A Crónica da Semana

Mudanças
por PLO

Grita-se Portugal em cada rua, levantam-se os cachecóis em cada jogo, pendura-se
uma bandeira em cada janela. Portugal ganha! Portugal promete! Muitos
anunciam, orgulhosos, que "sempre acreditaram".

Retrospectivando o percurso da selecção, desde os seus primeiros passos até à
recente vitória contra a Inglaterra, urge perguntar: mas acreditaram em
quê? Na preparação paupérrima que fizemos? Num seleccionador que teimava nas
piores escolhas?
O lugar comum do sempre acreditei vale, por si só, muito pouco e é
preciso que se explicite em que é que se acreditou e que, sobretudo se entenda,
em que é que outros não acreditaram.

Ironicamente, penso que há muito a agradecer às vozes discordantes. Todos
aqueles que se insurgiram e denunciaram os aspectos menos bons que rodearam a
selecção deram o seu contributo activo para a mudança que se verificou. A
derrota frente à Grécia fez-nos mudar e, principalmente, mostrou que eramos
capazes de o fazer. Esta foi para mim a característica mais apreciável. Raras
são as vezes em que os erros de raíz podem ser reparados sem prejuízo do produto
final. Mas até nisso nos salientamos e demonstramos uma resistência formidável e
uma moral elevadíssima.

Scolari parece, genuinamente, ser boa pessoa. Nunca o quereria no meu
clube pois, no modo como se agarra à sua fé, não consegue ter a frieza e a
distência emocional que privilegio, mas talvez a paixão que deixa transparecer
seja o predicado fundamental para comandar a selecção.
Vê-lo correr com a bandeira na
mão, faz sorrir o seu mais acérrimo detractor. Não há como lhe negar o mérito de
assumir os riscos nos instantes cruciais. E foi realmente crucial o momento em
que perdemos contra a Grécia, em que, a partir do qual, todos os jogos se
tornaram numa final e em que, finalmente, algo mudou!

Se tivessemos começado desta forma, por certo nunca teria havido divisões
tão profundas nos adeptos, mas se a equipa é capaz de se transfigurar, de deixar
de ser a selecção dos "nomes", das vacas sagradas e das teimosias scolarianas,
então os adeptos saberão reconhecer o devido valor e Portugal será uno.

A pressão pode ter sido avassaladora, mas serviu apenas para que a união viesse
ao de cima e que a selecção mostrasse a sua fibra. E neste elemento intangível,
temos superado tanto as expectativas como os adversários.
Quem acreditou verdadeiramente nesta "essência" e não no restante folclore
que foi a preparação, está efectivamente de parabéns!

Ganhando ou perdendo, a campanha traduziu-se por um sucesso acima do manancial
de críticas que se fizeram até aqui e temos todos, sem excepção, razões e
direitos para estarmos orgulhosos de sermos quem somos.

* PLO *

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