Valeu a pena a mudança de Anderson para Manchester?

Já se sabe que quando se questiona a decisão de uma mudança do FC Porto para um clube como o United, a resposta positiva parece indiscutível. Sobretudo quando, ao fim de pouco tempo, se assume um papel tão preponderante na equipa com o fez Anderson. No entanto, no caso do brasileiro, a questão é também extensível ao papel no terreno que lhe reservará o futuro. Ou seja, a mudança de Anderson não se resumiu ao aumento de prestígio e de ordenado, mas também à adaptação de médio livre e criativo a médio de transição e de jogo cerebral.Apontado como o futuro Ronaldinho, cujas características técnicas justificavam plenamente a comparação, Anderson maravilhou os portugueses com um génio que ganhava corpo do meio-campo para a frente. Quase de preocupações exclusivamente ofensivas, o brasileiro inventava espaços e rasgava blocos defensivos com passes de génio e dribles entusiasmantes.Chegado a Inglaterra, cedo se percebeu que o sistema de jogo de Ferguson exigia uma adaptação do jogador. A questão era saber se encaixaria num dos dois lugares do miolo ou se apareceria como segundo avançado, num 4-4-2 que hoje maravilha pela forma como se desdobra em 4-3-3 mediante a organização defensiva ou ofensiva do Manchester. E, se toda a gente pensou que jogaria no ataque, a verdade é que Ferguson preparou Anderson para fazer dupla com Carrick a meio-campo.Hoje, com uma preponderância decisiva no modelo de jogo do escocês, Anderson está feito um médio interior de alto rendimento. Enche o campo com o seu pulmão inesgotável e oferece uma estabilidade que a equipa não consegue obter com nenhum dos seus substitutos. Imperial no domínio da posse de bola, define ritmos e assume com inteligência as transições da equipa, imprimindo velocidade ou acalmando o jogo conforme mais convém ao United. A isso, junta-lhe uma visão de jogo e uma capacidade de passe extraordinárias quando ataca e uma raça e força física decisivas na recuperação de bola quando defende. Uma demonstração de classe, talento e irreverência fora do vulgar num miúdo de 21 anos que tem de ser considerado, indiscutivelmente, um dos melhores médios do mundo na actualidade.Coloco-vos as perguntas para as quais nunca vamos, provavelmente, obter respostas conclusivas: o que seria de Anderson se tivesse continuado a sua evolução na posição em que jogava no Porto? O que seria de Anderson se o Porto não tivesse de ceder a uns silenciadores 31,5 milhões de euros e ele fosse vendido mais tarde a uma equipa onde pudesse jogar da mesma forma? É positiva para o seu futuro a adaptação que sofreu em Manchester? Apesar de se ganhar um médio completo, não se terá perdido também um talento daqueles que raramente aparecem? Será que vamos voltar a ver Anderson a espalhar magia mais próximo da baliza?artenigma