Deverá Hulk alinhar frente ao Arsenal?

O futebol não é uma ciência exacta. De resto, há tantos (mas tantos!) condicionalismos que influenciam uma partida de futebol, que prever o seu desfecho é, em absoluto, impossível. Portanto, não há perspectivas certas nem erradas, há pontos de vista. Que podem e devem ser debatidos de forma salutar, como eu e tu sempre fizemos neste espaço. A razão não tem de estar de um só lado, pode estar dos dois! Respondendo-te por pontos... 1. É discutível se alterar o sistema táctico para um jogo importante e difícil será a melhor solução. Eu acredito que o FC Porto se deve manter fiel à sua estrutura habitual e deve optar por manter o figurino que utiliza em todas as partidas. Devemos explorar as fraquezas do adversário, obviamente, e alterar determinados processos para optimizar o nosso desempenho. Não podemos ignorar quem está do lado de lá, a disputar o desafio connosco. Contudo, alterações profundas denotam medo, fraqueza e pequeneza. E o FC Porto é tudo menos pequeno. Ao contrário do Arsenal, que nunca ganhou a maior competição de clubes do mundo, o FC Porto já a conquistou por duas vezes. Somos grandes e a nossa postura deve estar de acordo com a nossa grandeza. A quantidade de vezes que Jesualdo Ferreira fez "borrada" ao adoptar o mesmo ponto de vista que tu (alterar em demasia em função do adversário) só vem fortalecer este meu argumento. Curiosamente, a altura em que Jesualdo Ferreira deixou de "inventar" nos jogos da Champions - na última época - o resultado foi a brilhante eliminação do Atlético de Madrid com um futebol claramente superior ao de nuestros hermanos e estivémos perto de eliminar os detentores do troféu. Perdemos esse jogo com o golo da década do Manchester United, um dos melhores da carreira de Ronaldo, e muito por culpa da lesão de Lucho, a nossa pedra-chave. Portanto, a própria história recente do nosso clube demonstra que o ideal é mantermo-nos fiéis à nossa filosofia. E devemos aprender com os erros do passado. O Arsenal não há-de mudar por nossa causa. Nós também não temos de mudar por causa deles. Fiéis àquilo que somos há muito tempo, devemos ir para a luta com as nossas armas e tentar subjugá-los com o nosso futebol. 2. Não está em causa a qualidade e o potencial individual de Hulk e Varela nem a maior ou menor capacidade de um e de outro se adaptarem a um ou outro modelo. O que está em causa é o momento actual. Se por um lado tens um futebolista que está parado há meses e não aguenta, pura e simplesmente, noventa minutos seguidos; por outro, tens um jogador que está em forma e que tem sido dos elementos mais preponderantes nas últimas vitórias da equipa. Como alguém aqui disse, o melhor período do FC Porto coincidiu com a saída de Hulk do onze. Eu vou mais longe: o pior período do FC Porto, esta temporada, coincidiu com a lesão de Varela, no início do campeonato. De resto, foram nítidas as melhorias quando este regressou e mais nítidas ainda com a inclusão de Ruben Micael no plantel. Mais a mais, não deves ignorar o aspecto psicológico. Animicamente, Varela parece-me muito mais forte do que Hulk. Ambos estarão motivados: o brasileiro porque não joga e quer mostrar o seu valor; o português porque se encontra, de facto, num bom momento de forma (quiçá no melhor momento da carreira). Agora, pergunto-te se preferes, para jogar uma partida deste cariz? 2.1. Um jogador que já não joga há muito tempo porque teve uma atitude irreflectida, que mergulha frequentemente para o chão, que protesta com os árbitros em todos os momentos (apesar de ter razão em muitas das situações e de ser alvo de alguma "perseguição") e cujo principal problema desde que chegou ao Porto é precisamente a cabeça fora do sítio. No início, só rematava do meio-campo; tardou em evoluir e em tornar o seu futebol mais colectivo; ameaçou explodir quando passou a decidir em função da equipa e acabou por desiludir nos últimos jogos que fez porque a equipa, sem ideias, recorria invariavelmente a si para resolver os problemas do conjunto. Neste momento, e volto a frisar que o momento, no futebol, é que conta, colocar Hulk no onze é um risco. É um jogador inconstante, capaz do melhor e do pior: tanto se pode assumir como figura de proa como desaparecer completamente do jogo ou optar invariavelmente por jogar para si e disparatar ao tentar provar o seu inequívoco valor. 2.2. Um jogador completamente sereno, que nunca vira a cara à luta e se entrega plenamente ao jogo, sem desistir de um único lance; que raramente vês protestar; que nunca vês a responder a provocações dos adversários e que denota muito mais maturidade psicológica do que o seu colega. Simplificando: achas mais lógico, neste momento, colocar em campo um jogador inconstante e que tanto pode entrar para "partir tudo" como pode regressar aos tempos em que era completamente inconsequente na ânsia de mostrar o seu valor ou um jogador com autêntico perfil de atleta de alta competição e altamente regular (quantos jogos maus fez Varela ao serviço do FC Porto?)? 3. Mesmo que assim não fosse e que, hipoteticamente, Hulk e Varela estivessem exactamente nas mesmas condições físicas e com o mesmo ritmo competitivo, julgo que Hulk não é mais talhado para o 4-4-2 do que Varela. Parece-me que os dois têm algumas semelhanças no seu estilo de jogo. São ambos rápidos, possantes, fortes, explosivos, bons rematadores e, por conseguinte, tanto um como outro se sentem melhor jogando numa das alas, com a possibilidade de embalar, dar uso à combinação velocidade/força e causar estragos. Assim sendo, não sei em que te baseias para afirmar que Hulk é mais facilmente adaptável ao 4-4-2 do que o Varela. Ficava sinceramente satisfeito se pudesses explanar esta tua visão das coisas. Obrigado por me fazeres voltar a comentar. Já tinha saudades de escrever um post tão longo para o Relvado (aproveito para pedir desculpa pela extensão da resposta). O último que escrevi com mais de dois parágrafos deve ter sido há meses. Um abraço! Post Scriptum: Vais ver este jogo ao Dragão?

O Hulk, pese embora todas as características peculiares que tem e que já foram enumeradas por alguns dos relvinhas neste artigo (e muito bem!), nunca terá capacidade para aguentar noventa minutos de um jogo altamente competitivo e exigente a todos os níveis. Nesse sentido, parece-me muito mais sensato e lógico colocar Varela no onze (que, a par de Falcao e Ruben Micael tem sido dos jogadores mais decisivos) e arriscar, se necessário for, a entrada de Hulk. Hulk pode ser uma "arma secreta" que, bem gerida, se pode tornar muito importante num eventual percurso de sucesso do FC Porto na Liga dos Campeões. Por tudo: tem características físicas e técnicas que mais nenhum elemento do plantel tem, pode desequilibrar e fazer a diferença se entrar com o jogo partido ou com a necessidade de "desbloquear" a defesa britânica. Agora, conceder a titularidade a um jogador que está há meses sem competir, num jogo desta envergadura não parece, a priori o melhor caminho. Veremos...