Crónica: Corrupção compensa... e não é pouco!

Hilariante! Só me recordo neste momento desta palavra para descrever tudo o que se passou à volta do FC Porto. Fazendo um pequeno resumo da última década, já há muito que se sabia que o Porto comprava árbitros. Todos falavam, as cenas eram evidentes, as Antas um Inferno para árbitros e jornalistas, ou seja, toda uma cultura de ódio e de não olhar a meios pelos fins foi posta em prática já desde o tempo do Mestre Pedroto.Foi assim com alguma naturalidade que se receberam as primeira notícias do Apito Dourado em 2004. Todos observaram que o país não parou, em contraste com o que aconteceria se fosse o Sporting ou o Benfica a serem apanhados a comprar árbitros. As evidências eram tantas que a haver alguma surpresa terá sido apenas pelo facto do Porto ter sido apanhado em dois jogos teoricamente "fáceis" com uma das suas melhores equipas de sempre. O que não terá sido antes? O que não terá sido na década de 80 e 90 onde as escutas e outras práticas judiciais não foram postas em acção?É curioso notar a evolução das desculpas portistas (salvo honrosas excepções, as quais desde já congratulo). Começaram por afirmar que era tudo mentira e que não havia corrupção nenhuma. Com as escutas e com o depoimento da sua ex-primeira dama, que tanto amaram, passaram para a estratégia do "inocente até ser considerado culpado" ou "os outros também fazem". Agora que saiu uma das sentenças (não esquecer o Apito Dourado, que poderá ter consequências muito mais penosas do que esta brincadeira de julgamento), o argumento já é de que "está tudo viciado" ou até "mais vale mafioso do que lampião". Raras foram as excepções nas hostes portistas a criticar o seu presidente e a assumir a deturpação de muitas das suas conquistas nos últimos anos. Que ética, que honra, que bom nome, meu Deus!Independentemente de todas estas questões brevemente reduzidas, e nas quais provavelmente um observador estrangeiro nem consiga acreditar, há algo ainda mais hilariante nesta história toda: a sentença em si mesmo. Lembro-me, há uns anos, na minha pura ingenuidade, de achar que um clube que seja apanhado a corromper um árbitro, nem que seja contra o Carcavelinhos, deveria ser relegado imediatamente para as distritais. Uma punição destas é um desincentivo a qualquer clube, pois o risco é demasiado grande para tentar ganhar 3 pontos. Eis que a Comissão Disciplinar decide punir o Porto com 3 míseros pontos por cada jogo corrompido onde tenha sido apanhado. Ou seja, a corrupção, que é um fenómeno tão difícil de provar e apanhar, compensa e não é pouco. Senão vejamos:- O clube X sabe que tem poucas hipóteses de ganhar ao clube Z. O que é que faz? Compra o árbitro e ganha. O que é que lhe acontece no pior dos casos? Perde os 3 pontos que ganhou e que se não tivesse subornado em princípio perderia à mesma. Compensa!- Pior do que isto será tirar ao clube X os pontos não no campeonato que corrompeu, mas sim noutro campeonato qualquer, tendo então a vitória conquistada. Pior ainda seria que lhe tirassem os pontos justamente num campeonato onde estaria a milhas dos seus concorrentes. Compensa!- Dado que o clube X por esta altura já percebeu que o que está a dar é o suborno, então faz prática corrente deste. Às tantas as vitórias são tantas, até externamente (devido à pouco concorrência interna esmagada pelas ilegalidades, o que permite gerir plantel e comprar melhores jogadores), que certamente muita gente se esquecerá. Compensa!Os benefícios são tantos que não cabem numa crónica. Nem num jornal. Foram 25 anos adulterados ao máximo cuja consequência foram a perda de 6 pontos. E o cómico no meio disto tudo é o facto de quem ter feito este belo regulamento foi justamente Guilherme Aguiar, conhecido portista.O futebol Português está de luto. Embora haja muitos para aí a rirem-se. Os títulos ninguém lhes tira. Mas o mau nome e a vergonha também não.[r]elax