A Crónica da Semana

Gilberto Madaíl: espelho do nosso futebol
por Tito Velosa

Não se trata de nenhum caso de antipatia pelo dirigente. Apenas não suporto a
hipocrisia que se instalou em nosso futebol e nossos dirigentes federativos. E o
que mais me enfurece é a passividade com que aceitamos e calamos o actual estado
das coisas.

Já tivemos provas mais que evidentes da incompetência de nossos orgãos
federativos em quase todos os aspectos da vida do futebol português. Foram
processos atrás de processos, vergonhosos, quase todos chegando aos olhos da
FIFA, mostrando a nossa total incapacidade para resolver nossos próprios
assuntos. E depois insurgimo-nos contra, por exemplo, o facto de a UEFA ter
tomado a seu cargo todo o planeamento do Euro 2004 e de nos ter posto num papel
meramente de pagador de contas e espectador da máquina organizativa da federação
europeia!

E é bem feito! Não merecemos mais do que isso. Afinal quem confia num país de
memória curta, que nunca vai ao fundo dos casos descobrir toda a verdade? Como
se explica que depois do fiasco que foi o Mundial 2002, não tenham sido dadas
explicações concretas ao país dos factos obscuros que aconteceram? Madaíl veio
com o «eu não tive culpa», mas quem era o líder da comitiva no Oriente? Quem
estava lá no comando?

Duma maneira ou de outra ele acaba por ser culpado. Se disser que não sabia nem
viu nada então mostra sua incompetência como líder, já que
devia estar atento a todos os pormenores da campanha lusa.
Se viu e calou, ainda pior. Mostra ser um líder fraco, sem capacidade de
conduzir os destinos de um futebol que prometia tornar-se num dos melhores do mundo
e que acabou nisso, numa promessa apenas.

O mínimo que se exigia era a sua demissão e depois, quem sabe, de cara lavada (e
alma também, espero), concorresse para ganhar a confiança dos agentes
desportivos.

E é este homem que vai concorrer alegremente e sem rival algum a novo mandato (por causa de
regulamentos que nem se entende como existem em plena
democracia!), sem dar explicação alguma aos portugueses e varrendo
toda esta história suja para debaixo do tapete.
Pois é, Portugal tem memória curta.
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