Rui Santos: "O campeonato português é uma farsa"

Rui Santos considera que o campeonato português, envolvido em várias polémicas fora dos relvados, "tem tudo para ser impugnado", nomeadamente devido às situações de salários em atraso.

"Em função do que aconteceu nos últimos tempos, sobretudo relativamente a esta questão dos salários em atraso, este campeonato tem tudo para ser impugnado", afirmou o comentador no 'Tempo Extra' deste domingo, na SIC Notícias.

Rui Santos citou o artigo 58.º do regulamento da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, onde se lê que haverá uma subtracção de três pontos a clubes que não pagam salários há mais de 60 dias, e recordou que recentemente Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, garantiu que há 80 por cento de clubes com salários em atraso.

"É caso para perguntar: porque é que os clubes não se queixam? Sendo assim, há clubes que deveriam perder três pontos e o campeonato fica completamente manchado na sua verdade desportiva. Ou não há 80 por cento de clubes com salários em atraso, e é grave para quem profere essa declaração, ou é verdade e há aqui qualquer coisa que tem de ser investigada. Qual o papel dos Técnicos Oficiais de Contas no controlo das contas dos clubes?", questionou.
 

"Quem quiser pode impugnar o campeonato" - Rui Santos esclareceu que não é só a U. Leiria que está em causa: "Há equipas que têm de perder três pontos, muitas até podem perder muitos pontos se for aplicada a lei. O campeonato está completamente posto em causa, quem quiser pode impugnar o campeonato porque há um artigo do regulamento que não está a ser aplicado".

Na opinião do comentador do Relvado, "o Governo deveria intervir enquanto o movimento associativo não se auto-regula. Está tudo a olhar para isto como se fosse uma situação não é normal, e não é. Tudo isto contribui para que o campeonato português seja uma farsa".

O comentador sugeriu que há certidões apresentadas junto da Liga "que não correspondem à realidade, pelos vistos são forjadas, o que é gravíssimo", defendendo a criação de um "novo momento de avaliação financeira", depois de dezembro e antes do final da temporada.
 

"Tudo para a rua" - Rui Santos deixou ainda no ar outras questões, em relação aos dirigentes no futebol nacional: "Não há ninguém que diga que estes senhores não merecem estar no lugar que estão? Que diga 'tudo para a rua!'? Mas alguém se salva neste naufrágio que é o futebol em Portugal? Creio que não".

"Os clubes nem sequer têm respeito pelos regulamentos que aprovam, não querem saber", acrescentou o comentador, antes de falar sobre o caso concreto da União de Leiria e da "figura triste" do presidente da sua SAD.

João Bartolomeu, ao acusar por exemplo um jogador de ter roubado seis mil euros mas depois desmentir, "é alguém que perdeu o equilíbrio e a noção das coisas. Disse que a U. Leiria não ia jogar contra o Benfica, depois já havia condições... É claro que houve aqui jogadas de bastidores, a desistência da U. Leiria servia a uns e a outros não".

O assunto liguilha também foi abordado pelo comentador: "Querem recuperar os jogadores porque vem aí a liguilha. Mas qual liguilha? Não foi aprovada e espero que nunca seja aprovada. Isto é brincar aos futebóis, não pode ser", lamentou.
 

Jorge Jesus e o FC Porto - A permanência de Jorge Jesus no comando técnico do Benfica tem sido um dos temas mais comentados. Rui Santos referiu que têm surgido "sinais importantes no sentido da continuidade" do treinador que, "para continuar na Luz, não poderia permanecer a ideia que algo poderia acontecer em relação ao FC Porto, ficando o Benfica 'com as calças na mão'".

Jesus negou, há poucos dias, uma eventual mudança para o Dragão, afirmando que "quem chega ao maior clube português não quer andar para trás". Para Rui Santos, esta foi a "declaração chave. Na óptica de quem defende o Benfica era necessário que dissesse publicamente o que disse. Jesus foi levado um pouco para esta situação de ter de confessar que está bem no Benfica e que não há qualquer hipótese de se mudar para o FC Porto", explicou, recordando que este um assunto já não era novo, quer a contestação encarnada, quer a possível ligação com o FC Porto.

O comentador acredita que, nos últimos tempos, houve um período de avaliação por parte de Luís Filipe Vieira para se decidir se Jesus ia ou não cumprir o contrato: "O Benfica não foi totalmente rápido para calar a contestação, mas agora o próprio presidente deveria esclarecer, em breve, a situação do técnico".

Um eventual despedimento levaria a uma indemnização cara ao treinador. Será isso fundamental? "É um ponto que pode ter alguma influência, mas não será decisivo, Jesus é um treinador muito importante na história recente do Benfica, conseguiu nos últimos anos o que outros treinadores não conseguiram", defendeu Rui Santos.

Veja aqui os comentários de Rui Santos no programa 'Tempo Extra':

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