A Crónica da Semana

Sporting: Passado, Presente e Futuro
por Lentamente

Apesar da SAD se recusar a admitir, por questões estratégicas, é notório que o
Sporting passa por momentos difíceis.

José Roquette inicia uma nova era no clube, prevendo a sua recuperação e
viabilidade financeira, consegue finalmente terminar o jejum, lança bases para a
estruturação do clube e cria várias infra-estruturas que incluem um novo
Estádio, um Centro de Estágios, edifício Sede e vários investimentos
empresariais.
O passado já lá vai, o presente é agreste e difícil, mas há esperança no
futuro.

É desse presente que gostaria de falar nesta Crónica.
É como muita estranheza, por vezes mesmo alguma tristeza, que observo a
política desportiva do clube. Não compreendo certas questões, outras acho-as
perfeitamente absurdas. Sendo um assunto demasiado amplo, centro-me apenas num
aspecto, quanto a mim muito importante.

Penso que seria estrategicamente preferível, quer no plano desportivo, quer no
financeiro, o Sporting virar-se um pouco para dentro para evitar alguma
descaracterização. É certo que o desporto é cada vez mais global, mesmo a
nível de representações nacionais e selecções, mas há uma identidade, uma
bandeira que não se pode mudar. Mesmo assim não deixa de ser muito triste ver o
clube passar pelas dificuldades referidas e assistirmos a elementos com
identificação leonina a representar outras cores, isto com a atitude
despreocupada e displicente dos responsáveis do clube.
As necessidades e o momento do clube deveriam servir para criar uma maior onda
de esforço em prol da identidade e até porque talvez fosse financeiramente mais
viável.

É por isso triste para qualquer Sportinguista ver Quaresma e Nuno
Valente a brilhar no FC Porto, ou Nuno Assis, Miguel e
Simão - capitão - no SL Benfica. É
da mesma forma triste ver José Couceiro - o neto de Peyroteo que também
já trabalhou no clube - ser agora treinador do Dragão.
Deixa-me apreensivo ver tanta conversa acerca dos defesas esquerdos no Sporting
e esquecer sistematicamente Carlos Fernandes do Boavista, onde está também o
Hélder Rosário. É difícil de perceber como jogadores como o Bilro que capitaneou
o Un.Leiria durante anos, ou o Nuno Luís (Académica), o Patacas (Nacional),
tiveram tão poucas oportunidades de representar o Sporting ao alto nível, pelo
menos no plantel onde poderiam, como elementos de qualidade e carácter, ser
elementos importantes ainda que não fundamentais, embora esse conceito seja
relativo.

Da mesma forma entristecem-me as críticas a Miguel Garcia, o não aproveitamento
de Lourenço, as travessias que são aplicadas a jovens que não se impõem
imediatamente no plantel por não serem foras de série, como Ronaldo, Figo,
Quaresma, ou outros.
Não deveria o clube ter mais preocupação em formar realmente os seus jogadores,
não esgotando esse processo ao tempo em que estão entregues às mãos de Aurélio
Pereira, Mário Lino e José Manuel Torcato?
Não poderia o clube formar também ex-atletas, não só como treinadores
principais, mas como dirigentes, adjuntos, ou outras funções dentro da estrutura
leonina?

Esta situação permitiria uma solução mais eficaz, com mais identificação ao
clube, tornando mais fácil a integração de elementos com uma qualidade acima da
média que pudessem realmente fazer diferença, ou uma melhor adaptação de outros
de quem fosse esperado crescer no clube.

____________________________
Outras crónicas:
- Bela Guttmann
Versus José Mourinho, por Chess