Para bem do futebol...

O jogo desta 4ªfeira será algo mais que um mero jogo de futebol, irão medir forças duas formas distintas de conceber o futebol: o famosa tiki-taka espanhol, contra o verticalidade vertiginosa de Portugal.

A Espanha tem um estilo de futebol centrado na posse e circulação da bola. Esta forma de pensar o futebol (designada de ‘association’, ou simplesmente tiki-taka) vai muito além da escola do Barcelona. Quem já viu jogar as seleções juniores de Espanha pôde constatar que esta forma de pensar o futebol está a ser enraizada em todos os escalões de formação do futebol espanhol.

Quem vê jogar o Barcelona, percebe facilmente que a eficácia do seu jogo passa invariavelmente pelo desviante Messi, porque é o único que consegue furar com a monotonia desta conceção de jogo (Iniesta também assume algumas vezes este papel). Ter a bola em sua posse significa, primeiramente, que o adversário não conseguirá marcar, logo este é um estilo manifestamente contra o futebol aberto, em prol do controlo do jogo. Ou seja, é um género de futebol negativo, porque pensa primeiramente em eliminar as investidas do adversário, amolecendo-o lentamente com o tédio de procurar em vão a bola, para depois, numa investida repentina, caçar a sua presa com facilidade.

A seleção espanhola, elevou ao extremo esta conceção (tal como o Barcelona na passada temporada) quando decidiu conceber um modelo de jogo sem referências fixas na frente de ataque, o que dá a sensação de um futebol sem balizas (que no Barcelona funciona por causa de Messi!). Este género de futebol é tremendamente eficaz, mas rouba a alma do futebol, que é a emoção, o futebol positivo, de ataque, que empolga as bancadas e os amantes de futebol. Agora, é perigoso que se torne num modelo a seguir, porque isso significaria acabar com a beleza do desporto-rei, e com os predicados que o tornaram no desporto mais popular de sempre.

O futebol que Portugal, ao contrário de Espanha, é um futebol positivo, jogado para a frente, em velocidade, com um meio-campo que tenta sempre verticalizar o jogo para as investidas rápidas dos alas. Esta característica deve-se muito às movimentações de Ronaldo (que aparece muitas vezes em zonas de finalização), mas também a Nani, que consegue imprimir uma velocidade vertiginosa no ataque.

Sob a batuta Moutinho, o jogo de Portugal é pautado pela simplicidade, com transições rápidas que resultam em situações de um-contra-um nos flancos, onde Portugal é muito forte. Estamos assim perante duas conceções de futebol muito distintas: uma especulativa negativa, contra uma positiva e empolgante. Neste particular o duelo ibérico é muito mais do que isso, representa o duelo entre o futebol aborrecido e a vertigem, entre a sonolência e a velocidade.

Para bem do futebol esperamos que no final ganhe o futebol positivo, porque isso representaria a vitória do futebol.