Impôr limites ao mercado?

Como era facilmente previsível, o record de 4,8 milhõs de contos estabelecidos na transferência de Ronaldo para o Inter foi pulverizado no espaço de poucas semanas, agora no suplantar do valor da contratação de Figo já poucos acreditavam. por alturas de 1997 e sempre com jogadores brasileiros e com clubes espanhóis directamente envolvidos nas respectivas operações. O que revelava, desde logo, duas realidades insofismáveis: por um lado, a alucinante cotação que os melhores futebolistas do grande país irmão atingiram no mercado ( nenhuma outra indústria brasileira deve proporcionar maior entrada de divisas ) e, por outro, a consistente capacidade financeira do futebol dos nossos vizinhos ibéricos. Falta saber agora, depois de contratações como as de Figo, Zinedine Zidane, Batistuta, Anelka, Ronaldinho Gaúcho, Vieri, Verón, tec. até onde vai continuar a escalada e se a taxa de progressão ( em 1997 Rivaldo/Barcelona, 5,5 milhões; Denilson/Bétis, 6,1 milhões até aos loucos 16, 5 milões de contos ) irá prosseguir a este ritmo louco, aparentemente destituído de qualquer lógica. Se na bolsa de valores é muitas vezes difícil prever, controlar e explicar a subida disparada do preço dos títulos, então, no mercado dos futebolistas, por força da componente especulativa e, sobretudo, subjectiva que o caracteriza ( agravada pela enorme pressão da interminável fauna de pocuradores e empresários que fomentam os negócos e cujas escandalosas comissões ascendem não raras vezes a dezenas e centenas de milhares de contos ), essa espiral inflacionista é ainda muito mais imprevisível, incontrolável e inexplicável.
A ida de Ronaldo pra o Inter de Mião suscitou, se bem me recordo, dois tipos de reacção: de aplauso e reprovação. Para os que a reprovaram não estava em causa o mério do goleador mas só e apenas o custo económico da transacção. Entre os que a condenaram estão dois "boss" do capitalismo itálico, Silvio Berlusconi e Giovanni Agnelli, um magnata da comunicação e um capitão da indústria. Dizia o primeiro, usando palavras com sabor a demagogia ou, pior ainda, a hipocrisia e a perfídia: >. Como se, na presidência do Milan, tenha sido um exemplo de parcimónia e moderação. Basta recordar o quanto custou Gianluigi Lentini no Verão de 1992 ( 2,1 milhões de contos na versão do clube versus 3,8 milhões da inspecção fiscal ), Shevechenko, cujo custo em 1999 foi de 5,5 milhões de contos ou qual o valor dispendido nas transacções, nesta última semana de Rui Costa desde Fiorenza, que ronda os 8 milhões de contos e de Filippo Inzaghi, cujo custo foi de cerca de 7 milhões de contos. Já o segundo mais pragmático, que cultivava o gosto das metáforas ( >, dizia ele na altura ), centrava a sua crítica na vertente financeira, ou seja, na do retorno do investimento e, nesta prespectiva, o Inter não teria feito um bom negócio.
Ao que tudo leva a crer, ambos se equivocaram redondamente porque, contas na mão, Massimo Moratti fez um negócio da China. Agora, é certo que os resultados desportivos ficaram aquém do esperado... devido às diversas lesões do artista brasileiro.
Tal como actualmente o Florentino Perez fez e irá fazer, respectivamente, com Luís Figo e Zinedine Zidane e muito provavelmente com Mendieta ( a cláusula de rescisão com o Valência, está avaliada em 12 milhões de contos ). Vejamos porquê, recorrendo à sintese eloquente dos números e das rúbricas que compõem os totais de despesas e receitas:

DESPESAS

Custo do passe;
preço do jogador;
salários;
prémios de jogos e
outros benefícios.

RECEITAS

aumentos dos cachet´s de:
- lugares cativos;
- de assitência no estádio;
- aumento de sponsors;
- direitos de Tv;
- jogos amigáveis;
- actividade editorial;
- merchandising e
- direitos de exploração de imagem dos atletas.

Como é lógico isto é possível no Real Madrid devido à imensa massa anónima de adeptos que o clube blanco tem em Espanha e no Mundo, principalmente na América latina. Os dirigentes madrilenos terão, certamente, muitas razões para sorrir quando analisam a contabilidade.
Se isto não é um negócio da China ( e com bons resultados desportivos, como se constatou pelo título alcançado na melhor Liga do futebol mundial ) ou uma árvore das patacas ou um poço de petróleo ou um filão aurífero, então não sei o que é.