Real Madrid-Bayern: são homens, não são máquinas (crónica)

O Bayern de Munique iludiu a lei das probabilidades, que já ontem tinha sido radicalmente violada pelo Chelsea, e reservou o lugar que faltava na final da Liga dos Campeões. Pelo caminho, em pleno Santiago Bernabéu, ficou o Real Madrid de José Mourinho e Cristiano Ronaldo, numa noite de grandes emoções. E ficou pelo caminho justamente, diga-se.

Primeira parte de loucos! - Os primeiros 15 minutos de jogo mostraram a riqueza em surpresas do futebol, que fazem dele o maior espetáculo do Mundo. Ainda nem o primeiro quarto de hora estava decorrido e o Real Madrid já vencia por 2-0, para deleite dos adeptos que enchiam o estádio. Dois golos de Cristiano Ronaldo, aos 6 e 14 minutos – um de grande penalidade a castigar um desvio de Alaba com a mão e outro a aproveitar um lapso da defesa alemã – que deixavam antever um passeio até à final e mais uma exibição de gala do craque português.

Os merengues tinham entrado de forma demolidora, com muita potência ofensiva, graças à atitude de Ronaldo, Ozil e Benzema, sobretudo, mas também contando com um Marcelo inspirado. Mas os bávaros respondiam de forma sempre perigosa.

E a verdade é que a ganhar por 2-0, nem por isso o Real respirou tranquilamente. Pelo contrário, foi a equipa do matreiro Jupp Heynckes a fazer pela vida. Em desvantagem na eliminatória, passou a correr mais que o adversário, contando para isso com a velocidade de ponta de Robben e Ribery. Ainda antes do segundo golo, poderia ter empatado por duas vezes, pelo holandês e pelo francês.

O Real sentia que, apesar de estar a ganhar por 2-0, não tinha a eliminatória segura. Algum nervosismo, aqui e ali, fazia os homens de branco perder a bola no meio-campo. E a defesa vacilava. Não surpreendeu, por isso, que o 2-1 tenha aparecido. Pepe empurrou Mario Gomez pelas costas e Robben concretizou a grande penalidade, aos 27 minutos, empatando a eliminatória.

Até ao final da primeira parte, o jogo continuou eletrizante.  Benzema, aos 31 minutos, quase fez o 3-1, com a bola a rasar o poste, mas era o Bayern que acumulava os lances mais perigosos. Aos 34 minutos, quase empatou por duas vezes, com Gomez e Ribery a desperdiçarem. E no último lance da primeira parte, foi Robben a assustar os adeptos da casa, surpreendidos com a fortíssima reação dos visitantes.

Motor de Ronaldo gripou - A segunda parte foi diferente. Era humanamente possível que fosse jogada a tão altas rotações. O Real reentrou em campo focado em não cometer os erros que tantos calafrios lhe causaram nos primeiros 45 minutos. Com isso, ganhou segurança defensiva, mas perdeu criatividade. E Ronaldo quase desapareceu do jogo, como na véspera acontecera a Messi. São dezenas e dezenas de jogos nas pernas, no final de uma época desgastante – Cristiano Ronaldo e Messi são os melhores do Mundo mas não são máquinas.

Se o jogo estava mais pausado e calmo, mais lento ainda ficou a partir dos 60 minutos. Sabendo que qualquer erro poderia ser fatal, nenhuma das equipas arriscou. José Mourinho ainda mexeu na equipa, trocando um desinspirado Di María por um desinspirado Kaká. Jupp Heynckes levou os titulares até ao fim do tempo regulamentar.

Foi do Bayern que pertenceu a última oportunidade de golo, aos 86 minutos. Mas Gomez complicou.

Meia-hora de sofrimento - O prolongamento foi um suplício para os jogadores das duas equipas. Raras foram as jogadas com cabeça, tronco e membros, apesar do esforço dos atletas da casa, que foram buscar reservas escondidas e estiveram sempre por cima nessa longa meia-hora, já com Higuaín e Granero em campo. Mas de nada lhes valeu. O Bayern, também desgastado, aguentou o resultado até ao fim.

Nenhuma das duas equipas tinha alguma vez perdido em desempate por grandes penalidades nas provas da UEFA. Mas a fava teria de sair a alguma.

Cristiano Ronaldo e Kaká fizeram Neuer brilhar entre os postes (o guarda-redes alemão defendeu os dois primeiros pontapés) e Sergio Ramos atirou a bola para as nuvens. Do lado do Bayern, Kroos e Lahm também permitiram as defesas de Casillas. Schweinsteigger, estava José Mourinho de joelhos, não falhou o remate decisivo.

O Bayern, pelo que fez nas duas mãos, merece inteiramente disputar a final da Liga dos Campeões no seu estádio, a 6 de maio. Mas será que alguém arrisca uma aposta, perante o desfecho das meias-finais?