O Sp. Braga está a 3 pontos do FC Porto e Benfica e já leva 8 de vantagem sobre Marítimo e Sporting. Apesar de afastado da Liga Europa, em cuja competição foi finalista sob a orientação de Domingos Paciência, os bracarenses voltam a ser protagonistas do campeonato, pelas melhores razões, agora sob o comando técnico de Leonardo Jardim, no seguimento da ‘habilidade’ revelada pelo presidente António Salvador para escolher jogadores e treinadores, ao longo das últimas épocas desportivas.

O Sp. Braga está a realizar não apenas uma boa época do ponto de vista competitivo como vem revelando a preocupação de contribuir para o espectáculo, com a exteriorização de um futebol agradável e vistoso. 

Daquilo que é possível alcançar, o Sp. Braga é um excelente exemplo de gestão desportiva. O actual plantel, que perdeu algumas individualidades importantes no passado recente, mostra a mesma identidade, a mesma forma de abordar a competição, os mesmos conceitos, a mesma... coerência.

Essa coerência, que é uma marca da ‘presidência Salvador’, hoje por hoje muito mais metido e familiarizado com as dinâmicas do futebol, assume-se porventura como a maior força do clube minhoto.

Diligente e astuto, o presidente do Sp. Braga mantém uma relação funcional com os rivais mais assanhados do futebol português. Com Luís Filipe Vieira, no futebol e nos negócios. Com Pinto da Costa, durante muito tempo observado como parceiro de excepção, até no processo que conduziu Leonardo Jardim até Braga.

António Salvador é um homem de ideias firmes mas é também um homem de bom trato. Não compra guerras estúpidas ou estéreis, mas não tem medo de decidir. Veja-se o que se passou com Domingos Paciência: achou, a certa altura, que não era o treinador certo para prosseguir o projecto desportivo e ‘abdicou’ dos seus serviços, mesmo com a possibilidade de marcar uma presença muito interessante na Liga Europa, aliás como veio a acontecer. Mas a decisão estava tomada...

O Sp. Braga perdeu um vasto conjunto de jogadores, mas essas saídas foram compensadas com critério. Há sempre um conjunto de futebolistas, que formam a base da equipa, que se mantém ‘activa’ e garante a ‘estabilidade competitiva’ do grupo. Isso é o mais difícil de conseguir, hoje, nos tempos que correm, no futebol. O mercado age e reage, e não é fácil assegurar a estabilidade, de uma época para a outra.

António Salvador tem-no conseguido, e para isso muito contribuíram as relações que sempre soube conservar, nas últimas temporadas, com o empresário Jorge Mendes, inestimável conselheiro.

O jogo da passada segunda-feira foi um regalo para os olhos: uma equipa solta, ambiciosa, que soube aproveitar os erros graves cometidos pelo adversário (V. Guimarães), capaz de ‘mandar no jogo’, ao ritmo que mais lhe interessava.

Lima é um ponta-de-lança como há poucos em Portugal -- e teria sido uma boa opção para compensar a saída de Falcao para o Atlético de Madrid. O FC Porto não entendeu assim. O Sp.Braga, na segunda-feira, colocou 6 jogadores portugueses no ‘onze’ inicial (Quim, Nuno André Coelho, Hugo Viana, Custódio, Ruben Amorim e Hélder Barbosa) e ainda utilizou Ukra e Nuno Gomes. Mas, com mais ou menos jogadores nacionais, o Sp. Braga mantém a identidade competitiva, e isso é de realçar.

Hugo Viana está outro jogador. Maduro, mandão, é o jogador que melhor coloca a bola a 30 metros. Estranha-se muito a sua ausência do lote de convocados para a Selecção, porque percebendo-se que deve haver um ‘núcleo duro’ não se deveria prescindir de quem se encontra em grande ‘forma’, como é o caso de Viana...

Custódio é outro caso de ‘recuperação plena’: bom ritmo e excepcional percepção do ‘espaço aéreo’, como o provam os golos que tem marcado de cabeça...

Hélder Barbosa conquistou o seu espaço e é um jogador muito útil. Sem esquecer Mossoró e o inevitável Alan.

O Sp. Braga tem-se fortalecido e apresenta-se, por ora, muito bem. Vai ficar a torcer provavelmente por um empate na Luz, uma vez que ainda tem de se deslocar ao recinto do Benfica e receber (de seguida) o FC Porto. Passar Abril incólume pode significar (mais) uma época histórica. Esse é o grande desafio dos bracarenses. Difícil mas possível.

... E se o Sp. Braga fosse campeão? Tem futebol para isso. E foi-se preparando -- e criando estatuto -- para que isso possa acontecer. É difícil, num futebol macrocéfalo e bipolarizado? Sem dúvida. Mas, com a proporção da dimensão, o Sp. Braga está a dar um sinal muito claro que, com menos, é possível fazer mais. E (até) melhor...

(Rui Santos escreve de acordo com a grafia do português pré-acordo ortográfico)