E quando a crise abalar o futebol?

«Nada mais vai ser como era». É a previsão do treinador português Fernando Santos em tempos de crise. As perturbações económicas que estão a abalar o mundo não tardarão a afectar o futebol e «as loucuras vão ter de acabar», vaticina o actual treinador do PAOK da Grécia durante o Seminário de formação para treinadores «UEFA Pro» que decorre em Oeiras. A UEFA já anunciou que os clubes altamente endividados poderão ser excluídos das provas europeias.





O secretário-geral da UEFA, David Taylor, confessou durante uma conferência sobre futebol em Stamford Bridge, Londres, que a estrutura está «preocupada» com o volume das dívidas dos clubes no Velho Continente, particularmente em tempos de crise financeira mundial. «Os clubes com muitas dívidas podem no futuro ser excluídos das competições europeias», alerta o dirigente, sublinhando que os emblemas devem precaver-se para não colocarem o futuro em causa. E se não revelarem cautelas próprias, a UEFA poderá ser obrigada a intervir, avisa Taylor.


A Premier League, considerada a melhor Liga do mundo, é também uma das mais endividadas. O presidente da Federação Inglesa de Futebol (FA), David Triesman, revelou que a dívida global dos clubes do primeiro escalão em terras de Sua Majestade ronda os 3,8 mil milhões de euros. Chelsea (792 milhões), Manchester United (772 milhões) e Liverpool (442 milhões) serão responsáveis por um terço dessa dívida.

O director-executivo do Liverpool, Rick Parry, já assumiu publicamente que o projecto do novo estádio do clube está em stand-by por causa da crise. E no West Ham, cujo presidente, Bjorgolfur Gudmundsson, é um dos principais accionistas do Banco Landsbanki, o segundo maior da Islândia que está em grave crise e que foi nacionalizado, já se começam a preparar os sócios para a necessidade de vender jogadores em Janeiro.

«Se tudo correr mal, não é inconcebível que um grande clube, ou um clube muito pequeno, fique sob pressão», alerta Lord Triesman. A própria FA está altamente endividada, nomeadamente por causa da construção do novo Estádio de Wembley, e o líder da estrutura nota que «ninguém racionalmente pode olhar para este ambiente em que estamos e pensar que é imune».

O presidente da FA destaca que se está «a começar a ver a ponta do furacão, a arte está em sair do seu caminho», aponta, apelando ao governo britânico para criar novas normas regulamentares para o futebol. O dirigente salienta o facto de o negócio do futebol não ser neste momento «transparente o suficiente», frisando que por isso não se sabe «se a dívida é de pessoas financeiramente seguras ou não».

Entre as medidas que Lord Triesman preconiza para controlar os gastos no desporto-rei está a definição de um limite salarial máximo. Mas o secretário-geral da UEFA diz que este princípio seria «muito difícil» de implementar no futebol europeu, «dados todos os diferentes regimes de impostos» nos vários países.