FC Porto: Alvaro Pereira não vai à Supertaça

Os meus parabéns pela sua análise. Não porque apenas esteja a reconhecer o bom trabalho no FCP, mas porque são este tipo de análises que poderão tornar mais fortes os clubes portugueses.

Se os adeptos de cada clube se preocupassem mais com o que se passa dentro do seu clube e menos a lançar fatwa sobre os adversários, quase sempre por mau perder e ódio, talvez o futebol português estivesse melhor. E ganhavamos todos, mesmo sendo adversários a nível interno.

Cumprimentos pelo artigo.

Caro amigo,

Colocas em cima da mesa a questão que tantas vezes me faço e de forma interminavelmente.
Quantas vezes mais passará o FCP de clube de 2.ª linha europeia para uma super-potência!?!
Questão que há primeira vista é de fácil resposta mas, a meu entender, passa para além da derme. Sob a derme, isto é, sob uma visão mais superficial podemos dizer em grosso modo que o problema passa pelos milhões de outras andanças, outras ligas. Mas, para aqueles que são mais distraídos, Falcao acabou por, implicitamente, dar a resposta que não é só isso. Independentemente da cor que cada um de nós alberga, de uma coisa temos a perfeita noção, o Atlético de Madrid não é, sem margem de dúvidas, mais bem sucedido que o FCP, nem Benfica e nem o teu Sporting (que apesar de ultimamente andar arredado do título é indiscutivelmente um candidato «crónico» ao mesmo). O Atlético o que é? Um clube que luta pela Europa ao ritmo que o Nacional ou Marítimo, apesar dos milhões que dispõe. Bravos são os nossos clubes porteguesitos que sem dispor dos milhões vão fazendo cheio lá fora! É o exemplo do Braga...

No FCP, comparativamente a outros clubes europeus, podemos dizer que há dinheiro. Sim, há. Soube recentemente que o FCP propôs ao Vilas Boas o MESMO ORDENADO MILIONÁRIO QUE ELE AUFERE NO CHELSEA!!! 415.000 mensais para que ele fizesse mais uma época. É de loucos, concordo, mas contas feitas é o equivalente a adquirir um jogador a 4.980.000 (5 milhões de euros) e, Vilas-Boas provara que era possível ir bem longe na Champions, a maior fonte de receita dos clubes. Contudo não sortiu efeito tal oferta.

Pensei, também que o problema passava pelos objectivos que a administração se propõe. Sempre a mesma lenga-lenga: ser campeão nacional, vencer a taça e PASSAR A FASE DE GRUPOS DA CHAMPIONS. O que para os grandes jogadores que "acidentalmente" passassem por cá era bastante redutor e pouco atractivo. Mas daí não se descortina também que seja esse o problema pois, nesta última década é o clube que colecciona mais títulos além fronteiras. E os grandes jogadores fogem de cá, Portugal e do meu clube, como o Diabo da Cruz. Servem-se para projectar e depois formam o salto para as «ligas mais atractivas», tal como vociferam...

Infelizmente, o problema vem da epiderme! Na minha perspectiva é um problema organizacional.
Começa logo desde a própria liga de clubes. A Premier League organiza os jogos a 13:00 da tarde e isso não é obra do acaso! Coincidentemente, ou a meu entender não, em termos de fuso horário são 20:00 em Xangai. Estamos a falar de uma República Popular da China que têm cerca de bilião e meio de habitantes dos 6 biliões que existem neste planeta (agora parecia o Futre... :D). Assim constitui uma oportunidade de negócio única. Daí vem as digressões de clubes como o Manchester, Chelsea, Barcelona e Real de Madrid devido a visibilidade. Como isso gera receitas à Federação desses países, estas são repartidas com os clubes das ligas mais visionadas e mais poderosos. Tal como distribuição de dividendos numa empresa. Daí advém o poderio financeiro desses clubes, bem como as digressões que alimentam uma máquina de Marketing forte e virada para a comercialização da imagem, como é o exemplo dos "galácticos", nome meramente de marketing porque desportivamente revelou-se zero. Enquanto os nossos se contentam com as "migalhas" da nossa liga e federação, os outros grandes vão internacionalizando o seu "negócio" e vendem a sua imagem.

A nossa liga não é atractiva e porquê?
Acho que para uma liga ser competitiva tem que passar por vários estágios:
1 - Deixar de "importar" tantos jogadores sul-americanos, habituados a um estilo de jogo pouco atractivo, mais lento e mais macio;
2 - O preço dos bilhetes devem ser mais convidativos. Na Liga Inglesa os bilhetes são colocados à venda tanto no início de época tal como se faz aqui, através de lugares anuais, mas a faltar uma hora para o jogo colocam-nos, os do grande público, ao preço da chuva! e porquê? porque assim é mais fácil realizar meia-dúzia de patacas do que ter os lugares vazios! Aqui prefere-se pintar as cadeiras como está no sporting ou no municipal de leiria! Esses trocos vão permitir pagar certos custos fixos como água ou outros. Aqui coloca-se os bilhetes disponíveis para o jogo A ou B e nunca se altera o preço ao se aproximar a hora do encontro e depois NÃO PODEM SER VENDIDOS COMO MUITAS VEZES A 30 E 40 EUROS. Para muita boa gente, a grande maioria, são 10% do ordenado. Quem o tem, o carcanhol, já comprou um camarote!! E depois correm o risco de ver 90 minutos paupérrimos;
3 - A nossa mentalidade cultural também proporciona à degradação da imagem porque cultivamos a ideia de suspeita em tudo que o clube X ou Y faz. Essa ideia passa para lá fora, e nada abona para a imagem;

Habitualmente dizemos que «o Porto vai abandonar a nossa liga para ir jogar na Espanhola». Tudo porque não há competitividade. Não havendo-a não despoleta interesse e irremediavelmente caí no desinteresse. É o caso holandês (Ou Ajax ou PSV)... Deste modo não vendemos a imagem.

Queria, sincera e honestamente, que a nossa liga se modelasse por cima, tal como foi questionado à um par de anos.

Caso estes pressupostos se verifiquem, acho que despertaria interesse e gerava a tão falada sustentabilidade e atractividade da nossa liga e dos clubes portugueses e assim todos beneficiariam, principalmente o FCP que não via sair porta fora grandes craques como tem tido e que, no fundo são eles que maravilhariam o campeonato. Digam-me que é que lá foram, além fronteiras está interessado de ver o Lima, César Peixoto, Vukcevic ou Belucci (apesar de lhes dar o maior apreço)? Agora Radamel Falcao, Cristiano Ronaldo, entre outros isso sim...

Acho que o FCP, deveria ser levado como exemplo aqui em Portugal. Exemplo de gestão, de liderança e de imagem. Assim sendo, creio que colocariamos o nosso futebol numa outra dimensão beneficiando todos nós.

Um dream-team em Portugal é, na minha modesta opinião, um sonho ou um acaso. Desde a Lei Bosman que os salários dos jogadores passaram a ser fulcrais na gestão dos clubes e dos seus passes. Daí que em Portugal existem poucas chances para termos clubes a competir com as massas salariais de clubes poderosos, em termos financeiros, como os ingleses, os italianos, os espanhóis, franceses e até os alemães.

É claro que podemos sonhar e até termos a sorte, qualquer clube, de criar um dream-team numa época, mas devido à incapacidade de assumir encargos salariais elevados, que são um risco, logo os nossos clubes perderiam os craques. Veja-se o que está a acontecer ao FC Porto. Como não pode pagar salários demasiado elevados, também as suas clausulas de rescisão são mais baixas. O que torna muito difícil planear uma época, já que tubarões financeiros podem chegar a Portugal e levar um ou dois jogadores, destruindo uma planificação cuidada.

Aliás, parece-me evidente que o sr. Pinto da Costa tentou fazer este ano o que foi feito após a vitória da UEFA, tentando a Liga dos Campeões. Mas para manter os jogadores mais fortes, o FC Porto teria que subir a massa salarial de tal forma, que estoirava com um orçamento ao nível das suas capacidades. Não o podendo, qualquer Atlético de Madrid, Chelsea ou até mesmo um Lyon podem levar um jogador chave, sem dar muito cavaco ás tropas. Foi o que sucedeu e mesmo o FC Porto tendo comprado alguns jogadores, já a pensar na eventualidade de saídas, gerou alguma instabilidade. É ver como para Mónaco foi deixado de fora o pretendido Alvaro Pereira.

Em Portugal não existe capacidade financeira para termos equipas financeiramente poderosas, que criem um dream-team, na minha modesta opinião. Só mesmo um acaso tal pode acontecer. O FC Porto foi elogiado por esse mundo fora o ano passado e os grandes jogadores são logo assediados.

Portugal está a passar uma crise, o poder de compra por habitante é baixo, as receitas de publicidade televisivas estão em crise (só geram cerca de 350 milhões de euros, o que mostra o quão pequeno é o nosso mercado) e até existe uma grave crise de liquidez no país. Logo, sonharmos com um dream-team é apenas um sonho ou um suicídio. Aliás, penso, é esta forte competição entre os três grandes que levou à ruína o Sporting (que agora tenta remediar os erros do passado e nota-se na falta de competitividade da actual equipa) e está a levar à ruina do Benfica. É evidente que os adeptos adversários do FC Porto pensam que isto são palavras ocas, mas não analisam com frieza a realidade. E nem sequer entendem que é isso mesmo que o sr. Pinto da Costa deseja. Conseguir criar uma equipa de tal forma forte em Portugal, que para os seus adversários o acompanharem, terão que endividar-se bastante, aumentar os custos operacionais de uma forma incontrolável e, por fim, diminuírem o valor dos activos. Há quem não aceite esta minha visão da realidade, mas é aquela que na verdade se encaixa nos factos.

O FC Porto poderia tentar o dream-team. Mas eu sinceramente, já fico feliz se fizer brilharetes em termos internacionais e vender os grandes jogadores a peso de ouro. Porque, para manter uma equipa destas, o Porto teria que passar a ter custos de tal forma elevados, que uma má época poderia desestabilizar financeiramente o clube. Assim, tenta o Porto o impossível: ter uma grande equipa e custos controlados. Mas é mesmo quase impossível. Se agora assistimos a este assédio aos jogadores do Porto, imaginem lá para Dezembro. Ainda deverá ser pior.

Mas que era bonito um dream-team em Portugal, era. Mas não vale a pena sonhar demasiado alto, sob pena do tombo ser maior. Como Portista, já fico satisfeito com o que anda a ser feito. Uma equipa cada vez mais valiosa, uma quase hegemonia interna e algumas surpresas a nível internacional, como o ano passado. E não gostava que acontecesse ao Porto o que aconteceu aos seus rivais. Mais vale um pâssaro na mão, que dois a voar.

PS Não sendo um dream-team, hoje o Benfica jogou muito bem, embora a jogar contra um adversário de peito feito. Portanto, não nos podemos queixar tanto do tipo de futebol praticado pelas equipas portuguesas. Claro que isto tem um custo e um risco. O risco, penso que já sabem qual é.

Agradeço os pontos, mas escusam de mos dar, porque o Relvado simplesmente não os adiciona à minha conta, já lá vão meses...