Crónica: Entre amores, ódios e clubismos

É certo que os assobios dos benfiquistas surtiram o seu efeito e Cristiano
Ronaldo não teve espaços, também por "culpa" de Leo, para exibir o seu
futebol-talento. A Luz esteve ao nível do que lhe era exigido, mostrou-se um
absoluto Inferno, sobretudo para o jovem formado no Sporting, e os adeptos foram decisivamente o 12º jogador do Benfica. Não deixo de estranhar porém que os tantos
benfiquistas que vaiaram o sete do Manchester sejam muitos dos que
idolatram o Cristiano Ronaldo da Selecção portuguesa. Mas afinal, só no futebol se
pode passar do amor ao ódio em segundos...

No futebol de que eu gosto não há lugar para comportamentos destes. Não
concebo deixar, nem que seja por 90 minutos, de admirar um jogador só porque
este está a alinhar por um rival. Não aceito que se proceda a um
"terrorismo do assobio" para desestabilizar um adversário, particularmente se
esse for um conterrâneo nosso. Todos sabemos que Rui Costa nunca teria o
tratamento concedido a Cristiano Ronaldo se em campo estivesse um AC Milan com o
ex-benfiquista em jogo. E é isso que me revolta também, porque o clubismo
fala sempre mais alto no futebol português. Se o jovem sete do Manchester
tivesse sido formado na Luz, teria tudo sido muito diferente...

A reacção infantil do jogador de 20 anos quando foi substituído não é concerteza
desculpável, porque se fala de um jogador profissional demasiadamente
bem pago e que portanto não se pode dar ao luxo de "amadorismos" daqueles.
Aquilo que é discutível é se é humanamente aceitável atribuir a um jovem com
aquela idade tamanhas responsabilidades, e aí se pode justificar o gesto de
Cristiano Ronaldo como reflexo de uma imaturidade que o Bilhete de Identidade
lhe certifica.

Tenho presente o recente clássico espanhol entre o Real Madrid e o Barcelona. Os
catalães foram à capital derrotar os "galácticos" por 0-3 e o público da casa
rendeu-se ao bom futebol do Barça e à magia da sua estrela maior, Ronaldinho
Gaúcho, não tendo pudor algum em aplaudir os adversários. Um gesto que
infelizmente não se vê em muitos campos de futebol. A maioria dos adeptos pensa
única e exclusivamente em ganhar, gosta do futebol tanto quanto que a sua equipa
ganhe títulos. E é isto que está a matar a espontaneidade do jogo e o dito
futebol-espectáculo. Eu também gosto de ver a minha equipa a ganhar, certamente!
Mas não aceito que ganhe sem o merecer, sem me encantar com o seu jogo. Aquilo
que eu gosto de facto é de ver a minha equipa a superiorizar-se perante um
adversário forte e na plenitude das suas capacidades. E aprecio particularmente
assistir aos bamboleios pelos relvados de craques como Cristiano Ronaldo, mesmo
quando jogam contra a minha equipa. Porque eu gosto de futebol acima de tudo!