Rui Santos afirma que Godinho Lopes pode ser vítima de Pereira Cristóvão

O "caso Cardinal" é mais uma "prova" da "mentira que é o futebol" português. Rui Santos analisa assim a mais recente polémica do desporto-rei nacional no "Tempo Extra" que foi transmitido no domingo, na SIC Notícias. O comentador atesta que "infelizmente a corrupção grassa no futebol em Portugal há muitos anos".

"A podridão que está instalada no futebol não é de hoje, é de há muito anos", lamenta Rui Santos, notando que "o Apito Dourado foi uma oportunidade perdida para varrer muita da porcaria que está instalada no futebol". "Estou há 36 anos nisto, tenho ouvido muita gente, tenho ouvido muitas histórias, e já ouvi o suficiente para acreditar muito pouco nas pessoas do futebol", desabafa o comentador deixando um desafio àquelas que "ainda estão por bem", que "estão limpas". "Não devem conformar-se, não devem fechar os olhos e tapar os ouvidos, devem ser determinadas, denunciar estas situações e não apoiar quem não merece ser apoiado", aponta.

Rui Santos entende que neste caso está em causa não apenas "a longevidade" da direção de Godinho Lopes, mas "é uma questão que pode abalar os próprios pilares do Sporting". "É uma situação grave que não deve ser desvalorizada", constata, notando que o caso "vai marcar os próximos tempos da vida do Sporting" e que "os adeptos não podem deixar de ficar preocupados".

O comentador entende que "o presidente do Sporting pode cair a curto prazo", conforme a sua tomada de posição neste caso, e espera que Godinho Lopes tome uma atitude clara e decisiva. Rui Santos fala em "receio e medo" dentro da estrutura do clube, notando que se especula sobre a "possibilidade de escutas". "As pessoas no Sporting têm medo de tomar uma posição, em função de chantagem, de ameaças de que possam ser vítimas, e espero que isso não aconteça com Godinho Lopes", constata.

Rui Santos repara que "Paulo Pereira Cristóvão tem o poder efetivo no Sporting"; "ele era, ou é, a figura número 2 do Sporting, uma espécie de braço-direito de Godinho Lopes", realça. "Não sei se é um braço-direito colocado à força, se neste momento Godinho Lopes está um pouco acossado e condicionado por aquilo que é uma estratégia tentacular de imposição de força de alguém que está a tentar explorar as fragilidades de algumas figuras, designadamente do próprio presidente", analisa o comentador.

Para o especialista desportivo é óbvio que o presidente do Sporting não terá sido "apanhado de surpresa" com este caso, referindo o contrato existente entre o clube e a empresa de Paulo Pereira Cristóvão que aparece implicada no caso. "O presidente do Sporting tem que ter a noção exata daquilo que está em causa", considera. "Se for verdade aquilo que está na comunicação social, estamos a falar de assuntos que não têm a ver só com o caso Cardinal, têm a ver com outras situações e isso tem que ser apurado", frisa, notando que "envolvem os próprios jogadores do Sporting" e a alegada espionagem à sua vida privada. "Isto é gravíssimo", sustenta Rui Santos, falando de "um comportamento horroroso, absolutamente deplorável".

Notando que Paulo Pereira Cristóvão "ganhou um grande protagonismo no Sporting" e que teve "influência, pelos vistos, na colocação das fotografias no túnel de Alvalade", além de ter aparecido na chamada "caixa de segurança" do Estádio da Luz, Rui Santos fala de "um dirigente com força" e admite que "não é seguro que o Sporting não possa ser penalizado em razão deste comportamento". Uma eventual sanção "vai depender muito daquilo que se provar em termos de investigação relativamente ao envolvimento, ou não, do presidente do clube que é também o presidente da SAD", constata.

Rui Santos não deixa de confessar alguma "surpresa" com o "total amadorismo" revelado no caso, designadamente por estar em causa "um ex-quadro da Polícia Judiciária que supostamente devia conhecer estes meandros e como é que estas coisas acontecem e as repercussões que podem ter num caso em que as coisas não corram bem".

Realizando de algum modo o enquadramento do caso, o comentador lembra que há "memória de situações em que José Cardinal não terá decidido bem" em jogos do Sporting, citando designadamente a final da Taça da Liga contra o Benfica, e apontando que terá sido isso que motivou a suposta armadilha a este árbitro assistente em específico.

O comentador também destaca que esta direção criou "uma grande onda de expetativa em relação à equipa de futebol" quando assumiu as rédeas do clube, tomando uma postura de "tentativa de corte" com a ideia de um "leão manso que não fazia mal nenhum e que não tinha força nos bastidores do futebol". Depois de ter iniciado "muito mal a época", com um empate com o Olhanense, num jogo onde o comentador afiança que os leões têm "razões de queixa da arbitragem", o clube criou logo um "movimento", de certa forma "liderado por Eduardo Barroso, através das suas prestações televisivas", para criar ainda mais pressão sobre a arbitragem, considera.

O comentador fala ainda do caso de João Ferreira, que se recusou a apitar o jogo dos leões contra o Beira-Mar, e do Sporting- Marítimo apitado por Artur Soares Dias em que os madeirenses ganharam por 3-2. Ora no novo embate entre os dois clubes, que terá sido precedido pelo "caso Cardinal", os leões venceram por 3-0. "Ao intervalo estava 0-0 e Paulo Pereira Cristóvão teve uma atitude que lhe valeu uma reprimenda pública das autoridades no local, e o Sporting acabou por vencer esse jogo por 3-0", repara Rui Santos.

O analista da SIC Notícias e do Relvado atesta por fim que estes tipo de comportamentos "não são inéditos em Portugal". "São cópias de algumas situações passadas há muitos anos no futebol em Portugal, com estas pessoas a criarem medos, pressões, coação para tirarem vantagens do ponto de vista pessoal, profissional e do poder que podem exercer sobre as instituições e isto parece de uma gravidade total", conclui.