Carta aberta aos sportinguistas

Aos 2 anos de idade, ainda sem saber o que era um jogo de futebol, já o meu pai me tinha posto sócio do Benfica. Ele, o meu irmão, e restantes familiares benfiquistas sempre me influenciaram para que o vermelho fosse a minha cor.

Nunca liguei muito à bola até entrar na escola, e mesmo aí a maioria dos colegas eram do Benfica. Nem tinha noção do que era ser de um clube.

Um dia estava em casa a ver uma reportagem sobre o Joaquim Agostinho, e vi umas imagens antigas dele, a entrar na pista do Estádio de Alvalade, que estava lotado, numa prova de contra-relógio. Vi o público em êxtase, uma festa imensa e aquilo marcou-me. Depois pedi aos familiares para ver um jogo do Sporting, e foi paixão à primeira vista.

Aos 8 anos, não só já não era sócio do Benfica, como até consegui com que o meu pai (que aceitou decisão) e a minha mãe me colocassem sócio do Sporting. Mas hoje em dia, quando olho para o clube, vejo que está muito diferente daquele que aprendi a amar. E temo que se as coisas continuam assim, o clube entre em total decadência.

Vejo um presidente incompetente, que só afasta os adeptos do clube, e que só toma decisões prejudiciais para o Sporting. Vende os melhores jogadores a preço de "uva mijona", aceitando reservas desses clubes para diminuir o preço, não consegue fazer nada do que prometeu, continuamos sem pavilhão, e nem sei se algum dia iremos ter, diz que vai mudar para sintético, sem perceber que isso não ajuda em nada, nem trará grandes benefícios, e ainda abre as nádegas perante presidentes que foram apanhados em escutas, não só a ridicularizar o clube, como a insultar de forma lamentável, o roupeiro Paulinho, um símbolo muito maior do Sporting que o actual presidente. E ainda por cima, o vejo a ele, e às suas "comadres" insultarem antigos presidentes como Sousa Cintra e João Rocha por exemplo.

Mas é que nem comparação possível existe. Sousa Cintra cometeu erros que nunca mais acabam, mas era muito mais sportinguista. Pensava mais com o coração do que com a cabeça, mas tinha a noção da grandeza do clube. Ombreava com Reais e Interes, pela contratação de jogadores, como Zamorano, Balakov ou Naybet por exemplo, tendo mesmo ganho a corridas destes 2 últimos, porque sabia que o Sporting não lhes era inferior. E João Rocha foi dos melhores presidentes que o Sporting teve, com erros é certo, mas também não merecia os ataques de que foi alvo.

A equipa actual reage da mesma maneira às vitórias e às derrotas, não se notando diferença alguma nas suas atitudes. Não vejo garra, vontade, nem amor ao símbolo de leão.

Costinha e o seu amigo Maniche também vieram para a imprensa criticar os falsos sportinguistas, e indicá-los como responsáveis. Mas quem são eles para darem lições de sportinguismo? Que fizeram eles pelo clube? Não são nada para merecerem o dom da palavra verde e branca!

Nem quando o Sporting esteve 18 anos sem ganhar o campeonato, houve um afastamento tão grande dos adeptos. Nessa altura havia paixão e entusiasmo pelo clube, agora isso a cada dia que passa, desaparece. Temos cada vez menos sócios, já ninguém consegue falar em "gameboxes" e há uma grande falta de militância. Quantas vezes damos por nós a nem saber o dia em que joga o Sporting? Nem sabemos ao certo a que horas começa o jogo?

Muitas vezes já nem vemos as "flash interviews", nem nos despertam interesse as declarações finais dos intervenientes, e se estivermos a ver um filme ou uma série, esperamos que acabe para mudar para o jogo do Sporting. Já quase não festejamos os golos e limitamo-nos a pestanejar a cada golo sofrido.

Antigamente, ia com a família para Alvalade 3 horas antes do jogo porque sabia que ia apanhar trânsito, seria difícil encontrar lugar para o carro, e seria difícil encontrar bilhete. Hoje em dia, posso ir 1 hora antes do jogo que tudo é fácil.

A situação actual dói e é demasiado grave para continuar. Não temos de ter medo de dizer estas palavras, porque só percebendo a actual realidade se pode mudar o quer que seja. E essa mudança não só é necessária, como é obrigatória, para o bem do clube. Desculpem, para o bem do clube não, para a sobrevivência do clube que crescemos a ver.

A paixão e o amor pelo "meu" Sporting não desapareceram, nem nunca vão desaparecer. E não peço campeonatos, Taças de Portugal ou provas europeias, eu quero apenas voltar a encontrar trânsito para Alvalade, quero não conseguir arranjar bilhete para o jogo, quero estar no estádio e não conseguir ver os golos, porque o senhor da frente se levanta antecipadamente por tudo e por nada, quero estar no sofá e levantar-me a cada golo, quero chorar cada derrota, no fundo, eu quero apenas o meu clube de volta.