloso, Carriço, Nani, Patrício, e quiçá Pereirinha e Adrien, não haja dúvidas quanto às suas potencialidades, poder-se-á dizer o mesmo em relação a Saleiro e Marques? Quais os reais motivos na aposta destes dois jogadores que andaram anos emprestados e que raramente mostraram qualidades? Não haveria melhor nas camadas jovens? Apostar-se-ia para inglês ver e poder-se ter a desculpa de apostar em outros? Se todos os anos sai pelo menos um bom jogador das camadas jovens como não saiu este ano?Numa entrevista à RTPN Paulo Bento dizia que era mister que os jogadores das camadas jovens rolassem noutros clubes até se imporem definitivamente no SCP. Asseverava igualmente que nem todos são Moutinhos, e bem, e que desse modo era preciso dar tempo ao tempo. Nem todos são Moutinhos, é facto, mas não se pode julgar que Moutinhos só há um. Carriço é disso exemplo. E como eles, outros haverá. Não se pode é dar desculpas de que se não aposta mais nos jovens porque eles ainda não têm maturidade. Os jogos são o que dão essa maturidade aos jogadores. Schumacher não seria o piloto que foi se não lhe tivessem dado a oportunidade de conduzir um Ferrari.Não se pode esperar grande evolução dos jovens jogando em campeonatos menos exigentes, como a Segunda Liga. Acresce a isto que, nem sempre podem ser bem acompanhados e/ou aposta. As segundas divisões, pelo menos em Portugal, não dão nunca as condições necessárias para a evolução dos jovens, caso contrário ter-se-iam muitos jogadores a saírem de lá. Emprestar jogadores pode ser benéfico e pernicioso: depende sempre do ponto de vista. Mas, urge a pergunta: quantos foram emprestados e voltaram a casa e impuseram-se? Muitos deles perdem-se no meio de tanta incompetência, antipedagogia. Há mister de se compreender que por vezes mais vale ter o jogador no clube e jogar de vez em quando em jogos mais fáceis, como seja na Taça de Portugal, na Taça da Liga, e desse modo acompanhar-se o jogador como deve ser, do que emprestá-lo.Se a compra de jogadores estrangeiros de qualidade inferior haja sido por dificuldades financeiras e de pouco consentimento de Bento, já a subida de jovens da formação tem o dedo de Bento. E esta subida não só tem sido quase nula como os que ingressam, casos de Marques e Saleiro, são susceptíveis de se contestar. Com tantos jogadores nas camadas jovens pergunto-me como é possível haver um ou dois bons jogadores de dois em dois anos?! Faço a estimativa assim por cabeça.Contudo, este não é um artigo anti-Paulo Bento. É apenas uma constatação da realidade de formação e da aposta de Bento nela. Não obstante julgar que Bento tem algumas lacunas quer no tocante a estas questões quer no que respeita à forma de jogar do Sporting, apoio a sua continuidade. Porém, esta continuidade só terá fundamento quando houver uma reestruturação de todo o futebol do Sporting. Para isso, dever-se-ia adoptar e efectivar o mesmo sistema que o outrora Ajax lograva. Ou seja, as camadas jovens deveriam adoptar um sistema de jogo em função da equipa sénior. Casos como o de Varela são exemplos claros de que urge efectivar este sistema, sob pena de se perderem mais jogadores porque não coadunáveis com o sistema actual.A reestruturação e uniformização de todo o futebol do Sporting concomitante com a continuidade de Paulo Bento serão a única solução para o futuro do clube. Questionar-se-á a continuidade de Bento. Acredito no entanto que a longevidade de um treinador em frente duma equipa dar-lhe-á mais poder e mais respeito por parte dos jogadores que estão, que ficam e que vêm. Acresce que o próprio treinador crescerá mais porque mais envolvido no clube, porque sabe que tem tempo, e por conseguinte, os resultados depressa aparecerão. Por vezes as coisas são muito simples, nós é que as tomamos difíceis.TomSawyer