Portugal-Holanda no olhar da imprensa estrangeira

Ingleses rejubilam com expulsão de DecoNo jornal inglês Times fala-se em «passadeira vermelha para Portugal» em alusão aos cartões vermelhos de Valentin Ivanov. O diário refere que as quinas «emergiram sangrando, mas não curvadas de uns oitavos-de-final a transbordar ódio», realçando que «Portugal pode esperar um jogo ainda mais rancoroso contra a Inglaterra», lembrando o texto que os de Eriksson foram derrotados por Scolari no Mundial 2002 e no Euro 2004. O mesmo jornal faz referência às ausências de Deco e de Costinha, expulsos contra os holandeses, realçando que este dado dá «a Inglaterra razões para ter esperança». De resto o Times conclui que «Portugal mereceu ganhar por causa de um maravilhoso golo de Maniche na primeira parte».No sítio da BBC na Internet fala-se num «jogo tempestuoso», realçando-se que «houve mais acção no caderno do árbitro do que no relvado». Esta publicação considera ainda que «Portugal devia ter sido reduzido a nove» mais cedo no âmbito do desaguisado de Figo com Van Bommel.Já o Independent nota que «Portugal usou uma defesa compacta e completa ilegalidade para proteger um belo golo de Maniche», notando-se que «Scolari sabe ganhar jogos de Mundiais com 10 homens». O jornal faz assim alusão ao facto de o Brasil ter segurado no Mundial de 2002 uma vantagem de 2-1 frente à Inglaterra depois da expulsão de Ronaldinho.Franceses destacam espectáculo lamentávelNos vizinhos da Península o desportivo Marca fala de um «jogo muito duro», considerando que a «falta de pontaria elimina a Holanda». O jornal constata que o golo de Maniche foi um «prémio demasiado para os de Scolari», salientando contudo que as quinas «souberam defender-se na perfeição». Já no As se evidencia que o jogo «foi a festa de Portugal e também a de Valentin Invanov». O diário aponta que o «jogo prometia espectáculo», mas conclui que houve pouco fruto da «tensão lógica de um encontro mata-mata, como gosta de dizer Scolari», escreve-se. O As faz ainda alusão ao facto de Van Bronckhorst e Deco terem visto o final do jogo desde o túnel dos balneários depois de terem sido expulsos. «Ali os dois barcelonistas comentaram o desaguisado que organizou Ivanov», constata-se.Em França o Le Monde realça que Portugal esteve em inferioridade numérica por duas vezes «durante um total de 30 minutos» sem que tenha sofrido qualquer golo, frisando que houve nas quinas uma «bela solidariedade ao longo de todo o jogo». O jornal considera que a eliminação da "Laranja" se deveu à «inexperiência dos jovens holandeses, à sua incapacidade para aproveitar a superioridade numérica, e à sua agressividade», frisando por fim que os «cartões vermelhos podem custar caro à equipa portuguesa no sábado» frente à Inglaterra.No desportivo L'Equipe o comentador Angel Marcos refere que o
árbitro poderia ter mostrado ainda mais cartões, realçando que ««todos passaram ao lado do jogo, tanto os jogadores como os treinadores» e que «mesmo Deco e Figo perderam os pedais». Pela positiva o analista destaca «o colectivo holandês e o talento português».No Le Figaro fala-se de «um espectáculo lamentável»; de «um jogo de vingança áspera, crispado, mesquinho, violento», realçando-se que se notou a «tensão mais nociva, atiçada pela arbitragem desastrosa de Ivanov» e que «no fim da luta Portugal qualifica-se». O diário aponta ainda o dedo a Van Basten pela ausência de Van Nistelrooy da sua equipa falando de um «insignificante Kuyt».Italianos falam no jogo mais emocionante do MundialEm Itália por seu turno o La Repubblica traça uma «partida rica de emoções» que no capítulo disciplinar foi «pior do que o Itália-EUA que tinha escandalizado a imprensa internacional» com três expulsões. Abordando igualmente com estranheza a ausência de Van Nistelrooy, o jornal diz que as quinas continuam a ser «a besta negra da Holanda» e que venceram, mas que «como sempre não encantam».No sítio na Internet Yahoo na versão italiana realça-se que «foi o jogo mais emocionante deste Mundial» com «um belo golo de Maniche». «No ringue de Nuremberga fica em pé Portugal», nota o cronista, criticando Van Basten por não ter colocado Van Nistelrooy em jogo e constatando que a Holanda merecia o empate «também porque nós merecíamos ver o prolongamento», escreve, deixando o desejo de que assistamos a «outras partidas assim» neste Mundial.A Gazzetta Dello Sport refere que a «segunda parte parecia mais rodeo do que futebol» evidenciando que os holandeses devem todos perguntar a Van Basten «com um ataque tão estéril, porque é que Van Nistelrooy apreciou o Far West do banco?»Anti-depressivos e férias para os holandesesPor fim na imprensa holandesa ilustra-se a tristeza que impera na Holanda com a eliminação frente a Portugal. O diário Algemen Dagblaad fala em «anti-depressivos ou férias» como a solução para os holandeses depois do desaire em Nuremberga. O jornal também nota que os enormes investimentos feitos pelas empresas em produtos alusivos à presença da Holanda no Mundial terão resultados negativos com a previsível diminuição da procura das cores laranja.O mesmo Algemen Dagblaad aponta noutro artigo de análise ao jogo que «faltou acutilância e audácia à laranja», notando que no Estádio de Nuremberga havia uma bandeira portuguesa com a inscrição "Holland remember 2004" [em português Holanda lembra-te de 2004], realçando que a derrota do Euro 2004 se repetiu de facto frente a Portugal.No Telegraaf lamentam-se as oportunidades falhadas pela Holanda, considerando-se que Portugal precisou de apenas uma para marcar. Tecem-se ainda críticas ao árbitro sublinhando-se que «perdeu o controle do jogo» e que Nuno Valente poderia ter sido sancionado pelo pontapé em riste sobre Robben numa jogada em que se assinalou apenas fora-de-jogo do avançado holandês.Susana Valente