Mantorras tinha 20 anos quando sofreu a primeira grave lesão no joelho direito. Ainda conseguiu recuperar e voltar a ser útil ao Benfica. Quem não se lembra do seu contributo para o título de campeão nacional conquistado pelas águias em 2004/05, sob o comando do treinador Giovanni Trapattoni? Nessa época o angolano foi decisivo com golos marcados nos últimos minutos de alguns jogos. Alinhou apenas 357 minutos, mas facturou por cinco vezes, ou seja, a cada 71 minutos.

Pedro Mantorras iniciou a sua carreira de jogador profissional em Angola, no Progresso do Sambizanga e o seu talento rapidamente chamou a atenção de alguns clubes. Chegou a estagiar no Barcelona, e só não ficou em Camp Nou porque existia lugar para apenas mais um extra comunitário. E o escolhido foi o nigeriano Babangida.

Em 1999 treinou à experiência na Académica, mas acabaria por ir para o Alverca, na altura presidido por Luís Filipe Vieira. E os dois logo estabeleceram uma relação de enorme cumplicidade, praticamente de pai e filho.

Esteve um ano e meio no Alverca e rapidamente se percebeu estarmos na presença de um potencial fora-de-série, que bem trabalhado se poderia transformar num dos melhores do mundo. Somou exibições de encantar, embora sem marcar muitos golos - 10 em 31 jogos na Liga portuguesa, ainda assim uma marca bem interessante para um jovem de 18/19 anos e numa equipa sem grandes pretensões.

A aventura no Benfica

Entretanto, Luís Filipe Vieira passou a ser o presidente da SAD do Benfica e não desperdiçou a hipótese de contratar Mantorras, na pré-temporada de 2001/02. O angolano teve entrada fulgurante no clube e estreou-se no campeonato com uma exibição de sonho, no terreno do Varzim. Ainda assim, nem tudo é perfeito para o seu lado: o Benfica empata e a duas bolas e Mantorras sofre uma marcação impiedosa dos adversários.

Após esse encontro na Póvoa, Luís Filipe Vieira proferiu uma das frases mais famosas da história do futebol português: "Deixem jogar o Mantorras!" Algumas semanas mais tarde, o dirigente surpreendeu quando disse que o avançado angolano valia 18 milhões de contos [90 milhões de euros], valor até aos dias de hoje apenas pago por um jogador: Cristiano Ronaldo.

Na jornada seguinte estreia-se na Luz para o campeonato com mais um excelente jogo, mas os primeiros golos aconteceram na ronda seguinte, igualmente em casa. E foram logo três, no triunfo (3-2) diante do Vitória de Setúbal. Termina essa temporada com 13 golos em 30 partidas da Liga portuguesa e como o grande ídolo dos adeptos.

Ninguém poderia prever o que iria acontecer na temporada seguinte. Lesiona-se com gravidade e e já só cumpre oito jogos no campeonato, com três golos marcados. Nunca mais voltaria a ser o mesmo e passa a ser utilizado com pouca frequência.

A excelente relação com o presidente e o facto de ser o menino-bonito dos adeptos levam a que continue no plantel, apesar das suas visíveis limitações e de todos terem a noção que não poderia fazer alta competição.

Mantorras fez entrar no dia 19 de Fevereiro uma participação a reclamar pensão vitalícia por "incapacidade para o trabalho individual". E Luís Filipe Vieira já anunciou o final de carreira do seu "filho adoptivo". O presidente do Benfica quase foi às lágrimas.

"Este é o momento em que o Pedro [Mantorras] decidiu que chegou o tempo de parar de lutar contra o sofrimento, contra as dores e contra as limitações físicas que o impediram de ser o que ele merecia e podia ter sido: uma referência mundial do futebol. Mas ele nunca abandonará o Benfica", referiu, durante o almoço de inauguração da Casa do Benfica do Seixal.

Resta saber qual será o cargo que Pedro Mantorras vai ocupar no Benfica. Uma coisa é certa: continuará a ser o menino bonito do terceiro anel.