A troika anda aí* | Relvado
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Como acontece com a virgindade, a soberania nacional só se perde uma vez. Agora estamos na fase d

A troika anda aí. É verdade que entrou no País porque a chamaram. E, quando se chama a troika, já sabemos que não podemos pedir respeito. A troika fecha-se nos seus gabinetes a estudar as melhores ‘fórmulas’ de intervenção para as colocarem em prática quando é chamada a intervir. A troika faz-me lembrar aquelas equipas de desinfestação. São de poucas palavras, fazem o trabalho (exterminam ratos, baratas e mosquitos) e vão-se embora. Depois mandam a factura. E ela aí está, de pasta na mão, a passear-se pelas ruas de Lisboa, reunindo com quem acha que deve reunir-se. É apenas uma disposição formal, porque as medidas a implementar são, genericamente, todas aquelas que os Governos portugueses não tiveram a coragem de aplicar ao longo dos tempos. Com uma agravante: é que o prolongamento do facilitismo aumenta o impacto negativo das medidas junto das famílias e dos portugueses.

Mesmo antes da chegada da troika, a alusão à alegada perda da soberania nacional já não fazia nenhum sentido. Há muito que perdemos a dita cuja. A soberania nacional é como a virgindade: só se perde uma vez. E perdemos a soberania nacional a partir do momento em que o exercício da política passou a ser encarado como uma ‘brincadeira de garotos’. Basta olhar para o Parlamento. Basta ter memória dos debates quinzenais. Basta atentar na falta de respeito do Governo para com a Oposição e vice-versa. A política do confronto de ideias foi substituída pela 'política do soundbyte'. Os protagonistas da 'política do soundbyte' acham que a política tem de ser gira. Gira e audível às horas dos telejornais.

A troika anda aí porque provavelmente não merecemos outra coisa.

Queixemo-nos de nós próprios. Sem generalizar, queixemo-nos da falta de educação e civismo. Queixemo-nos de uma mentalidade mesquinha e trapaceira. Queixemo-nos da incapacidade de produzir mais e gastar menos. Queixemo-nos de não sabermos reconhecer o mérito a quem o tem. Queixemo-nos da nossa falta de organização e constante apelo à imaginação e ao improviso.

Tudo junto e acumulado -- e aí temos um País assimétrico e desequilibrado, que não se dá bem com a verdade.

Infelizmente os nossos políticos, que vivem numa bolha de privilégios, apesar dos discursos populistas e eleiçoeiros, estão muito distantes das realidades e não sabem o que elas significam, no dia-a-dia. Olham para as suas carreiras, com os pés em cima de uma placa giratória que os coloca, alternadamente, no Governo ou na Oposição, mas perante os mesmos vícios sistémicos. E esses vícios sistémicos chocam, em permanência, com a necessidade de tornar eficaz o combate à corrupção e com a génese do financiamento partidário.

Somos todos culpados pelo ‘triunfo’ da economia paralela. Pelos abusos e pelos silêncios. A troika anda aí, porque não soubemos mantê-la à distância.

Portugal está na ‘casa de penhores’. Com um ‘prego’ cravejado da cabeça aos pés.

 

*Não é estranho que a final da Liga Europa possa reunir duas equipas portuguesas (ou uma final ibérica) em território irlandês? A teoria dos PIGS também chegou ao futebol? Que podem ter em comum o FMI e a UEFA?!...

(Rui Santos escreve de acordo com a grafia do português pré-acordo ortográfico)

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Taxonomia: 
Rui Santos

Os dias que se avizinham são

Os dias que se avizinham são duros para os portugueses. A palavra de ordem via ser apertar o cinto.
Parabéns ao jornalista Rui Santos que online nos presenteia com textos fora do futebol.

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