O poder local e o futebol

Durante décadas o poder local e o futebol andaram de mãos dadas. Até foram construídos 10 estádios novos para o Euro 2004, apresentando, agora, muitos deles, fraca rentabilidade e um prejuízo de milhões às autarquias. Mas afinal, qual deve a relação estabelecida entre estas duas áreas?

Sempre defendi, e ainda o hoje o faço, que os clubes de futebol prestam um importante serviço de utilidade pública à comunidade, na ocupação e formação desportiva de jovens, fazendo em certa medida um papel que as Câmaras Municipais não têm capacidade. Isto não quer, todavia, dizer que os clubes devam ser beneficiados com regime de exclusividade quando da utilização de espaços públicos como pavilhões e estádios. Porque o dinheiro foi pago pelos contribuintes, ou seja, por todos, e a utilização é muitas vezes privada (clubes) tirando daí a sua rentabilidade.

Em Braga, a Câmara Municipal ainda hoje paga a construção de uma obra de arte arquitetónica como o "Estádio Axa". Um esforço coletivo, mas cuja utilização é privada - Sporting de Braga. Qualquer outro munícipe terá de procurar outro local para praticar desporto, pois os direitos estão reservados a um clube privado que "vendeu" o nome do estádio para daí tirar dividendos, ainda que o investimento, ou pelo menos parte dele, tenha sido público.

Em Leiria e Aveiro o caso dos novos estádios é ainda mais grave, tendo o primeiro sido, até, colocado à venda. No Algarve, o "elefante branco" serviu nos últimos anos para a disputa de finais de Taça da Liga, um ou outro concerto, e uma edição de rally. Muito pouco para o investimento feito e os custos mensais que acarreta.

Quando vão as Câmaras Municipais apoiar só os clubes que investem na formação, deixando os seniores encontrar o seu próprio espaço, com investimentos e receitas próprias? Se não tiverem condições, como acontece nos distritais, mais vale apostar só na formação do que andar a viver à custa do erário público através de subsídios e utilizações abusivas de campos que são de todos, pois foram pagos por todos.

E os leitores do Relvado, o que pensam?