Afinal porque é que os sportinguistas são diferentes?

É nestas coisas que passas o dia a pensar? Será que não consegues ver que ao escreveres estas merdinhas, estás a apresentar-te como falso moralista e arriscas a partir os teus próprios telhadinhos de vidro? Vens tu, grande Benfiquista, questionar o porquê que os Sportinguistas são diferentes... Vens tu, grande Benfiquista, perguntar porque não temos nem nunca tivemos a mania que somos os maiores nem os melhores. Vens tu, grande Benfiquista, demonstrar que és tu, grande Benfiquista quem se preocupa com o Sporting. Vens tu, grande Benfiquista, afirmar que os Sportinguistas vivem para celebrar as derrotas do teu clube. E vens tu, com esta distinta lata, afirmar estas coisas, como se elas fossem reais, únicas, e como se o oposto não se passasse. Pá...tu sabes a resposta ao que perguntas. Somos diferentes porque não nos achamos superiores ao ponto de acreditarmos que o que nos motiva é a desgraça do teu clube. Somos diferentes porque não andamos a medir o tamanho das proezas nem a quantidade de vitórias nem o numero de sócios. Vou-te dizer algo que ainda não sabes. O Sporting é o Sporting. O Benfica é o Benfica. São coisas diferentes, ok?

Mas sei disto. Permitem-me umas memórias???? Ok. Cá vai.... O meu primeiro Benfica. Cresci no meio de emoções. No meio de sensações, emparedado entre o tacto pianistico de Chopin, o coni-linguístico de Henry Miller e a tesão de Zeca Afonso. Eram todos geniais estes três amigos, três estarolas, carolas, todos umbilicais, e eu, criança curiosa mas furiosa, imaginava-os a torto a direito. Sem preconceito. (Vou ocultar o quarto elemento , mas é sem maldade. Não há necessidade de apontar o dedo ao pool. Ao alcool. Ao snoker e aos buracos civilizacionais, às gorduras vaginais, aos bacanais, a tudo que termine em ais, pois é feio apontar. Muito feio...Ai!!!) Pensava nas notas etéreas de Chopin e via uns pulmões em forma de tubérculo , batata, precoce tuberculose, brônquios corrompidos, dedos compridos e brancos, nocturnos os bancos, neblinas filipinas, polkas e mokas, grandes estas mocas, as moças, as tripes e as diatribes. Pensava nos preludios, nas polonesas tesas, na folia e nos entrefólios, na sinfonia ,na cacofonia, na inveja de Lizt, na disque, na discoteca adivinhada nas ondas de um piano, nas ondas marinhas, no oceano pacifico, na solidão de um fulano, cubano, ou se calhar apenas polaco. No fracasso da sorte. Maldita sorte...maldita morte. Pensava nos trópicos de Miller. No de Capricórnio sem escárnio e no de Cancer nada cancerigeno. No Sexus lido às escondidas, no Nexus sem amplexos, no Plexus sentido no colo da vizinha sem complexos. Na ousadia. Pensava na Anais. Na Maria de Medeiros , musa, a mais linda Nin, na noite sem fim . Pensava na tântrica vontade. Na liberdade. Pensava nos acordes de Zeca. Nos fiordes ancestrais. Na musica popular mas tão moderna, na rima de taverna, nas letras desafiantes, nos refrões lancinantes, na voz vinda das profundezas marinhas, na guitarra dedilhada como uma espingarda, uma G3 militar contra a repressão, pensava na libertação e na alucinação, na Revolução. Pensava em cravos ensanguentados, no Alentejo e na Reforma Agrária, na area do Ultramar e no sacrifício, no Santo Ofício calado, escarrado, mudo, envolto em Avés Marias, pensava na Maria viúva, na vulva adormecida, na Arcebispiada , no Fado de Coimbra, na Nossa Senhora do Almortão. Pensava e nada me fazia soltar da solidão. Pensava... Matutava... Eis que senão, aparece um campeão. Um Benfica de Chalana como asa de avião. Um Benfica de Carlos Manuel como locomotiva movida a carvão e mel. Um Benfica de Bento, reflexos felinos, rapidez do vento. Um Benfica de Pietra, cabelos longos onde o medo não penetra. Um Benfica de Toni, sensibilidade, humanidade, futebol maior que o vinho e a sobriedade. Um Benfica de Humberto Coelho, colocação, invasão, inteligência de um bom conselho. Um Benfica de Paneira para esmurrar a pasmaceira. Um Benfica de Filipovic melhor que um trago de Porto, hic. Um Benfica de Bastos Lopes, frieza e colocação, nem precisa de pinotes. Um Benfica de Diamantino, diamante puro e altino. Um Benfica de Alvaro, alvará, certidão, aliança ou promessa de amparo. Eis o Benfica que me salvou da perdição. O Benfica campeão. O Benfica maior que o piano de Chopin, o Benfica mais sensual que o erotismo de Miller, o Benfica mais vermelho que Zeca Afonso. O meu Benfica... Um Benfica diferente...