Três galos para um só poleiro

À semelhança da eleição de Luís Duque, também na eleição de Pedro Proença como presidente da Liga de Clubes dá a sensação de que foi apenas uma estratégia para alcançar o poder por parte de determinados clubes. Ao invés de surgirem várias personalidades e avançarem para uma candidatura de livre vontade, apresentando o seu projeto, fica-se com a ideia de que cada presidente de um clube escolhe o seu candidato. O candidato que melhor possa servir os interesses do seu clube, e não tanto pelo bem comum, e supostamente é essa a razão de ser da Liga de Clubes.


Bruno de Carvalho apresentou propostas para modernizar o futebol português, mas entrou em conflito com tudo e com todos de uma só vez. Mal ou bem, mexeu com o "sistema", e o "sistema" tentou isola-lo, provocando-o, escolhendo Luís Duque para a presidência da Liga, quando é sabido que a atual direção do Sporting moveu um processo em tribunal contra Luís Duque. Nessa altura, Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira estavam em total consenso um com o outro, algo que há muito não se via desde que Luís Filipe Vieira deixou a presidência do Alverca. Era portanto, algo inédito desde que Luís Filipe Vieira era presidente do Benfica. Bruno de Carvalho, tinha de facto, mexido com algo.


No entanto, para Pinto da Costa, Luís Duque era uma figura que estava de passagem, e não era de todo o seu presidente. Não foi do acaso que Pedro Proença se retirou da arbitragem a meio da época. Bruno de Carvalho, percebendo que a sua política de conflito permanente não iria fazer valer as suas ideias para o futebol português, começa desde logo a dar "graxa" a Pedro Proença. Deverão estar lembrados da célebre homenagem do Sporting a Pedro Proença, em que lhe foi oferecido um quadro com um retrato de um leão.


Pinto da Costa faz avançar o seu candidato, e Bruno de Carvalho apoia essa mesma figura. Já Luís Filipe Vieira nunca poderia apoiar Pedro Proença pelas razões conhecidas, e dá o seu apoio a Luís Duque.


Com a eleição de Pedro Proença, o "sistema" poderá estar neste momento algo equilibrado entre FC Porto e Benfica, e com o Sporting a tentar ter algum poder nos organismos, tendo apoiado o candidato que à partida era espectável que viesse a ganhar as eleições, e também porque seria impensável apoiar Luís Duque.


Se a FPF e o conselho de arbitragem neste momento dão a sensação de que servem os interesses do Benfica, a Liga está representada pelo candidato do FC Porto, e de certa forma, também do Sporting, o que só por si já faz com que a FPF tenha um maior cuidado em relação às suas posições. Repare-se que FC Porto e Sporting eram favoráveis ao sorteio dos árbitros, enquanto que o Benfica aparentemente ficou algo em pânico com essa possibilidade, face à forma algo revoltada com que o dirigente do Benfica saiu precocemente da reunião da Liga em que os clubes aprovaram o regresso ao sorteio dos árbitros. Já a FPF não teve qualquer sensibilidade em relação à posição dos clubes, e é o Benfica quem fica satisfeito com o "não" da FPF.


O futebol português é isto, e duvido muito que algum dia haja uma mudança de paradigma. Por enquanto, vamos continuar a assistir a uma cada vez maior falta de transparência para com o consumidor, estádios vazios, arbitragens desastrosas, etc... Uma pena que se chegue à conclusão de que só quando o futebol português bater no fundo é que poderá ser regenerado para melhor, com total transparência para com o consumidor desta grande indústria, que são os adeptos. Embora os adeptos também tenham culpa neste estado de coisas. Se o adepto vir a sua equipa ser beneficiada de uma forma constante pelas arbitragens, apelida os rivais de "aziados", e quando a sua equipa perde, a culpa é dos "proenças". O futebol em Portugal é também um espelho da realidade do povo português, que continua pobrezinho em muitos aspetos.