O melhor modelo de gestão para os clubes | Relvado

O melhor modelo de gestão para os clubes

De que viverão os clubes portugueses com a proibição dos fundos de capitais de risco?
 

Uma das principais dificuldades com que a maior parte dos clubes de futebol se debate hoje em dia para resolverem as suas obrigações contratuais com os seus jogadores e demais fornecedores, em parte, prende-se com o tipo de modelo de gestão que praticam, ou que acham que seja o mais adequado para fazer face às enormes despesas que contraem na sua organização desportiva.

Quase todos os clubes vivem acima das suas reais possibilidades, dando azo todos os anos a casos de incumprimento de remunerações por parte das suas débeis tesourarias, situação que não é nova e que nem tão pouco é desconhecida da opinião pública, para não dizer mesmo que até é perfeitamente natural e pacífica para os tempos que correm que esta situação se verifique com total normalidade na sociedade moderna, bem ao jeito da maioria dos países, que também se encontram endividados perante as suas contas públicas e que também andam sempre com défices enormes, ninguém acreditando que alguma vez as dívidas sejam totalmente liquidadas, atirando toda esta problemática financeira sempre para as gerações vindouras, baseado naquela ideia peregrina do “Quem vier que resolva ou feche a porta”.

Foi desta forma que, durante todos estes anos de convivência conturbada em termos de finanças, os clubes se propuseram a encontrar meios de financiamento, começando no início a viverem exclusivamente da cotização dos seus associados e das receitas dos jogos que realizavam entre si, para depois passarem a enveredar pela alocação de Bingos e bombas de gasolina, publicidade e outros patrocínios, e presentemente lá vão sobrevivendo com o acréscimo das receitas das transmissões desportivas, presenças nas Ligas Europeias, venda dos seus principais jogadores, inclusão do modelo de SADs desportivas, financiamento através da banca, que entretanto lhes fechou a porta, e ultimamente com a introdução de fundos de capitais de risco, tendo como base de apoio financeiro o valor de alguns passes de jogadores influentes na equipa e com mercado europeu.

Porém, como o tempo não para e por vezes tende a fazer alterações de percurso gerando ainda mais dificuldades, os clubes têm necessidades imperiosas de estarem sempre a criar novos modelos de financiamento para substituírem os que ainda sobejam, mas com fortes possibilidades de virem a desaparecer, como certamente irá acontecer com os famigerados fundos de capitais de risco.

Os clubes portugueses, espanhóis e da América do Sul foram os principais interessados no recurso a este tipo de diversificação de financiamento na contratação de jogadores, consubstanciado através da partilha de percentagens dos passes dos seus ativos, e que segundo um estudo encomendado pela Associação Europeia de Clubes à KPMG e divulgado em novembro de 2013 indicava que até 36% dos jogadores no mercado português estariam sob o universo da “third party ownership”. O comércio em torno dos direitos económicos dos jogadores está muitas vezes associado a práticas opacas ou fraudulentas nas transações, investidores fantasmas e beneficiários desconhecidos, razão pela qual a UEFA entendeu já proibir a partir do dia 1 de maio da cena desportiva esta alternativa ao crédito, por, segundo aquele organismo desportivo, não terem os famigerados fundos razão substantiva em termos de existência legislativa e desportiva.

Acontece que para os principais clubes portugueses, se bem que no caso do SCP pelos vistos esta situação não lhe irá trazer problemas, uma vez que já se pronunciou oficialmente contra a subscrição destes fundos, e o futuro é que irá dizer se terá razão ou não, terão então pelo menos o FCP e SLB de ajustarem outros mecanismos financeiros para continuarem no mesmo nível desportivo que patenteiam e a que nos vêm habituando, o que não será fácil pois o tempo dos mecenas já lá vai, e os poucos investidores que existem e que ainda estão interessados em investir nos clubes, naturalmente que exigem uma contrapartida que passa pelo controlo total ou maioritário do próprio clube, situação que pelo menos o FCP já se manifestou totalmente contra e em defesa da hegemonia do clube e dos seus adeptos, que também preferem o modelo atual que lhes dá um controlo absoluto do clube e da SAD.

Todavia, este sentimento clubista e conservador a que os clubes portugueses ainda estão presos, não tenho dúvidas que a breve trecho terá de ser alterado e revisto para o bem dos mesmos e para a sua própria sobrevivência, e isto se quiserem continuar no pelotão da frente da Europa em termos de feitos desportivos, e os seus apaniguados adeptos terão de se adaptar rapidamente às novas circunstâncias próprias dos tempos em que vivemos, dando lugar, como já acontece por toda a Europa, a um novo modelo de gestão desportiva que passará pela venda do próprio clube a investidores estrangeiros. Ou então, enveredar por um maior aproveitamento das camadas jovens, que infelizmente em Portugal é só uma espécie de miragem com muito poucas exceções à regra, pese embora as excelentes prestações de vários jovens com enorme talento e potencial que por cá há, que para mostrarem o seu real valor têm de infelizmente partir para outras paragens, demonstrando assim que os clubes que os formaram não os aproveitaram da melhor forma, em detrimento de outras opções estrangeiras duvidosas que se vêm a tornar um autentico fracasso desportivo e financeiro, para gáudio e aproveitamento de alguns dirigentes e empresários que por aí andam, que só têm como principal objetivo encher os seus bolsos de milhões de euros.

I Liga:

Comentários [2]

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Quando a Parmalat ou o Kia

Quando a Parmalat ou o Kia não sei das quantas chian apareceu, não houve muito drama nesta forma de financiamento/contratação de jogadores. Neste momento ha gente fora do circuito financeiro a ganhar dinheiro e a banca está a perder. Há que reverter esta situação.

Aqueles clubes que têm carta branca na banca são os que mais desejam que os bancos ganhem dinheiro. Assim uns pagam e outros mamam.

Se o banco rebentar, o estado arca com as dividas e ficam todos a ganhar.

Os fundos de investimento em

Os fundos de investimento em jogadores foram a forma que os pequenos clubes, ou com menor capacidade financeira - como são exemplo os clubes portugueses, os de segunda linha de ligas espanhola, e da América do Sul (em campeonatos transparentes como Inglaterra e Alemanha apenas são permitidos sob especial apreciação da entidade que tutela os campeonatos) - de encurtar distâncias para os "tubarões" conseguindo jogadores que, de outro modo, não seria possível. Só que este modelo apresenta três desvantagens: o retorno financeiro é sempre garantido para os investidores e nem sempre para os clubes onde os jogadores são alocados; é necessário que os jogadores estejam sempre em trânsito nos clubes para que o dinheiro gire e os lucros dos intermediários sejam cada vez maiores; não é obrigatório dar explicações da origem do dinheiro ou quem são os rostos por detrás dos fundos de investimento.

Ora, foi precisamente por os clubes raramente terem contrapartidas financeiras vantajosas e não haver transparência da proveniência do dinheiro e dos rostos a ele associados que o Sporting se quis demarcar. Não é contra o conceito em si, mas pela forma como funciona e (não) é regulado.

Segundo a KPMG "em novembro de 2013 até 36% dos jogadores no mercado português estariam sob o universo da third party ownership". Isto diz bem do impacto que os Fundos de Investimento têm no futebol português e nos "grandes" em particular. Como se sabe a FIFA está a proibir, de forma gradual, este tipo de mecanismo financeiro tal como hoje é apresentado. Mas ele só deixará de ser possível se os ditos Fundos negociarem directamente jogadores. Por isso, alguns estão agora a virar-se para a compra de SAD e, a partir destas, continuarem a sua actividade com os atletas, alocando-os aqui e ali, onde for mais rentável. O peso dos fundos na gestão de alguns clubes nacionais já é hoje visível. Tivemos jogadores do Rio Ave emprestados ao Real Madrid, e, esta época, contratações milionárias do Braga (acima de 5 Milhoes) entretanto emprestados ao Mónaco. Algumas SAD de clubes de 2ª Liga já terão sido compradas (pelo menos parcialmente) por Fundos de Investimento que, após Maio, poderão continuar a dar aso à sua actividade.