Manuel Cajuda: "Despedir treinadores é normal em Portugal"

A saída de Quim Machado do Feirense foi "apenas" uma das 13 mudanças de treinadores que já se verificaram esta temporada, na I Liga.

O número poderá ser considerado por muitos um exagero, ou um mau sinal dado pelas equipas, mas para Manuel Cajuda, que protagonizou uma das "chicotadas psicológicas" da época na União de Leiria, esse é um número "normal em Portugal".

Em entrevista exclusiva ao Relvado, o treinador não se mostra surpreendido com as várias alterações de equipas técnicas porque "o futebol em Portugal sempre viveu um planeamento deficiente. Quando se planeia mal, mais tarde ou mais cedo encontra-se sempre um fracasso e os maus resultados desportivos acabam por aparecer", analisou Cajuda.

"Nenhuma empresa é gerida por funcionários"

O técnico deu algumas "dicas" sobre a forma como uma equipa deve ser gerida, salientando o trabalho em conjunto que deve ser realizado: "Todos pensam que o planeamento é da exclusiva responsabilidade de um treinador. Não é. Deve ser um trabalho realizado em conjunto com os dirigentes, essa é a base real de um planeamento. Nenhuma empresa é gerida por funcionários", sublinhou.

Quando os maus resultados aparecem, a vítima é quase sempre a mesma, comentou Cajuda: "Criam-se novos planeamentos, fazem-se roturas com o que estava planeado e aí é sempre mais fácil afastar o treinador. Faz-se a sacudidela do capote".

Sem querer falar sobre o caso da U. Leiria, quando questionado sobre as equipas que mudam várias vezes de treinador na mesma época, Cajuda explicou: "Uma pessoa quando está doente vai várias vezes ao médico. No futebol é igual, tenta-se corrigir várias vezes o que falhou no início".

"Um bom carro não funciona bem numa estrada má"

No extremo oposto há clubes que têm mantido grande estabilidade, ou na estrutura técnica, ou na estrutura diretiva.

Manuel Cajuda reforçou que manter o mesmo treinador numa equipa durante vários anos "nem sempre é sinónimo de bons resultados", explicando depois com uma metáfora: "Um bom carro anda melhor numa boa estrada. Um bom carro numa estrada má não funciona tão bem".

"Mesmo um bom treinador só funciona mesmo bem com uma boa estrutura por detrás. Nenhum treinador consegue triunfar sem ter uma direção e administração forte, isso é o essencial", disse o técnico, antes de falar em casos concretos.

A nova filosofia do Benfica

Sobre o Benfica, Manuel Cajuda destacou o "grande valor" de Jorge Jesus, mas salientou que no clube da Luz "nota-se claramente uma nova filosofia e um novo planeamento que estão a dar os seus frutos".

E esse sucesso "não pode ser dissociado da direção e, particularmente, do presidente Luís Filipe Vieira. Tal como não podemos dissociar o sucesso de Sp. Braga e FC Porto de António Salvador e Pinto da Costa".

Cajuda recordou que, por exemplo, FC Porto e Sp. Braga mudaram de treinador para esta época "e estão na luta pelo título" precisamente devido à estabilidade das respetivas direções.

Em Alvalade o cenário é diferente: "O Sporting tem mudado várias vezes de presidente e treinador e não tem estado ao mesmo nível" das equipas referidas.

"Muitas vezes ouve-se a frase 'Vamos começar do zero'... só que aí já se começa com muitos algarismos antes do zero", concluiu Manuel Cajuda.