Boavista: que dispensados?

O Boavista que tanto aspira a ser considerado o "Quarto Grande" do futebol português está a desenvolver acções pouco consentâneas com a estratégia empreendida ainda sob a égide do pai Valentim e continuada pelo filho João (os Loureiro).

A estratégia tem sido alicerçada sob os seguintes eixos:
1.Crescimento das infra-estruturas do clube do Bessa, nomeadamente do seu parque desportivo e dos planos organizativo e logistico.
2.Desenvolvimento de um ecletismo de modalidades de que a face mais visível tem sido o ciclismo.
3.Estabilidade nos corpos técnico e directivo do futebol como forma de rendibilizar os activos decorrentes dos escalões de formação e da politica de prospecção em pequenos clubes.
4.Manutenção da espinha dorsal da equipa de futebol, vendendo um activo por ano de modo a equilibrar as contas da Sad.
5.Estabelecimento de um modelo de jogo adequado ao valor e nível técnico da equipa de forma a potenciar a luta por títulos a nível interno e a presenças europeias de boa prestação.
6.Combater a grandeza dos 3, através de postos importantes nas instancias do futebol (Liga, Federação, arbitragem, esfera politica- ex-ministro desporto, presidente câmara do Porto).
7.Expandir a massa adepta do clube.

No último ano e meio o Boavista, talvez fruto do seu aumento orçamental - fruto da conquista do título e de presenças mais assíduas na Liga dos Campeões alterou em algumas das vertentes as linhas politicas traçadas.

O crescente endividamento, fruto do investimento no novo Bessa, aumentou a pressão de gerar receitas extraordinárias, as quais a curto prazo só poderiam derivar de venda de jogadores ou da participação na Liga dos Campeões.
Como já referi noutro comentário, as vendas de jogadores do Boavista passaram a ter apenas como destino possível o estrangeiro ou a Luz, já que tanto Sporting como FC Porto, se mostraram indisponíveis no último ano e meio a comprar no Bessa, preferindo a atractividade dos seus nomes em jogadores em fim de contrato (Rui Bento e Pedro Emanuel). Por outro lado, o mercado estrangeiro que tinha permitido nos últimos 2 anos vender Litos (Málaga em 2000) e outro jogador brasileiro para o Cordova em 2001, mostrou-se fechado em 2002, o que levou o Boavista a vender Petit ao Benfica por um valor irrisório, mesmo mantendo 50% do passe. Face a essa realidade fala-se na necessidade de vender Ricardo também ao Benfica já em Dezembro.
Ou seja o ponto 4 atrás referido é claramente posto em causa pela saída de 3 jogadores chaves na espinha dorsal boavisteira (P.Emanuel, Petit e Ricardo).

No entanto é muito estranho que os dirigentes do Boavista não tenham pensado que o equilibrio também de faz com a diminuição das despesas. Contra esse sentido vai:
-Uma política enraizada no Bessa, como o estava noutros clubes (FC Porto, Sporting e Benfica) que é a de ter mais de 25 jogadores emprestados a inumeros clubes.
-A aquisição de jogadores caros - Luiz Claudio - ou médiamente caros - Fréchaut, Mário Loja - e de uma quantidade anormal de jogadores brasileiros - Silva, Duda, L.Claudio, Goulart, Erivan, Turra, Eder, Ávalos(escola brasileira), Jocivalter, Serginho - em detrimento da prospecção nas divisões secundárias e escolas boavisteiras (de que Martelinho é exemplo).
Estes aspectos vieram pôr em causa os pontos 3 e 5 , colocando assim em causa o modelo de jogo e o equilibrio financeiro

Também a presença boavisteira nos bastidores do poder foi feita de forma pouco discreta, o que levou FC Porto e Sporting a alinharem contra a mesma e o Benfica a posicionar-se como aliado. Hoje não é mais possível consensos e todas as vitórias boavisteiras nos bastidores serão contra alguém que lhe dará luta sem tréguas, equilibrando os resultados - nomeadamente na arbitragem - pela incerteza quanto ao vencedor. Um caso típico disso é a forma como Valentim Loureiro tenta "impôr" Manuel José como seleccionador tornando Gilberto Madaíl num elemento de maior fragilidade política da muita que já teria. Também o ponto 6. aparece com alguma inconsequência fruto da falta de "savoir faire".

De tudo o que foi dito é lógico que poderá resultar o pôr em causa da expansão do clube em termos de resultados, logo de adeptos e de assistencias ao novo estádio (sub-utilizando as infra estruturas erguidas).

Por exemplo, a redução de assistência pelo elevado custo dos bilhetes para os adeptos da equipa contrária (caso Sporting) é altamente contra-producente já que os lugares vagos não são ocupados pelos adeptos boavisteiros em nº insuficiente. Por outro lado, mais do que evitar o apoio á equipa contrária é importante sim manter uma equipa sólida (com 1 venda por ano /máximo) e com um padrão de jogo eficaz. Isso poderá trazer resultados palpáveis.

O Boavista com o seu crescimento e presença europeia aspirou por outro lado a um novo padrão de jogo que fosse mais bonito e menos faltoso. Tenho escrito inumeras vezes que não gosto de ver o Boavista a jogar - embora compreenda o seu jogo - e que a vitória desse tipo de jogo poderá destruír o futebol espectáculo em Portugal, mas penso que o Boavista - o seu técnico - viu mal o problema da mudança. É possível manter a concentração e por vezes o anti-jogo no seu quadrado mágico constituído pelos 2 trincos e 2 centrais tendo aí jogadores de elevada concentração, mobilidade e dureza (apanágios mais de jogadores portugueses ou de brasileiros excepcionais) e o Boavista teve-os ou tem-nos em Litos, Pedro Emanuel, Petit, Rui Bento,Jorge Silva ou Mário Loja, e procurar uma equipa do meio campo ofensivo para a frente que conjugue o futebol apoiado em progressão mas rápido (Sanchez e outros jogadores de qualidade) com o contra-ataque puro (Martelinho). Era mais importante para o Boavista pensar na substituição de Sanchez e de Jorge Couto por jogadores do mesmo futebol mas mais rápidos que apostar numa invasão de brasileiros.

Qual é a mais-valia em relação a Martelinho ou Fréchaut de jogadores como Serginho, Cafu, Duda? Qual é a mais-valia de um jogador como Luiz Claudio? Ou de um Paulo Turra em relação a um Mário Loja por exemplo?
   
Pacheco pensou que abrasileirando a equipa lhe dava mais classe, mas não deu apenas lhe tirou agressividade, rapidez e concentração. Depois de destruír a espinha da equipa (Ricardo, P.Emanuel, Petit, falta apenas vender Silva) será dificil voltar rapidamente á versão primitiva com resultados até porque várias equipas de jogadores médios adoptaram o estilo Boavista depois de 2001!