Rui Rangel: "Não vamos perder para os rivais jogadores como Falcao ou James" (exclusivo)

Entrevista a Rui Rangel, 2.ª parte

R: Afirmou recentemente que o seu treinador é Jorge Jesus. Acha que o atual técnico terá condições para continuar na próxima época caso não seja campeão nacional ou obtiver outro ou outros resultados relevantes? (pergunta dos leitores JASS e hrosaribeiro)
RR: O treinador do Benfica tem de ser um treinador vencedor. Jorge Jesus tem contrato e no final de época falaremos. O treinador terá legitimidade para tomar as suas decisões, mas prestará contas e terá uma supervisão mais atenta. Agora, posso afirmar que comigo e com a minha estrutura, não aconteceriam com tanta facilidade casos como os de “Roberto” ou “Emerson”. Comigo, o treinador saberá no início da época quais são as prioridades. Comigo o treinador não poderá dizer coisas como as que Jesus disse no final da época, quando referiu que apenas percebeu nessa altura que a prioridade era o campeonato e que assim já sabia o que prioridades escolher no futuro. Tem que ser a estrutura do futebol a estabelecer as prioridades e não o treinador. Isto é inacreditável e comprova um enorme amadorismo na forma de atuar da estrutura do futebol.

R: A equipa ficou enfraquecida com as saídas de Witsel e Javi Garcia. Considera que, mesmo com um quadro de jogadores excessivo, o clube terá condições para ir ao mercado em Janeiro para equilibrar o plantel? Se sim, já tem jogadores na manga? (JASS)
RR: É verdade que a construção do plantel foi muito desequilibrada e mais desequilibrada ficou com as saídas de Javi Garcia e Witsel. Temos que procurar suprir esses desequilíbrios na abertura do mercado, em conjunto com o treinador. Mas não prometo contratações sonantes por motivos eleitoralistas. Agora posso prometer maior critério nas contratações. Comigo, não virão mais carregamentos de jogadores da América do Sul sem uma avaliação mais rigorosa das suas capacidades. E comigo, não vamos ser amadores na hora de fechar contratações: não vamos perder para os rivais jogadores como Falcao, James Rodriguez, Álvaro Pereira ou Danilo. Não podemos ter um excelente trabalho de prospeção e identificar craques e perdê-los para um rival.

R: Relativamente aos jogadores excedentários, que tanto criticou, que destino terão? Serão dispensados ou vendidos a outros clubes? (nunoglf)
RR: Terá obviamente que haver uma análise caso a caso. Contudo, preferencialmente, os jogadores excessivos serão colocados no mercado, o que contribuirá não só para uma poupança na massa salarial, mas poderá também produzir receitas extraordinárias a nível da venda de passes de jogadores. Estimamos, só através desta medida, reduzir os custos anuais globais do Clube em cerca de 10 a 12 milhões de Euros, que contribuirão por sua vez para a redução do passivo e libertação de recursos para investimento na equipa principal de futebol. Recordo que a massa salarial no Clube é brutal, com atualmente cerca de 95 jogadores com ligação contratual ao Clube. Em 2010/2011, a SAD registou custos desta ordem de cerca de 37 milhões de euros e prevê-se um aumento de 20% para 2011/2012. A massa salarial da SAD duplicou em apenas 9 anos.

R: Afirmou que iria apostar na formação. Como se pode fazê-lo mantendo a equipa competitiva, dentro e fora de portas? Temos o exemplo do Sporting, considerada a melhor formação de Portugal... (Gomezz)
RR: Já afirmei que iremos estabilizar e valorizar o trabalho feito nas camadas jovens, migrando alguns dos conceitos também para o futebol profissional, como a definição de um modelo de jogo transversal ao Clube. É verdade que o Sporting tem uma excelente formação, mas é um clube que tem dificuldade em balancear o aparecimento de jovens talentos na primeira equipa com jogadores mais experientes. E isso é possível: veja-se o caso do Barcelona ou do Manchester United. É isto que quero para o Benfica, promover o aparecimento progressivo de jovens jogadores na primeira equipa, que sintam e saibam o que é a grandeza do Benfica. Um grande exemplo é o de Nelson Oliveira, um enorme talento que com muita pena minha foi emprestado ao Desportivo da Corunha, quando penso que tinha todas as condições para evoluir no clube.

R: Que função irá desempenhar no clube José Veiga, persona non grata para muitos benfiquistas? Poderá ser uma mais-valia neste momento de crise? (JFK3_3 e JASS)
RR: Não está previsto que José Veiga integre a estrutura do futebol profissional do Benfica. Eu próprio conversei pessoalmente com José Veiga e ambos concordámos que este não era o momento para discutir um eventual regresso dele ao clube. Teremos um vice-presidente, Cunha Leal e um diretor desportivo, que será Rui Costa, se aceitar o nosso convite, conforme acredito que acontecerá.

R: Jorge Mendes é hoje o empresário de referência a nível mundial. Não teme que as suas recentes declarações sejam prejudiciais em eventuais incursões no mercado ou transações de jogadores do atual plantel? (JASS)
RR: Não. Jorge Mendes é um empresário com o qual, à imagem dos outros, queremos manter as melhores relações comerciais e institucionais. O que não podemos aceitar é a sua interferência nas eleições de um clube soberano como o Benfica. Quem escolhe o presidente do clube são os sócios, não um empresário.

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