Figo sem amor à selecção?!

Como adepto de futebol não posso deixar de mostrar um profundo desagrado pela forma como Luís Figo tem sido criticado nos últimos tempos. Ainda por cima quando o teor dessas críticas é incipiente e, nalguns casos, relacionado com o legítimo exercício que é a liberdade de expressão.

      Enquanto jogador do Braça, Figo aceitou, sem pestanejar, a responsabilidade de assumir toda uma equipa. Foi, inúmeras vezes, o fio condutor que conduziu a enormes êxitos dos blaugrana.

      Só por manifesta má vontade é que se poderá reduzir a saída de Figo a questões financeiras (embora tal aspecto também tenha estado envolvido). Aliás, este período que o Barcelona tem atravessado prende-se com uma sobranceria de certos dirigentes que em muito prejudicaram o mui nobre emblema. Não só Figo saiu, ou esquecem-se de Guardiola, Ronaldo, Rivaaldo, Sergi, Nadal?

        Até posso compreender as razões que levam os barcelonistas ao ódio (a palavra é essa) perante o português. Já no que concerne à perseguição que lhe tem sido movida em Portugal, isso já tenho dificuldades em engolir.

      Acusam-no de materialista. Quem é que não luta pelas melhores condições possíveis para a sua carreira? Prémios de jogo da Selecção? Os acordos são para cumprir, embora aceite que ,neste país, esta é uma premissa algo duvidosa.

      Que resta então? Arrogante?! Como todas as pessoas terá os seus defeitos. Eu não endeuso os jogadores de futebol, são pessoas iguais a qualquer um de nós. Mas não me acho na capacidade de adjectivar indivíduos que nem sequer conheço individualmente. Não será essa pretensão ela mesma um indício de arrogância?

      Penso que a hipocrisia é um exercício simples. Qualquer um o pode exercitar. Difícil é manter a coerência, não andar à procura de bezerros de ouro para adorar ciclicamente.

      Que a nossa selecção tem estado aquém das suas pretensas capacidades? Concordo. E nós, como adeptos, teremos estado à altura desse mesmo desejo? A glória, como a responsabilidade, deve ser partilhada por todos.

      E nós, portugueses, temos um longo caminho a percorrer. Jogadores, técnicos, dirigentes e, também, adeptos. E, enquanto se preferir atirar pedras a ter atitudes construtivas, isto não vai a lado nenhum...