Os falsos moralismos patrióticos

Sempre que há jogos do Porto ou do Sporting costumo dizer que sou dos seus adversários, sejam quem forem, desde pequenino. Em fevereiro fui do Wolfsburgo desde pequenino, na terça-feira serei do Bayern desde o ventre da minha mãe, e se acaso os boches vencerem festejarei essa vitória com quase tanta alegria como celebraria uma vitória do Glorioso.

E sempre, mas sempre, que tal acontece, lá vêm os habituais moralismos patrióticos do tipo “não, estás errado, é Portugal que está a jogar, blá blá blá, o futebol português precisa de pontos (…).”

Mesmo partindo do princípio ativo de que de facto é bom para os nossos clubes que as equipas portuguesas façam muitos pontos nas competições europeias, não estará um adepto no direito de desejar infelicidades desportivas aos seus rivais? Não poderá um adepto assumir que desdenha de um determinado clube na mesma proporção em que ama o clube do seu coração?

Porque no meu entender a paixão pelo futebol mexe com sentimentos primários, naturais a cada adepto, e absolutamente puros e instintivos: o amor e o desdém (considero a palavra “ódio” demasiadamente pesada para o caso, pelo que a omitirei), e no caso dos nossos três grandes, poder-se-á dizer que o adepto ferrenho e apaixonado por Benfica, Sporting ou Porto não consegue evitar desdenhar os clubes rivais, nem sentir-se incomodado com os seus sucessos desportivos.

A nível europeu, que maior prazer pode ter um lagarto do que ver o Benfica levar 7-0 do Celta? Que maiores gargalhadas pode um benfiquista dar depois ver o Sporting ser esmagado com 12-1 pelo Bayern? Que maior alegria primaveril pode ter um portista ao ver o Benfica perder a final da Liga Europa duas vezes consecutivas?!

O futebol não é só paixão… é também desapreço! Por isso, que nos deixem os “Moralistas da Portugalidade Exacerbada” ser anti-aquilo-que-nos-apetecer, desde que isso não prejudique ninguém, e poupem-nos a lições de patriotismo balofo que ninguém pediu.