Paralímpicos

A vergonhosa opinião de Eugénio Queirós jornalista do jornal Record, no seu blog BOLA NA ÁREA: PARA QUÊ? De 4 em 4 anos, a seguir aos Jogos Olímpicos, lá vem a história dos Paralímpicos. O pessoal com "handicap" (físico ou mental) aproveita as instalações desportivas olímpicas e vai também à caça à medalha. O Mundo considera isto um acontecimento! Mas não é. Quando muito é uma boa ideia que sobretudo serve de motivação a quem nasceu e cresceu com problemas. De aí até fazer dos Jogos Paralímpicos um acontecimento, com páginas de jornal, vai uma grande distância. A não ser pelo bizarro da coisa... Só consigo encontrar uma explicação para isto: os "eficientes" justificam a sua geral indiferença pelos "outros" com este tipo de paternalismo. A treta do costume. O desporto de alta competição nada tem a ver com esta espécie de ATL com cães-guias, próteses da Puma e jogos de salão... PS - Presente em Pequim, Laurentino Dias considerou a conquista de uma medalha de ouro em Boccia (?????????) "o momento mais bonito do meu mandato". Ok, já sabíamos que não está a ser um grande mandato - o que não sabíamos é que ia assim tão mal...

Chamem-me o que quiserem, mas não dou muito crédito aos Jogos Paralímpicos. Ainda bem que há alguma coisa em que somos bons, ainda bem que há portugueses a representar-nos decentemente e a trazer várias medalhas para casa. Mas é o próprio conceito dos jogos com o qual não concordo, ainda para mais quando são logo a seguir aos Jogos Olímpicos. Acaba por ser segregador... É como o concurso Eurovisão da Canção para crianças ou como fazer uma Liga de Futebol só para diabéticos. Nunca conseguirão fugir ao estigma de eventos secundários...

A mentalidade portuguesa é uma merda! As pessoas têm vergonha dos cidadãos com deficiência e não sabem na maior parte das vezes, como encarar a situação. É algo que estou certo vamos mudar com o tempo, mas ainda existem muitos preconceitos. Alguém tem um familiar portador de uma deficiência? Eu tenho; o meu filho. Mas como tenho outro, que aparentemente é normal, devo dizer que um é mais eficiente que outro? Se calhar aqui, já encontrei o primeiro preconceito, é que eu tenho a certeza que existem pessoas com deficiêncais motoras ou intelectuais, que são seguramente muito mais eficientes que muitas pessoas ditas normais. E aposto que vocês não fazem a mais pequena ideia, das dificuldades porque passam a maior parte dos ditos deficientes em Portugal. E mesmo que tenham essa ideia, ela não está sempre presente no vosso subconsciente. É que não é preciso sequer verificar os mínimos paralímpicos, para ver que estamos perante verdadeiros vencedores. Será que nós conseguíamos fazer 11 segundos aos 100 mts? Agora imaginem sem uma perna, ou um braço... Mas como eu dizia, nem é necessário fazer os mínimos para se ser um vencedor, basta ver as barreiras que existem na nossa sociedade. Basta ver que um cidadão portador de uma deficiência é excluído da sociedade, logo no início, ainda antes de entrar para a escola. Alguém já viu uma criança dita normal, a brincar com uma dita deficiente? Eles até podem estar todos na mesma escola, mas se faltar uma educadora, mais vale nem sequer trazer o miúdo à escola, porque não há ninguém para tomar conta dele... Integração social?... O que é isso?! Integração social é colocar um miúdo numa escola para crianças ditas normais, sem o necessário apoio? É colocar os putos na cadeirinha, a olhar para a parede, enquanto a única educadora de apoio escolar presente, se encontra noutra sala, pois tem meia dúzia de miudos para tomar conta ao mesmo tempo? E o que dizer dos cuidados de saúde ou reabilitação? É numa hora por semana, que o meu filho vai corrigir os erros, cometidos por um médico na altura do parto? E por falar em negligência médica... bem é melhor nem falar nisso, porque era assunto para mais 3 páginas. Alguém já viu um médico assumir um erro? "Olhe desculpe lá, fui eu que lixei a vida ao seu filho..." O mais próximo que encontrei foi, dizerem-me que o meu filho não tem quase nada. O quase para ele é muito, não o deixa andar, falar, ser autónomo, etc... Apesar de não ser crente, até agradeço a oportunidade que me foi dada, de ter o filho que tenho. Considero que os pais e avós dele, são pessoas evoluídas e têm condições de estar à altura do desafio e lhe proporcionar as condições para um dia ser um vencedor. Posso-vos garantir que na maior parte dos casos, ainda não é assim. É uma situação difícil e os apoios são escassos ou inexistentes, mas os putos não têm culpa disso! Havia muito mais para dizer, mas apenas quero realçar que a temática dos cidadãos portadores de deficiência, devia entrar pelas nossas casas mais vezes e não apenas de quatro em quatro anos. Não basta falar de médicos que perderam um braço e vão aos jogos paralímpicos. Falem também dos outros, daqueles que não têm apoios e que não conseguem ser autónomos ou levar uma vida normal. Falem disso e mostrem os sítios onde a sociedade os esconde. Falem daquilo que choca, enquanto não falarem nisso, vai continuar a chocar! Mostrem aos outros, para que eles não tenham que ficar especados, quando vêm um deficiente no supermercado ou no restaurante e não saibam como agir. Não escrevi com o nick habitual, porque também não me apetece contar a minha vida pessoal neste fórum. Fiquem apenas com a ideia que não acontece só aos outros...

Pessoalmente não ligo muito a esses jogos, gosto de saber que há pessoas que tentam dar o melhor de si e provar que são capazes de coisas muito boas, mas a verdade é que fazer uns jogos deste género cheira-me a folclore. É como fazer um concurso Miss universo com anãs ou coisas do género. Acho que no dia a dia é que é preciso combater a discriminação e as dificuldades.

Se entendi bem, defendes que só devemos apoiar os atletas paralímpicos porque nos dão mais medalhas do que os restantes. Se for isso, errado. Os atletas dos paralímpicos não precisam de ser lembrados uma semana em cada 4 anos, precisam de ser lembrados SEMPRE. E precisam de ser homenageados pelos exemplos de superação das suas dificuldades, físicas ou mentais. Em certos aspectos, é parecido com o destaque dado à maior parte das modalidades amadoras, alguém sabia em que condições treinavam e como competiam os nossos atletas (excepto os VIP)? E nota negativa também para o Estado, que considera que no desporto adaptado não existem prestações de alta competição. Isso reflecte-se, por exemplo, nas bolsas mensais e nos prémios por medalha. Sem falar nas dificuldades do dia-a-dia, principalmente numa sociedade discriminadora como a portuguesa. Nem os tribunais evitam a discriinação. O aproveitamento político não falha, lá foi o Laurentino a Pequim. E pensei em pôr um poema de Mário Quintana, mas ficava lamechas.