A Crónica da Semana

Como se prepara um campeão,
por PLO

Ao contrário do que nos dirá a mãe do Simão Sabrosa naquele reclame, não tem
a ver com detergente. É sim com metodologias próprias e rigorosas, pelo que
em boa hora decidi esta semana visitar os eternos candidatos ao título e
observar por mim mesmo um dia atarefado de exercícios sob o olhar atento de
adeptos e simpatizantes.

O TREINO DO CAMPEÃO FC PORTO
Apanhei o 2º dia de treinos do nosso campeão FC Porto, o que foi
horrível, porque estava apinhado de gente. Aparentemente tinham todos lido numa
crónica na Internet que o JVP teria assinado pelo Porto e estava ali tudo para o
ver. Mas o JVP não chegou a aparecer e fiquei com a nítida sensação de que
algumas pessoas estavam aliviadas! Mas deve ter sido só impressão minha...
Quem apareceu para, estranhamente, se sentar a um canto foi o Paulo
Assunção. A certa altura, um dos adjuntos foi ter com ele para o convencer
de que ele não era uma contratação fictícia e que deveria treinar, pois
iria ter mesmo uma hipótese real de lutar por um lugar no 11. O rapaz parecia
incrédulo e, mais animadito, lá foi dar umas corridas.
Alguém no banco atrás de mim, lendo o Record, exclamou em voz alta que um
brasileiro (já não me recordo do nome) ia para o Sporting. Pinto da Costa, que
observava o treino, olhou este adepto de relance e abandonou o recinto de
imediato já com o telemóvel na mão! Não percebi o que se passou, mas o
presidente pareceu-me agitado e Reinaldo Teles não conseguia acalmá-lo.
Já decorriam 5 minutos da peladinha e o Paulo Assunção continuava a dar voltas
ao campo até que o foram chamar, explicando-lhe que podia jogar com o resto do
plantel. Entrou o Paulo, saiu o Quaresma que estava visivelmente fatigado do
esforço intenso que tinha feito.
Findo o treino, que decorreu sem mais incidentes, rumei a Alcochete convencido
que o Porto estava no bom caminho, mas apreensivo em relação ao que assistiria
no reino do leão...

NO REINO DO LEÃO
O Sporting, para se manter diferente, optou por não contratar. Ou melhor,
qual equipa galáctica, contratou apenas um jogador para o ataque. Em amena
cavaqueira com os adeptos, que já sabem o que a casa gasta, pude constatar que
as opiniões estavam divididas. Uns, esperançados num jogador de boa
técnica, outros num com veia goleadora. Quando viram o Douala entrar em campo a
1ª vez, ambas as facções ficaram decepcionadas.
A respeito de contratações, um sujeito mostrou-se particularmente contente com o
que tinha lido recentemente no Ás. Dizia-me ele que, segundo esse jornal,
Postiga estava no Benfica e Seitaridis no Real Madrid e que por isso ainda
acalentava o sonho de, mais dia menos dia, ler que Quaresma estava no
Sporting. Antes que eu pudesse retorquir, um senhor da 1ª fila vira-se indignado
para o tal sujeito e vocifera:
- Cale-se com esses folclores! Nem parece sportinguista...
Interroguei o senhor de idade que estava sentado à minha esquerda sobre se viria
assistir à apresentação oficial da equipa, mas ele respondeu-me que não era
preciso, pois tinha uma cassete gravada com a do ano anterior e isso
bastava-lhe. Perante o olhar de desânimo deste sportinguista, tentei encorajá-lo
lembrando que o Figo há-de regressar ao clube e talvez num futuro próximo se
veja Cristiano Ronaldo de leão ao peito, pelo menos por empréstimo.
Torna o gajo da 1º fila, num tom ainda mais agressivo:
-Isso são folclores, não queremos isso no Sporting!
Para evitar ali uma discussão mais acesa dei o reconhecimento por
efectuado e fui tratar das malas. Esperava-me uma viagem agradável até à
Suíça...

POR TERRAS SUÍÇAS COM O BENFICA
No Benfica, o treinador Trapattoni, com a forma como ministra e participa
no próprio treino, está a encantar tudo e todos. Principalmente as adeptas
septagenárias que trocam a telenovela pela hipótese de recolher um autógrafo
seu durante os treinos. Será sem dúvida uma mais valia para levar este público
feminino ao estádio da Luz no decorrer do campeonato.
O treinador italiano já fala como um benfiquista de gema. Mas foi curioso que
quando disse que quem quiser estar ali terá de transpirar muito nos treinos,
Zahovic levantou-se e dirigiu-se para o balneário. Talvez o entendimento ainda
não seja perfeito dadas as nacionalidades diferentes, pelo que temos de dar
tempo ao tempo...
Um dos emigrantes presentes na assistência, irritado com o sucedido, agitou
incessantemente um cachecol do Benfica que dizia «Campeão nacional». Começamos
todos a espirrar devido ao pó que se libertou. Como ele pediu de imediato
desculpa, demonstrando ser uma pessoa simpática, questionei-o sobre a venda de
Tiago ao que me respondeu que optar entre o benfiquismo de Tiago e o de
Veiga não oferecia dúvidas. Fiquei a pensar no que quereria dizer com
aquilo, mas não descortinei.
No final, Trapattoni mostrou ser um indivíduo afável e social ao trocar algumas
palavras com os adeptos mais eufóricos. Se bem que, quando lhe perguntaram sobre
como seria o Benfica moderno, ele respondeu algo sobre editar os vídeos com
os antigos jogos do Eusébio em DVD, o que deixou algumas pessoas
transtornadas. Mas certamente não entendeu muito bem a pergunta, até porque
estava bastante confusão. Tenho contudo de referir que não acho bem esta
política do treino só acabar quando alguém cair para o lado todo roto. Assim,
graças ao geriátrico treinador, nenhuma sessão dura mais de dez minutos.

Em jeito de conclusão, tenho a dizer que se perfila uma nova época bastante
renhida. Renhida, mas sobretudo melhor. Parece-me que não vamos ter de
suspirar
por Mourinho no Porto, não vamos ter lesões musculares ao quilo no Benfica e não
vamos ter alusões ao Sistema no final dos jogos do
Sporting... Espera... Risquem esta última.

* PLO *

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