Abel: "Às vezes penso em terminar carreira" | Relvado

Abel: "Às vezes penso em terminar carreira"

Em entrevista ao 'Relvado' o defesa passa em revista a época leonina, que considera "vergonhosa". E
 

Abel é uma das vozes mais respeitadas no balneário do Sporting. Com a habitual frontalidade, o defesa direito fez um balanço da terrível época leonina, em exclusivo ao Relvado. Uma temporada que assumiu contornos pessoais ainda mais dolorosos, devido à grave lesão que sofreu no joelho direito, num dos últimos treinos da época.

"Foi o pior momento da minha vida! Ainda por cima nunca tinha sofrido qualquer lesão grave na carreira, ao todo devo ter estado parado um mês se somarmos todos os pequenos impedimentos que tive... A recuperação é dolorosa e às vezes passa-me pela cabeça terminar a carreira!", confessa.

Abel conta como é o seu dia-a-dia. "Faço seis horas diárias de fisioterapia na Academia, três de manhã e três à tarde. É complicado porque quando termino as sessões chego ao meu quarto e verifico que o joelho está igual ou pior... Mas o que me anima é que no dia seguinte quando acordo verifico que há uma ligeiríssima melhoria, o que faz com que continue a trabalhar. É um teste à minha resistência", refere.

Mas agora... chega de lamentações! "Para inverter o processo não posso pensar que não deveria ter disputado aquele lance no qual acabei por me lesionar. Tenho de aceitar que aconteceu e que depende de mim tentar recuperar bem e voltar a jogar", sublinha.

O defesa explica como sofreu a lesão. "Foi um lance típico neste tipo de problemas. A bola ia para o lado direito e depois tomou outra direção. Fiz uma rotação repentina com o pé esquerdo, mas o direito não acompanha a rotação do corpo, que rodou sobre o joelho", recorda.

Abel não quer estabelecer um prazo de recuperação: "Neste tipo de lesões, já vi jogadores ficarem ótimos após quatro meses e outros que tiveram de acabar a carreira...Tenho de ir com calma".

Esta lesão aparece na pior altura, pois está a poucos dias de ser pai pela segunda vez (mais uma vez de uma menina) e assim não estará nas condições ideais para prestar apoio à sua mulher, uma vez que como é natural tem de se deslocar com o auxílio de canadianas. 

À espera do Sporting

Abel tem sido dado pela imprensa como um dos jogadores a dispensar para a próxima época. No entanto, a grave lesão sofrida e a necessidade de uma recuperação longa e bem-sucedida poderá levar à renovação do seu contrato por mais uma temporada. "As pessoas responsáveis falaram comigo e transmitiram-me toda a tranquilidade. Neste momento, há outros dossiers com prioridade maior que o meu, mas penso que o meu futuro passará pelo Sporting. Vou esperar por um contacto", afirma.

O experiente futebolista não se sentiu melindrado por ter sido dado como dispensável ao longo das últimas semanas, "pois ficar a 36 pontos do FC Porto foi vergonhoso e por isso é fácil pegar num pau e bater nos jogadores, uma vez que todos eles se desvalorizaram".

Abel não foi utilizado muitas vezes como titular esta época e somou 23 jogos, em todas as competições. E lamenta que Paulo Sérgio lhe tenha "tirado o tapete" numa altura em que estava a jogar bem. "Saí da equipa no meu melhor momento, sem qualquer justificação. Custou-me muito... No entanto, tive de aceitar a decisão do mister", defende.

O lateral leonino não jogou muito, mas ficou feliz com o rendimento. "Foi a minha melhor época no Sporting, não em quantidade, mas em qualidade. Fiz três golos e quatro assistências e houve uma altura em que até se dizia que o Sporting só ganhava quando o Abel jogava", lembra.

A polémica saída de Liedson

Liedson abandonou o Sporting no início de fevereiro, deixando o ataque órfão de uma referência, algo que nunca foi muito bem entendido pelos adeptos, até porque não chegou ninguém para o seu lugar. Abel lança algumas críticas ao ex-companheiro de equipa. "Eu com a idade que tenho [32 anos] ganhei a liberdade de dizer o que penso. O Sporting tem de ficar com os jogadores que querem continuar no Sporting. E o Liedson não queria ficar no Sporting. Às vezes defendem-se os jogadores quando não se deveria e outras vezes não se protegem os jogadores quando seria aconselhável. Ou seja, neste caso, o jogador em questão deveria ter sido exposto, para que as pessoas saibam a verdade", assume.

Abel reconhece "a grande capacidade goleadora de Liedson" mas garante que o levezinho "não estava motivado para continuar e por isso saiu quando tinha de sair".

Época horrível

Abel não tem medo das palavras e usou várias vezes a palavra "vergonhosa" para qualificar a época do Sporting, marcada por uma série de acontecimentos atípicos. Recorde-se que no espaço de sete meses sairam de Alvalade o capitão, dois treinadores, o diretor desportivo e o presidente. Não sendo recorde mundial, dá que pensar... 

"É uma temporada para ser lembrada, foi um desastre completo e não se podem cometer erros semelhantes. A verdade é que houve algumas pessoas que pensaram mais no eu do que no nós, isto sem querer desculpar o papel que os jogadores e a equipa técnica também tiveram nesta má época".
Críticas implícitas ao ex-presidente José Eduardo Bettencourt e ao antigo diretor desportivo Costinha? "Deixo essa questão no ar para as pessoas pensarem". Para bom entendedor...

No entanto, diz que os jogadores não podem sacudir a água do capote "e também são responsáveis, sendo impensável que se sofram várias vezes três golos em casa [V. Guimarães, Naval e Paços de Ferreira]".

O defesa reconhece que a agitação diminuiu consideravelmente com a chegada da nova direção, liderada por Godinho Lopes. "As coisas estavam tão más, que qualquer ajuda e palavra de carinho seriam bem-vindas... Mas sem dúvida que as pessoas que entraram trouxeram uma grande vontade de mudança e chamaram o público de volta. Numa altura em que a equipa de futebol até nem estava a ajudar, estiveram 35 mil pessoas no jogo com o Vitória de Setúbal, o que é sinal de um trabalho estrutural que tem de ser elogiado", realça.

José Couceiro é alvo de grandes elogios. "Assumiu a equipa numa altura muito complicada e a verdade é que conseguiu alcançar o objetivo que restava, conservar o terceiro lugar. As coisas podiam ter "descambado", mas ele conseguiu aguentar o barco", destaca.

Durante a campanha eleitoral, Luís Duque, atual homem-forte do futebol leonino, disse que precisava de "um cheque e de uma vassoura" para fazer uma revolução no plantel. Abel garante que não ficou melindrado com essa frase. "Não direi que vale tudo nas campanhas eleitorais, mas todos sabemos que se dizem coisas que vão de encontro ao que as pessoas querem ouvir...A equipa não estava a render e é natural que se "peçam cabeças". Mas não acredito que ele tenha dito isso com o intuito de desrespeitar os jogadores", sublinha. 

Análise aos concorrentes

Um dos futebolistas que não deverá permanecer no plantel é Cedric, concorrente de Abel na lateral direita e que só fez quatro jogos esta época. O mais experiente acha que o jovem de 19 anos deve ganhar experiência, "pois apesar dele ter enorme potencial, o importante para ele é jogar, seja no Sporting ou noutro clube, pois os jogadores não evoluem apenas a treinar". Mas com João Pereira no plantel, diz, "os outros concorrentes correm o risco de ficar sempre na sombra".

De resto, Abel considera João Pereira "um dos melhores laterais portugueses, apesar da baixa estatura". E não se escusa a comentar a polémica expulsão do camisola 47 no último jogo com o Portimonense, em Alvalade. "Na minha opinião, quem quer que insulte um árbitro, chame-se Cristiano Ronaldo ou 'Zezinho', devia ir para a rua. Mas é pena que os árbitros tenham medidas diferentes quando dois jogadores de equipas diferentes têm o mesmo comportamento, isto sem querer desculpar a atitude do João Pereira", vinca.

O lado tranquilo do senhor professor

Abel é conhecido entre os jogadores do Sporting como 'o professor'. A razão é simples: tem o curso de Educação Física, que concluiu quando jogava no Vitória de Guimarães. E tem sempre livros à mão nos estágios. "Estou constantemente a ler, é um dos meus hóbis. Pode ser um livro de Economia e logo a seguir um de Psicologia, por exemplo. Também gosto muito de ler o jornal", conta. E faz-se sempre acompanhar do computador para os estágios.

O defesa de 32 anos é a imagem da tranquilidade. "Quase nunca me irrito. E se há o mínimo de problemas com algum colega ou com o treinador, procuro resolver tudo na hora", conta. 

Abel é um grande apaixonado de desportos motorizados e até esteve no Estoril no recente Grande Prémio de Motociclismo.
Considera-se um bom garfo e o seu prato preferido é cozido à portuguesa, "de preferência com um vinho branco bem fresquinho"

Mensagem aos adeptos

A terminar esta entrevista, João Pereira deixa uma mensagem aos adeptos do Sporting. "Eles mostraram que estão connosco nestes últimos jogos e que acreditam no clube. Podem ter a certeza que nós vamos lutar pelo título na próxima temporada. Precisamos do apoio deles e espero que tenham paciência quando surgir um outro deslize", pede.

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Comentários [33]

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E fazem bem. A ter mancos por

E fazem bem. A ter mancos por ter, mais vale ter os que já se conhece. Olha, e o Cristiano lá recebeu guia de marcha.

Pois

Foi a muito esforço, confesso, que me aguentei a ler o resto.

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Quem não está bem tem que se mudar!