Espanhóis e brasileiros com dor de cotovelo?

Caro Álvaro:
falares das tuas filhas até que é curioso!
A força do "caso particular" parece ofuscar a "ideia geral"!

As tuas filhas são portuguesas porque tu és português (a tua esposa não sei, mas calculo que sim), o que configura um dos casos que a Lei prevê: é português quem é filho de cidadãos portugueses!
Acredito também que as tenhas educado como "portuguesas", falando português (mesmo que mal, como tu dizes), com os valores em que acreditas e que, por sua vez, já os recebeste dos teus pais e avós. Serão valores próximos do "humanismo cristão", se assim se pode dizer! Certo? (Aliás, valores esses que são comuns a muitos países do Mundo, nomeadamente ocidental! Eu sei...)
Por outro lado, as tuas filhas também são "suíças", certo? Têm dupla nacionalidade, amam duas pátrias... mas eu não acho isso espantoso! Nasceram e cresceram assim, amparadas por duas culturas, duas línguas, dois modos de vida, enfim...

O mesmo se passa comigo: apesar de ter nascido em África, esse fantástico continente, sou português porque os meus pais também o são... e porque, à altura no meu nascimento, Angola fazia parte integrante de Portugal Ultramarino. Ou seja, para o caso tanto dava eu ter nascido no Lobito ou ter nascido na Arrifana! Não era só uma questão de LEI, mas de toda uma estrutura que tinha séculos! Mas que mudou!

Pois, o mundo está em mudança, é verdade... e as distâncias encurtam-se cada vez mais... falamos várias línguas, conhecemos hábitos e costumes de qualquer povo... tudo isso é certo! Mas não deixamos e ser quem somos! Isso não me torna... chinês, por exemplo!

Mas não deixa de ser verdade que, apesar de toda a globalização, continuam a haver países, estados, hinos, bandeiras... com todo o seu simbolismo e significado histórico! E que não se trocam por "dá cá aquela palha"! Certo? Se é verdade que a globalização parece tornar este Mundo uma "pequena aldeia", não deixa de ser verdade que cada vez mais os povos tentam preservar o que os torna específicos e distintos de todos os outros! De outro modo não faz sentido, para mim, repito, para mim, que continue a falar-se em portugueses, espanhóis, franceses, brasileiros, angolanos... senão falaríamos apenas de "aldeões"... e pronto! Mas a realidade não é essa! E nunca vai ser!

E eu pergunto: o que é ser português? Quem é português? O que é ser francês? Quem é francês? O que é ser alemão? Quem é alemão? O que é ser brasileiro? Quem é brasileiro? E quantos anos são precisos para alguém ser "da nacionalidade X"? E o que são as selecções nacionais? Há diferenças? Para que servem? O que significam?
Eu gostava de acreditar que ainda há lugar, mesmo num mundo cada vez mais global, para o particular, o específico, o "nosso"! Para o bem e para o mal!

Posto isto... falemos de Deco... já que isto é um fórum de futebol e é à volta "dele" que tudo tem girado: ele "ontem" era brasileiro, "hoje" é português! E, como tal, jogou pela Selecção Portuguesa!

Porquê?
Porque reuniu as condições legais necessárias para o ser! E porque foi convocado!
E isso é que me faz confusão em todo este processo: a LEI! E o PROCESSO! Não é o PRODUTO que me confunde!
Deco é português porque a actual Lei Portuguesa assim o permite! Mas a LEI é imutável? É a lei que determina a ESSÊNCIA das coisas? Se calhar é, não sei!
Mas... eu não discuto a LEI... discuto uma ideia! Admitindo que ela é uma ideia em construcção, em aberto, à moda de Karl Popper!

Discordo do processo da chamada de Deco à selecção (e não da sua naturalização). Porquê?
O Slick que me desculpe, mas eu vou roubar-lhe uma ideia.
Eis o processo para se ir à selecção portuguesa:
a) ser português (com valor, claro); b) ser observado; c) ser convocado.

Com o Deco foi diferente:
a) ser observado (e valor ele tem); b) ser português; c) ser convocado.
Note-se que a alínea b) e c) tiveram poucos dias de diferença, ainda por cima! E aqui é que reside o busílis da questão, para mim! A questão temporal!

Penso que ninguém me pode negar o direito de não ter gostado que as coisas se tivessem passado assim! Eu sei que Deco está em Portugal há 6 anos, gosta de Portugal... tudo isso! Mas o que são 6 anos? Há quem diga que é tempo suficiente para se ter "aculturado"! Mas há poucos meses o discurso dele era outro! E esse foi outro dos factores que me desagradou! E que me fez "desconfiar"! Por exemplo: que papel teve o empresário dele em todo este processo? :)
Deco, por mais que se esfole por Portugal, por mais que goste de Portugal, por mais golos que marque pelo Porto, perdão, por Portugal... não deixa de ser brasileiro! Está certo: agora também é português! E eu aceito isso, nota bem!
O que eu dizia ao Soccervip era apenas isto: não íamos deixar de ouvir "piadas" por causa da "nacionalidade" dele!

Este tema já foi por demais debatido! Interrompi o silêncio a que me remeti para recordar algo ao soccervip... e vejo-me a responder-te... mas eu vou voltar para a minha "toca"... enquanto verificar que o maniqueísmo em que se caiu não desaparece!

Abraço

Maniche,a par de Simão foram os piores da nossa selecção. Até que enfim alguém viu isso. Quem não concorda reveja o jogo e conte os passes falhados e perdas de bola do Maniche (já sem contar uma jogada em que podia ter lançado o contra-ataque e em vez de passar a um jogador sozinho seguiu com a bola e sofreu falta)

Todos temos direito a tecer uma opinião... Quer se goste ou não!
Tanto na opinião como esta resposta são oportunas.

Saudações Benfiquistas.