A Crónica da Semana

Ida ao estádio
por PLO

A gente chega lá e senta-se rodeado pelo ambiente de convívio e boa disposição.
Depois são as conversas de circunstância costumeiras. Devo dizer que quando joga
o Porto já ninguém faz prognósticos do resultado. É muito mais atractivo (e
difícil) tentar adivinhar o onze inicial. E é quase sempre uma desilusão, como
se ainda não tivesse sido desta que o prémio da lotaria saíu no nosso
bilhete.

Ao meu lado dizem que já não há paciência. Eu tento explicar que começa a não
haver é confiança. O treinador do Porto muda de discurso tão facilmente como
muda de jogadores.
Numa equipa jovem, obrigada a recuperar rapidamente dos erros que comete sob
pena de se afundar ainda mais, os resultados dessa filosofia estão à vista.

A equipa joga com a espada de Damócles sobre as suas cabeças, sabendo que ao
mínimo deslize o banco será o destino mais seguro nos encontros seguintes. Se no
entanto cumprirem, fica a certeza... de no banco haver ainda muito espaço
livre.

Adriaanse permance no seu reduto com uma expressão calma e serena. Não consegue,
no entanto, esconder dos mais atentos um esgar de frustração sempre que Hugo
Almeida falha mais uma vez o golo certo por centímetros ou quando Pepe saca uma
rosca e cria um lance de perigo junto à sua baliza.
A frustração de Adriaanse compreende-se. O futebol romântico adquiriu
rapidamente tendências suicidas e não resultou. Cediam-se pontos de maneira
inglória. O futebol pragmático mais actual faz ceder pontos de maneira ridícula.
Claro que há umas substituições igualmente ridículas pelo meio, mas este factor
não é perceptível a Adriaanse e daí a frustração do homem ao ver-se cada vez
mais perto do abismo sem perceber muito bem como isso é possível.

Claro que nós, adeptos, gostamos de entender o porquê de tudo isto. Ora, a
psicanálise de tribuna revela um holandês dividido entre sonhos eróticos com
Jorginho e pesadelos com benfiquistas a acenarem lenços brancos. Esta
ambiguidade de sentimentos, que destroçaria um humano comum, parece no entanto
reforçar a crença de Adriaanse de que está no caminho certo, para desespero dos
que prevêm mais uma eliminação precoce da Liga dos Campeões.

Estes comportamentos paradoxais só podem ser, na minha óptica, o reflexo duma
SAD desnorteada e de um presidente gasto e cansado, cuja astúcia que o
caracterizava, o tempo se encarregou de lha roubar.

Errar acontece a qualquer um. Errar ao longo de uma época inteira, como
aconteceu o ano passado, acontece à SAD do Porto. Deixar que a mesmíssima falta
de visão (para não falar em interesses de terceiros) na contratação de técnicos
e jogadores ganhe raízes no seio de um clube que estava habituado a pautar pela
diferença neste mesmo capítulo, é um erro grave demais para que os sócios
votantes possam deixar passar em claro.

Pensem nisto da próxima vez que forem ao estádio.

* PLO *