FC Porto vence no Bonfim e está na final da Taça de Portugal

Ponto de ordem: eu não gosto do Quaresma como jogador. Reconheço evidentemente o seu grande talento, a sua capacidade para criar lances fantásticos do nada... mas para mim não é um jogador confiável. Se formos sopesar nos pratos da balança os lances de génio com as situações em que desperdiça lances de contra-ataque porque se lembra de executar mais um drible lateral ou as vezes em que ocasiona contra-ataques adversários com perdas de bola disparatadas em zonas proibidas... enfim, não sei se o saldo é tão positivo quanto a maioria dos analistas e adeptos dizem. Admito que a minha opinião não seja consensual, mas o meu ponto é que a presença de um jogador tão sui generis quanto Quaresma na equipa obriga a que esta esteja concebida para acomodar as suas características. Por isso, parece-me, o porto desta temporada funciona melhor: tem um ponta-de-lança que é também médio e defesa quando é preciso, o que compensa o comportamento quase anárquico de Quaresma. Este para além disso, é pouco versátil: é um extremo nato, está-lhe no sangue jogar naquele espaço e não vejo nele cultura para jogar noutras funções - como por exemplo tem Simão, embora este não seja em minha opinião tão talentoso. O dilema que se coloca é: jogar com Quaresma e forçosamente optar pelo 4-3-3 (com uma ou outra nuance, já lá vou); ou poder ter uma equipa tacticamente mais versátil, podendo jogar em dois sistemas diferentes. Este dilema acabou por nunca se colocar porque abdicar de Quaresma seria um sacrilégio. Mas isso torna a equipa do Porto tacticamente previsível. E porque é que é importante jogar em 4-4-2 na Europa? Porque a verdade é que o equilíbrio é aí muito maior - e por vezes o Porto debate-se mesmo com adversários de maior potencial. É necessário uma maior solidariedade para levar de vencida adversários de maior potencial. Volto a recordar o exemplo do Porto de Mourinho (campeão europeu): o 4-4-2 era o sistema predilecto na Europa e mesmo assim, muitas vezes, Mourinho abdicava de McCarthy para jogar com a dupla de "avançados" Derlei-Carlos Alberto, tendo Deco no apoio - sendo que destes apenas Carlos Alberto seria um jogador anárquico, Derlei era um mouro de trabalho e Deco muito mais que um simples playmaker. Penso aliás que esta previsibilidade táctica do Porto de Jesualdo é uma das suas debilidades. Se é verdade que as rotinas estão solidificadas, também é verdade que qualquer adversário precavido sabe como o Porto joga. Não há plano B - e este é um defeito que acompanha Jesualdo pelo menos desde Braga (percurso que conheço melhor). A única nuance que Jesualdo introduz nas suas equipas para compensar alguma falta de ligação meio-campo/ataque e alguma falta de presença na área que por vezes se notam nas suas equipas é a tendência para actuar com um falso-extremo, seja ele um médio de ataque (era useiro e vezeiro em Braga jogar com Jaime na direita) seja um avançado (foi-o, no Dragão, Lisandro na temporada passada, foi-o durante esta época Farías). Creio contudo que a hipótese de Quaresma jogar livre no apoio a uma dupla de avançados não é credível - pelo menos numa perspectiva de uma equipa competitiva no plano europeu. A Quaresma falta o que eu costumo chamar "futebol na cabeça"; não tem nenhum, é só instinto. Naquela posição um jogador deve ter um grande sentido colectivo e Quaresma não o tem... Nota: a minha opinião é que o Porto vai enfiar um grande barrete a algum dos grandes da Europa. Não acredito que Quaresma singre num clube de topo da Europa. O único motivo pelo qual não duvido que ele possa ser transferido pelas importâncias de que se fala é o facto de no negócio estar envolvido Jorge Mendes. Mas isto é apenas a opinião de um não-portista...