A queda do império catalão | Relvado

A queda do império catalão

É urgente uma mudança de paradigma do Barcelona.
 
Neymar apresentado no Camp Nou
fcbarcelona.com

Recentemente Andrés Iniesta, um dos mais brilhantes jogadores espanhóis de sempre, disse que não fazia sentido colocar em causa o ciclo vitorioso do Barcelona. Alguns resultados negativos e escândalos de gestão depois, veio Josep Maria Bartolomeu, presidente do clube, defender que havia uma campanha anti-Barcelona justificada pela hegemonia dos catalães em Espanha e na Europa. No entanto, conforme constatou mais recentemente Johan Cruyff nos seus artigos de opinião semanais, o problema do Barcelona, que justifica este mau momento, é estrutural e não de Messi, do seu treinador, ou sequer do modelo de jogo.

Verdadeiramente, desde a entrada de Sandro Rossel na presidência do Barcelona - e mais recentemente do sucessor Josep Maria Bartolomeu - que o império criado pela dupla Laporta/Guardiola começou a desmoronar-se com uma pesada lapidação da identidade do histórico clube catalão. O primeiro episódio de incapacidade de liderança (e comunicação) por parte de Rossel deu-se precisamente no dia da saída de Guardiola. A sua festa de despedida junto de jogadores, colaboradores do clube e adeptos – enfim, a celebração de um ciclo de quatro anos de glória - acabou ofuscada pelo timing escolhido por Rossel ao anunciar Tito Valonova como sucessor de Pep, roubando o protagonismo ao verdadeiro herói da noite.

Com o passar do tempo, e com a qualidade de jogo da equipa em curva decrescente, Rossel, provavelmente influenciado pela necessidade de colmatar um passivo gigante, mudou as agulhas do disco e, virando costas à identidade do clube, passou a utilizar um modelo de gestão mais próximo do rival de Madrid. Seguiram-se apresentações galácticas em Nou Camp e uma campanha de marketing jamais vista na Catalunha, encapotado pelo slogan La Masia. A contratação de Neymar - cujo processo levou à demissão de Sandro Rossel - acaba por simbolizar na perfeição a filosofia de gestão do ex-presidente e da ctual administração. E, ao mesmo tempo, foi um golpe duro no balneário. A disputa pelo jogador com o Real Madrid e o capricho de Rossel em roubar a nova estrela do futebol mundial para a Catalunha viabilizou uma transferência de muitos milhões (veremos a que custo para os cofres do Barcelona) e, sobretudo, inflacionou um ordenado que coloca em causa o valor de históricos jogadores que tudo deram e conquistaram para o clube. Por isso disse Cruyff que o problema passava também por Neymar, jovem jogador de potencial inquestionável mas que ainda nada ganhara pelo clube para justificar uma remuneração acima de todos os outros, colocando em causa a hierarquia do balneário.

A comunicação interna por parte da direção para um grupo de jogadores que desde a formação assimilou os valores do clube e a sua filosofia, também falhou, começando, pela primeira vez em muito anos, a ver-se atletas a questionarem a liderança do Barcelona. Xavi passou a admitir sair do clube para outro campeonato, Messi colocou em causa Javier Faus, vice-presidente do Barcelona, frisando que “nada sabe sobre futebol”, sendo que o seu processo de renovação tem tido muitos avanços e recuos, Puyol anunciou a saída do campeão espanhol duas épocas antes do fim do contrato e Valdés renunciou à renovação do mesmo. Sinais mais que evidentes de que o problema desportivo do Barcelona vai muito além do sub-rendimento de Messi ou do treinador Tata Martino.

Mas, diga-se em abono da verdade, que também taticamente o Barcelona tem renunciado aos seus princípios de jogo, passando hoje a ceder à ideia de que o futebol direto dos cruzamentos para a área é mais eficaz que o futebol apoiado na movimentação coletiva que historicamente tem praticado. Afastado da Taça do Rei e Liga dos Campeões nas meias-finais por dois anos consecutivos, sem brilho nem glória (ao contrário do que acontecera diante o Chelsea em 2011/12 e Inter de Milão em 2009/10), o Barcelona pode ainda, matematicamente, conquistar o campeonato.

Sobretudo o primeiro objetivo, o principal, está muito difícil de atingir e uma época em branco deverá representar sinal de reconhecimento que o problema do Barcelona é essencialmente estrutural e muito deverá mudar daqui para a frente. Contrariamente ao que Josep Maria Bartolomeu diz, os inimigos do clube não estão fora dele, mas sim dentro.

O jornal catalão “Sport” titulava, após a derrota com o Real Madrid para a Taça do Rei, que uma renovação é urgente. Mas muito mais urgente é mudança de paradigma do clube, um regresso às suas origens, que entre 2008 e 2014 representou uma pedrada no charco da indústria em que o futebol se tornou e à qual a atual administração se rendeu com os resultados recentes que se conhecem.

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Comentários [2]

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O problema do Barça tem sido

O problema do Barça tem sido erros consecutivos no scouting. Basta atentar às últimas grandes contratações para constatar que nenhuma pegou de estaca, exceptuando dois jogadores que fizeram lá a sua formação (Fabregas e Alba). O que têm rendido Alexis Sanchez, Song, Afellay e mesmo Neymar? Muito pouco atendendo ao que custaram e aquilo que jogavam nos seus anteriores clubes. O estilo de jogo do Barcelona é único e não é fácil encontrar jogadores que nele se encaixem e os que mencionei não se encaixaram, se bem que acredito que Neymar, com o tempo, lá vá.
Para o Barcelona renascer das duas uma, ou encontra três ou quatro jogadores que encaixem no seu sistema ou, simplesmente, muda de sistema.
Outro problema que encontro é o peso da idade e consequente baixa de rendimento de dois jogadores fundamentais, Puyol e Xavi.

Quando se fala em renovação da equipa dá-me um pouco vontade de rir, porque parece que é preciso mudar tudo quando não é verdade. Quem tem Daniel Alves, Piqué, Alba, Mascherano, Busquetes, Xavi, Iniesta, Messi e Neymar não precisa de mudar assim tanto. Além disso, quanto não vale um Montoya, um Bartra, um Tello, um Delofeu, um Pedro e tantos outros? Quanto não custa no mercado actual um jovem com o potencial daqueles que referi?

Acho que o plano do Barcelona deve passar por dispensar/transferir Alexis Sanchez e Song e procurar um substituto para Valdez, contratar um central (Garay?) e um ponta-de-lança (acho que Falcão encaixava que nem uma luva). O resto é trabalho e um técnico experiente (Frank de Boer deve ser o eleito). Vamos ver se acerto em alguma coisa...

Parece-me, essencialmente,

Parece-me, essencialmente, que a mensagem da direcção na está a passar para os jogadores do clube. E quando os jogadores, sobretudo no Barcelona porque o respiram desde sempre, não se identificam com o projecto do presidente, muita coisa é colocada em causa. Não é normal Valdés, Puyol, Xavi, Iniesta e Messi admitirem sair do clube. Não são jogadores quaisquer na história do Barcelona. E não acredito que seja pelo treinador Martino ou por desgaste no clube. E tudo começa com a política de gestão de activos, leia-se jogadores. Neymar é craque mas o seu ordenado e estatuto com que entrou (fruto do processo de transferência e rivalidade com o Madrid) veio desestabilizar a hierarquia do balneário. Claro que agora é necessário uma renovação e veremos se com a mesma ou outra identidade de jogo, mas aí a responsabilidade pertence à direcção e ao perfil de treinador que escolher. No caso de Luís Enrique parece-me demasiado óbvio que o Barcelona não mudará o seu estilo. Para defesa central é preciso entender que no estilo de jogo do Barcelona há uma complementariedade entre um central duro, forte na marcação e outro que saia a jogar. Habitualmente Puyol fazia o primeiro papel e Piquet o segundo. Mas Piquet tb é forte na marcação e tem feito essa função ao lado do adaptado Mascherano, precisamente porque na escola holandesa da qual o FCB foi influenciado, os desequilibrios começam a ser gerados a partir da saída de bola do GK e DC, Por isso fará sentido a contratação de centrais com as caraterísticas de David Luiz ou Javi Martinez. Lá na frente a mobilidade de Arturo Vidal também poderá encaixar bem, caso Alexis Sanchez seja vendedo, pelo peso que também representa no orçamento do clube. Esta época o Barcelona tinha, provavelmente, a sua melhor equipa de sempre mas com os jogadores quase todos em sub-rendimetnto. E é uma pena...