Há jogadores que gostamos mais, por diversas razões. Pelo que jogam, pelo que dizem, pela imagem que transportam e também se são, ou não, exemplo -- com o seu mediatismo -- para os mais jovens e para as sociedades.

Aqueles que aqui me lêem ou acompanham as minhas incursões no plano da opinião jornalística sabem a minha particular simpatia por Messi e pelo ‘Barcelona de Guardiola’. Não, não se trata de uma opinião favorável por oposição a outros, neste caso ‘contra’ Cristiano Ronaldo ou o ‘Real Madrid de Mourinho’.

Sempre me recusei a ver as coisas pelo lado mais fácil e conveniente: os portugueses ou os ‘nossos’ são os ‘melhores do Mundo e arredores’. Fica bem a quem o diz, colocamo-nos numa posição mais confortável, mergulhamos numa piscina de sorrisos, mas, confesso, a questão da nacionalidade, ou da religião, ou da raça -- ou de outras questões quaisquer -- não são determinantes para o processo de construção da (minha) opinião.

Dou mérito a Messi, pela sua história de vida, pelo seu anti-vedetismo e por ser um talento natural. Costumo dizer que Messi é um jogador que se encaixaria no futebol de todos os tempos. Por isso, ele é o ‘jogador de futebol’ no seu estado mais puro, imune aos chamamentos do marketing, do mediatismo e das sociedades modernas. Ele é o complemento de uma máquina de jogar à bola chamada Barcelona, que tem uma estrutura, uma estratégia, uma escola e uma ideia concreta (e transversal) de jogo.

Dou mérito a Cristiano Ronaldo, porque ele não é o jogador de todos os tempos mas é o jogador dos tempos modernos, adaptado às vicissitudes que marcam indelevelmente o pulsar das sociedades contemporâneas, dando resposta a todo o tipo de solicitações, sem colocar em causa o essencial: a sua doação total à profissão. Ele é o jogador-máquina, ele é o jogador-robô, ele é verdadeiramente o jogador-atleta, que se acha permanentemente num desafio com os seus próprios limites.

Messi é talento puro. Cristiano Ronaldo é talento e sobretudo obsessão pelo trabalho, assente no culto da imagem. São jogadores diferentes, Messi é apenas jogador, Cristiano é jogador e atleta e, nestas condições, torna-se muito difícil escolher quem é o melhor do Mundo.

Deixando o confronto dos últimos tempos, que se acentuou com o ingresso de Ronaldo no Real Madrid, é tempo de olhar para um outro jogador português, diferente de Messi, diferente de Cristiano, mas que tem um valor extraordinário, como mais uma vez se viu na partida entre o Manchester United e o Chelsea. Refiro-me a Nani. Ele está num plano que se acha entre os ‘terrenos’ de Messi e os de Cristiano Ronaldo. Não é apenas um talento puro nem é um jogador-máquina. Mas é, indiscutivelmente, um extraordinário jogador, que pode e deve trabalhar para ser ‘o melhor do Mundo’. Basta crer e... querer.

(Rui Santos escreve de acordo com a grafia do português pré-acordo ortográfico)