Acaso ou talvez não?

A lei actual estava correcta?

não sou o teu menino. provavelmente o teu menino já não estaria cá, mas sim num balde do lixo de um qualquer obstreta.

A questão, Catota, não é que os homens possam ter ou não "opinião" sobre o aborto. Se fosse uma questão de opinião acho que não haveria nenhum homem ou mulher que fosse a favor do aborto. Como também não há ninguém que não seja contra a fome no mundo ou que não seja favorável ao direito de todos à habitação. É que falar em princípios gerais é muito fácil. Se o aborto fosse um problema de diálogo entre o casal para decidir se se deve ou não ter um filho, seria tudo muito mais fácil. Deixemo-nos de ser hipócritas, Catota: os casais como o teu ou o meu que podem permitir-se ponderar e discutir se se deve ou não ter "este" filho são os de uma classe média que das duas uma: ou decide tê-lo ou então vão os dois passar um fim de semana a Badajoz. O problema para eles está sempre resolvido. Quem vai fazer o aborto no vão de escada é gente em situação económica, psicológica e moral miserável. Se não houvesse a hipocrisia ambiente que por aí impera, a pergunta que devria ser feita no referendo sobre o aborto era: "Perante a evidência de que o aborto se faz e vai continuar a ser feito, concorda que toda a gente que decide fazer um aborto deve ter acesso a boas condições sanitárias para o fazer ou acha que só as pessoas com poder económico devem ter acesso a meios adequados?" Quando digo que a questão do aborto é essencialmente uma questão que cabe à mulher decidir é porque tenho dificuldade em aceitar que um homem tenha o direito deimpor a uma mulher que esta, contra a sua vontade, carregue com um filho durante nove meses e seja obrigada a ir pari-lo a um hospital só porque ele, enquanto homem, tem o direito de ser pai. Os direitos, quanto a mim, não são iguais neste caso. A mulher deve ter, quanto a mim, um poder de decisão muito mais vasto que o do homem. Ou então que me expliquem uma coisa: Se na gestação e desenvolvimento do feto existe uma igualdade de responsabilidades no casal e uma igualdade de direitos do homem e da mulher em relação ao feto, por que razão a legislação, mesmo a que vai ser adoptada, prevê que, em caso de aborto praticado a partir das 10 semanas, a mulher seja castigada com uma pena de 1 a 3 anos de cadeia. Então e o homem? Já não tem igualdade de deveres e ir também bater com eles lá dentro?

Por dois motivos Astória: -Em primeiro lugar, não sei se reparaste, mas os número de brancos nem sequer foi divulgado pela comunicação social, ao contrário de umas eleições normais. -Depois porque considero que num referendo um voto em branco não é tão expressivo como numas eleições, pois na segunda hipótese normalmente este tipo de voto revela descontentamento com qualquer uma das hipóteses sugeridas. No meu caso não fui votar porque estava altamente indeciso, e acho que devemos todos ter o acto cívico de participar no futuro deste país, mas num referendo onde as resposta é só sim ou não, considero uma abstenção como indecisão também. Os meus motivos de indecisão são simples: Via muitos prós e contras dos dois lados. Não ligando à chachada do ser vivo logo após a concepção do lado do Não, ou ao voto do "progresso" do lado do Sim (muitas vezes progresso positivo não quer dizer mudar leis conservadoras, embora neste caso o fosse provavelemnte), a verdade é que não estou a ver como o País vai suportar mais um custo destes. Mas isso é uma discussão para outro lado, e também não é justificação a 100%. No meu caso se me decidisse por alguma solução seria muito provavelmente o Sim. Como nota gostaria de realçar as campanhas ridículas que alguns dos movimentos fizeram, dando estatísticas consoante lhes convinha relacionando-as ridiculamente com o aborto, ligando factos completamente alheios como consequência deste acto. Tenho aqui um panfleto do Não, por exemplo, que vou guardar como recordação, pois a quantidade de asneiras que metem aqui dentro é tão grande, que acho que isto só fez propaganda em favor do Sim. E existem muitos por aí onde acontece o contrário. Enfim, o País decidiu, e a meu ver bem. Gostava era que visse tanto empenho noutras questão igualmente ou mais importantes que isto em problemas do nosso País.