Sporting mais forte no Inverno

Mexer na equipa em Dezembro, por norma, significa retocar o que de menos bom foi feito em Julho e nos primeiros meses de campeonato. Apesar de esta ser uma verdade insofismável, há também outra verdade de Inverno: os clubes estarem reféns de clubes financeiramente mais poderosos que a qualquer momento podem bater as cláusula de rescisão. Não foi isso, contudo, que aconteceu aos três grandes do futebol português neste no último mês de Janeiro.

O Benfica foi o maior vendedor - encaixou 70 milhões - tendo o mérito de perder "apenas" um (Matic) dos três jogadores vendidos. É certo que André Gomes tem um peso pluma na estrutura da equipa mas a ausência do sérvio foi atempadamente acautelada com Fesja, que em águas calmas foi-se adaptando à equipa e ao futebol português para agora ser definitivamente lançado. Opções não faltam a este Benfica que investiu para esta época como nunca, mas que se viu agora obrigado a vender após o fracasso que representou a participação na Liga dos Campeões e que coloca em causa a narrativa por detrás desse investimento. Vencer o campeonato é o mínimo olímpico exigido à dupla Vieira-Jesus.

No FC Porto os problemas são maiores e mais profundos. Paulo Fonseca perdeu, da época passada, o motor da equipa, isto é, o meio-campo - Fernando é agora o único sobrevivente - e tem de apostar nos extremos para gerar desequilíbrios. Quaresma chegou, revela a qualidade, imprevisibilidade e desequilíbrio de sempre, mas parece curto. O segredo poderá estar na emergência (adiada jornada após jornada) de Quintero e sobretudo Defour, que vai ganhar mais espaço na equipa e no campo com a saída de Lucho.

Com menos recursos financeiros que os rivais, o Sporting foi extremamente inteligente na forma como atacou o mercado de Inverno. Dos três grandes terá sido, até, o que mais ficou a ganhar em termos de equilíbrio da equipa. Após uma primeira volta surpreendente tendo em conta as expectativas e o passado recente, Leonardo Jardim soube, com poucos recursos, construir uma equipa que pode definitivamente atacar o título. Com um modelo de jogo definido e uma estrutura-base identificada - assente na formação de Alcochete - o Sporting contrata um jogador de créditos firmados no campeonato português (Heldon) e sem necessidade de adaptação, como alternativa a Slimani e Montero, mas que possibilita, fundamentalmente, aos leões variarem o 4-4-3 e o 4-4-2, em qualquer momento da partida (mesmo de início) com a almofada de conforto de ter uma opção no banco - já que Cissé havia sido emprestado e na equipa B e juniores não há ninguém que garanta produtividade imediata conforme exige o mercado de Janeiro. Mais imprevisível é o egípcio Shikabala, um jogador de técnica superior e que pode ser o elemento desequilibrador que alguns momentos e jogos necessitam (Académica é um bom exemplo). A adaptação e o perfil psicológico, todavia, poderão ser pontos que obrigarão Leonardo Jardim a um esforço de liderança acrescido.

Contudo, parece certo que o Sporting ganha mais e melhores soluções para um objectivo que não sendo o inicial que teve o mérito de saber conquistar. Com menos jogos por realizar ganha vantagem física e psicológica em relação aos rivais e enquanto se mantiver a menos de quatro pontos de distância da frente, tudo pode acontecer.