Luiz Felipe Scolari para fazer esquecer José Mourinho

A Selecção portuguesa conseguiu apurar-se para os quartos-de-final do Euro 2008 com duas vitórias em dois jogos, mas não é esse o assunto que marca a vida da equipa das quinas. A confirmação da saída de Luiz Felipe Scolari para o Chelsea está a abalar a festa. Aquilo que mais surpreende é o timing do anúncio e já há preocupações de que o desempenho da Selecção no Europeu se ressinta. Em Inglaterra fala-se de Scolari como uma aposta de risco e vaticina-se que Felipão vai fazer esquecer o "Special One" José Mourinho.



«Agora teremos Gene Hackman a fazer de José Mourinho». A frase surge no tablóide inglês The Sun e ilustra a parecença do técnico brasileiro com o actor norte-americano e a comparação que se vai fazendo por terras de Sua Majestade entre Scolari e o "Special One". Aquilo que parece
evidente aos média é que o estilo de Felipão vai ofuscar, pelo menos por uns tempos, a memória de Mourinho. De resto há uma aura semelhante entre os dois treinadores, ambos de personalidade forte, carismáticos e capazes de domarem as vedetas, e com discursos bem peculiares que fazem as delícias da imprensa.

Em Inglaterra aponta-se contudo que será interessante ver o relacionamento de Scolari com os média, notando-se que ele não lida lá muito bem com a crítica. O mesmo The Sun lembra o episódio do «e o burro sou eu?» para notar que «como ele vai reagir quando o Chelsea perder uma série de jogos e entrar o habitual criticismo da imprensa, será fascinante».


No patamar desportivo o facto de Scolari nunca ter treinado a nível de clubes na Europa suscita dúvidas quanto à sua eleição para o cargo de treinador do Chelsea. Ganhar a Liga dos Campeões será a meta maior do "Sargentão", mas será ele capaz de o fazer? Scolari tem um percurso de sucesso na Selecção do Brasil, onde foi campeão do mundo em 2002, e em Portugal, equipa que levou à final do Euro 2004 e às meias-finais do Mundial 2006, mas não deixa de ser uma aposta de risco. A sua última experiência a nível de clubes foi em 2001 no Cruzeiro do Brasil.

Na Federação Portuguesa o pós-Scolari terá que começar já a ser preparado e é bem certo que o sucessor não terá vida fácil, perante a «herança pesada» deixada por Felipão, conforme lembrava Gilberto Madaíl recentemente. O presidente da Federação defendia também que o próximo seleccionador deve ser «português». Candidatos não faltam para o arranque de uma nova era ao cabo de seis anos de Scolari.

A saída do treinador no fim do Euro 2008 era já há muito tida como certa, mas o anúncio do adeus em pleno Europeu apanhou os adeptos portugueses de surpresa. E terá também apanhado desprevenida a comitiva portuguesa na Suíça, conforme adianta alguma comunicação social. O seleccionador não terá tido tempo de contar aos jogadores do acordo com o Chelsea antes do anúncio do emblema inglês.

A equipa das quinas está convenientemente de folga nesta quinta-feira e só regressa ao trabalho na sexta-feira às 17 horas para preparar o último jogo da Fase de Grupos frente à Suíça, no domingo. Uma partida meramente para cumprir calendário e antes da qual Scolari deve tomar uma posição pública sobre o seu acordo milionário com o Chelsea - vai receber cerca de 8 milhões de euros por ano de acordo com a imprensa britânica.


Na Federação a única reacção é para já um comunicado, onde
se agradece a Scolari «todo o trabalho e empenho» e se atesta que «há oportunidades irrecusáveis que não se podem deixar de aproveitar». O documento avança ainda que a saída do treinador é «irreversível», que Madaíl e Scolari «cumpriram o acordo de cavalheiros que tinham» e que vão manter «os fortes laços de amizade». A estrutura conclui notando a certeza de que todos estarão «tão ou mais empenhados em atingir os objectivos traçados para o Euro 2008».



Fotos: Lusa