Barcelona: primeira Dream Team do Século XXI!

Meu caro, eu sei que vai considerar a minha resposta pouco parcial, uma vez que sou culé; no entanto, devo adiantar que a sua análise também me parece denunciar um certo despeito pelo clube em questão. Preferiria que falássemos, eventualmente, de um Chelsea, de um M. United, de um Bayern, até mesmo do Inominável... Eu não o censuro (se for o caso, repito) por não gostar do Barça. Tem esse direito e, agora que começámos a ser outra vez um clube verdadeiramente ganhador, é natural que cresçam adversários. Embirrações sempre as houve – inclusivamente, como sabe muito bem, relativamente ao seu Benfica... Adiante. Eu não sou lá muito adepto de invocar as arbitragens ou as teorias de conspiração (que têm sempre a vantagem de não carecerem de prova). Por duas razões. A primeira é que se, ao longo da História do futebol, houve um clube que foi sistemática e deliberadamente lixado, esse clube foi o FC Barcelona. Só o caso Guruceta (o mais famoso, mas não o mais escandaloso) faz-me ter pena dos episódios dos Calabotes, dos Calheiros ou da fruta. Mas estar a falar do assunto é uma espécie de masoquismo, e já basta uma terça parte dos adeptos de um certo clube português que passam a vida a vitimizarem-se por causa de supostos erros arbitrais... Mas eu não gosto de enveredar por esse caminho porque ele é justamente uma faca de dois gumes. Afiados. Porque, tal como os postes, a arbitragem faz parte do jogo. Você fala-me do jogo Chelsea-Barcelona da 2.ª mão das meias-finais da Champions do ano passado. Deixe-me eu falar-lhe primeiro da 1.ª mão. É que uma eliminatória tem dois jogos! E, nesse primeiro jogo, também houve uma rasteira ao Henry na área do Chelsea! Uma rasteira, aqui e na China, é sancionada com uma falta. No jogo da 2.ª mão, você está provavelmente a falar das mãos dos defesas do Barça na respectiva área. Tudo leva a crer que não são intencionais, talvez – repito: talvez – com a excepção da de Piqué. Quanto ao resto, é verdade que foi apontado um livre contra o Barcelona decorrente de uma falta cometida já dentro da área, mas ocorre-lhe porventura que o Barça ficou a jogar com 10 a partir de metade da 2.ª parte, num lance em que nem sequer houve falta? E, avivando-lhe um pouco a memória, lembra-se de um golo marcado em Stamford Bridge (o 4-2 a favor do Chelsea), em 2005, justamente contra o Barça, em que Ricardo Carvalho entrou de forma zoológica sobre Valdés? Eu lembro-me. E ninguém protestou. Como ninguém se deu ao trabalho de examinar o que foi a final de 2006, com erros absurdos da arbitragem, a começar pela própria expulsão de Lehman, não validando o golo do Barcelona. Como ninguém fala que, até no Sábado passado, Ramos e Alonso deviam ter sido expulsos e, para variar, se mantiveram em campo. Como ninguém explica porque é que o Barça, no campeonato espanhol, é a equipa que menos faltas comete e uma das que mais amarelos tem. Mas, essencialmente, ninguém fala das oportunidades que o Chelsea não teve nesse jogo e que a forma de fechar os espaços ao adversário é, em grande parte, uma outra forma de anti-jogo. O que o Barcelona está a fazer agora não é resultado da acção de Guardiola ou de Laporta. Vem de trás. De uma política de clube baseada no trabalho e num modelo consistente. As coisas não surgiram por acaso. Nos títulos, com certeza que, num ou noutro momento, a sorte ajudou. Mas foi a excepção – não a regra. A irmos por aí, então recordo-lhe o seu Benfica: desde o ano passado, ganhou dois títulos. Na primeira Taça da Liga, inventou-se um penalti e, depois, insistiu-se no erro; este ano, a equipa foi à final com ajuda – muita ajuda – arbitral. Isso tira mérito à equipa? A meu ver, não tira – porque não resumo uma carreira, uma temporada ou um simples jogo a um único lance. O maior iletrado pode escrever um belo verso, mas isso não faz dele um poeta. E o contrário também é verdade. Cumprimentos sinceros.