Os contrastes das duas metades do Campeonato

A linguagem fria dos números ajuda-nos a encontrar explicações muitas vezes inexplicáveis. Nesse sentido, fomos observar o rendimento pontual dos 3 Grandes na primeira metade deste Campeonato 14/15. Posteriormente, e de igual forma, fomos atentar esse mesmo rendimento, ou desperdício de pontos, nesta segunda metade do Campeonato (até ao momento, jornada 31). Naturalmente ambas as metades são equitativas, compreendem 5 meses de competição. Neste exercício, fomos também identificar variáveis várias, como competições europeias, ou perda de jogadores nucleares, sobretudo na primeira metade desta época desportiva.

Bom, o Benfica, fez uma 1.ª volta notável. Registou nessa primeira metade 46 pontos, e apenas desperdiçou 5 pontos. Pese embora ter perdido nessa fase alguns nucleares, Oblak, Garay, Siqueira, Markovic, Rodrigo, Gomes, Cardozo, Fejsa e Amorim (estes dois por lesão), isto é, o Benfica 14/15 perdeu cerca de 9 unidades, perante a demolição do Benfica 13/14 e os excelentes registos pontuais nessa primeira metade do Campeonato, tal indicia uma reconstrução a todos os títulos notável, e num período em que as equipas de Jesus revelam habitualmente fragilidades, mormente no 1.º terço dos 5 anteriores Campeonatos. Em contraste, o Benfica cumpria uma penosa participação europeia, a pior neste legado de Jorge Jesus. Naturalmente a Champions provocou o inevitável desgaste, que nem se fez sentir internamente. Todavia, nesse período, em cerca de 5/6 jornadas internas venceram-nas com dificuldades (Boavista, Estoril, Rio Ave, Nacional ou Gil Vicente), verdades essas que a imprensa escrita/falada não mascarou. Por exemplo, se todos nos recordarmos como o Benfica venceu ao então "lanterna vermelha" Gil Vicente na Luz na Jornada 14, está aí um belo exemplo dessas latentes dificuldades nessa primeira fase da época.

O Sporting, se perdeu Rojo, um nuclear no eixo defensivo, acrescentou a qualidade de Nani, e manteve a sua estrutura nuclear, retocada com um novo treinador de qualidade, e da nova geração. Nesta primeira metade, de registar a vitória do Sporting no Dragão para a Taça de Portugal, assim como uma razoável participação na Fase de Grupos da Champions – aliás, só um erro grosseiro de um árbitro de baliza impediu o Sporting de alcançar os oitavos de final, vindo a cair na Liga Europa. Os leões, nesta primeira metade da temporada, registaram 36 pontos, e desperdiçaram 15 pontos em 17 jornadas, a grande maioria desses pontos perdidos com empates estéreis (muitos deles caseiros: Moreirense, Paços, Belenenses).

Finalmente o FC Porto arrancou mais cedo, fruto do play off da Champions, que superou com distinção. Mudou de timoneiro, reforçou-se muito e bem, e apenas perdeu 2 nucleares da temporada anterior, Mangala e Fernando. Com tantos e bons reforços, e porque transitava de uma temporada penosa, as expetativas no Dragão eram elevadas. Se a entrada de dezena e meia de reforços indiciava que o tempo seria precioso, Lopetegui precocemente adotou a rotatividade, sem ter ainda uma equipa rotinada nos seus processos. Essa desajustada rotatividade provocou a perda inusitada de pontos (Sporting na Taça de Portugal, Boavista ou Estoril). Em contraste, nessa primeira metade da temporada, se o FC Porto foi o último clube português a assentar na Champions, foi o clube português com melhor rendimento na fase de grupos. Internamente, os Dragões em 17 Jornadas acumularam 40 pontos e desperdiçaram 11 pontos nessa fase inicial.

Bom, feito o balanço da primeira metade do Campeonato, transitando para o ano civil de 2015, e decorridas 14 Jornadas, fomos novamente observar o rendimento pontual dos 3 Grandes, mas já na metade complementar da temporada.

O líder Benfica, sem o desgaste das provas europeias e sem Taça de Portugal desde dezembro, juntou 32 pontos em 14 Jornadas e desperdiçou 10 pontos. Recordo que na primeira metade da época, com uma equipa totalmente nova, num período em que habitualmente as equipas de Jesus estão em sub-rendimento, com competições europeias pelo meio, os encarnados desperdiçaram apenas 5 pontos (nesta fase, em 14 Jornadas desperdiçaram o dobro dos pontos da 1.ª volta). Isto é, de forma incompreensível ou não, o Benfica sem o desgaste físico/anímico da Europa, com processos consolidados, perde o dobro dos pontos desperdiçados na primeira metade da temporada. Convenhamos, não se torna fácil diagnosticar este verdadeiro enigma!

O Sporting nesta segunda metade caiu na Liga Europa, foi eliminado pelo Wolsburgo, todavia acrescentou mais jogos com eliminatórias na Taça de Portugal, mormente a meia-final com o Nacional.  Todavia, o rendimento pontual do Sporting melhorou nestas 14 Jornadas da 2.ª volta, realizou 33 pontos, e desperdiçou 9 pontos (na primeira metade do Campeonato perdeu 15 pontos).

Finalmente, o FC Porto nesta segunda volta continuou a palmilhar a Europa, e com uma excelente Champions, superou com distinção os oitavos, e caiu nos quartos de final ante o poderoso Bayern Munique. Isto é, teve nesta fase 4 Jornadas europeias de enorme intensidade e desgaste físico/anímico. E internamente? Bom, no Campeonato os Dragões juntaram 35 pontos em 14 Jornadas, e apenas desperdiçaram 7 pontos até ao momento, menos quatro pontos desperdiçados que na primeira metade da época.

Esmiuçando melhor esta segunda metade, o FC Porto fez 35 pontos, o Sporting realizou 33 pontos, e o Benfica juntou 32 pontos. Isto é, os encarnados, sem qualquer compromisso para além do Campeonato, fizeram uma segunda metade em sub-rendimento, em contraste com a notável primeira metade da prova. Contudo, nessa primeira fase da temporada sem processos assimilados (saídas de 8/9 titulares da temporada passada), mas também com o desgaste provocado pelas Jornadas Europeias!

Bom, provavelmente, Jesus, qual druida, começa a acumular e a ganhar poderes divinos inimagináveis nesta notável reconstrução. Será que o verdadeiro milagre deste sucesso desportivo dos encarnados estará em saber esconder o segredo? Não, não falamos em arbitragens nesta analise comparativa em momento algum, apenas foi exposta a linguagem fria dos números, e o factual!