Os melhores treinadores portugueses de sempre

Proponho-vos um interessante exercício: a avaliação subjetiva, mas também objetiva, acerca dos melhores treinadores portugueses dos 80 anos de Futebol Português. Primeiramente, elencando as conquistas nas duas principais competições nacionais (Campeonato e Taça de Portugal), assim como competições tuteladas pela UEFA.

Nesta primeira avaliação, poderemos fazer uma pré-triagem, todavia, a mesma poderá não colher total assertividade. Vamos portanto elencar títulos conquistados e treinadores portugueses que os conquistaram:

1.º José Maria Pedroto, com 7 títulos: 2 Campeonatos, 5 Taças de Portugal (duas conquistadas no Boavista);
2.º José Mourinho, com 5 títulos: 2 Campeonatos, 1 Taça de Portugal, 1 Taça UEFA e 1 Liga dos Campeões!
3.º Artur Jorge, com 5 títulos: 3 Campeonatos, 1 Taça de Portugal e 1 Taça dos Campeões Europeus!
4.º Jesualdo Ferreira, com 5 títulos: 3 Campeonatos e 2 Taças de Portugal!
5.º Cândido de Oliveira, com 4 títulos: 2 Campeonatos e 2 Taças de Portugal!
6.º Fernando Vaz, com 4 títulos: 1 Campeonato e 3 Taças de Portugal (Vaz foi o legitimo discípulo de Cândido de Oliveira).

Nesta avaliação, há 4 treinadores portugueses que em cima não constam, mas que merecem uma menção honrosa. São eles: Augusto Silva, campeão pelo Belenenses em 1946; Carlos Queiroz, bicampeão do Mundo Sub 20, e que conquistou pelo Sporting a Taça de Portugal de 1995; Jaime Pacheco, campeão pelo Boavista em 2001; e finalmente André Villas-Boas, que conquistou numa só temporada Campeonato Nacional, Taça de Portugal e a Liga Europa.

Todavia, poderemos fazer uma avaliação qualitativa, mais profunda, e graduar os três melhores treinadores portugueses de sempre, cruzando títulos conquistados com a referida graduação qualitativa, e em contextos vários, sejam técnico-tácticos, motivacionais ou comunicacionais, entre outros.

Bom, é consensual que José Mourinho será muito provavelmente o melhor treinador português de todos os tempos. Acumula títulos Europeus, assim como Campeonatos Nacionais em Portugal, Inglaterra, Itália e Espanha, e com outros troféus conquistados à mistura. A ambição, o carisma, a disciplina, a motivação, ou a comunicação, são características fundamentais do Special One. Comparar Mourinho a outros génios do treino, faria com que esses o deixassem de ser!

Nas profundezas das décadas de 40 e 50, identificamos o Mestre Cândido de Oliveira, jogador, Treinador, Selecionador, jornalista e um dos fundadores do Jornal A Bola. Deixou Mestre Cândido um extraordinário legado ao futebol português, e a Supertaça com o seu nome é um justo tributo do Futebol pela sua obra, quer como pensador ou estratega do futebol. No Sporting, Mestre Cândido foi bicampeão nacional na década de 40, e criou as fundações dos lendários “5 violinos”. Posteriormente, no FC Porto, já na década de 50, criou as bases para esse FC Porto conquistar 2 Campeonatos Nacionais nessa década, isto é, Yustrich e Guttman colheram o que Cândido de Oliveira semeou, e após 16 longos anos de jejum de títulos.

Para melhor conhecermos Cândido de Oliveira, e observarmos a uma distancia de 60 anos o quanto era visionário, fica a transcrição de uma carta de Mestre Cândido a Urgel Horta, Presidente do FC Porto em 1953: “Não há nenhum clube que fique eternamente no topo. Há que saber lidar com as derrotas, para se ficar mais forte, O importante é saber para onde se quer ir”. Eis uma genial visão estratégica e de crescimento de um clube, um pensamento com mais de 60 anos, e sobretudo, tão atual!

Finalmente, José Maria Pedroto, também ele um “adiantado mental”. Nas décadas de 60/70 fazia o escrutínio das crónicas jornalísticas com minúcia, para analisar e ou esmiuçar adversários, ou então, já no final da década de 70, introduzindo as estatísticas no futebol português (posse de bola, remates, faltas e afins), e sem as ferramentas tecnológicas atuais. Pedroto, em termos comunicacionais e motivacionais, desde sempre usou e abusou de um discurso truculento, sempre em busca de inimigos externos, para blindar e fortalecer os seus grupos de trabalho, era essa a sua "trincheira" para motivar e levar à superação das suas equipas. Aliás, Mourinho nesta era da comunicação, se bem com um formato diferente, tem o melhor Treinador do Mundo um conceito “Pedrotiano” muito marcado, quer em termos comunicacionais e motivacionais.

Este atual FC Porto de dimensão europeia tem muito de Pedroto. Aquele “marco” que o “Zé do Boné” sinalizou no síndrome da “travessia da ponte”, presentemente ainda identifica a “fronteira” daquele FC Porto de cariz regional, e este FC Porto de dimensão Mundial!