O futebol português

Para mim o principal factor na qualidade e tipo de jogador em cada país, depende sobretudo da cultura futebolistica popular. As escolas de futebol apenas aperfeiçoam, um trabalho que começa nas ruas, nos pátios, nos ringues. É aí que se começam a definir as caracteristicas dos jogadores portugueses. Felizmente, embora sempre existam os descrentes em talento individual (provavelmente pela ausência do mesmo neles próprios), severos e histéricos, clamando os famosos "passa a bola, leva a bola para casa, futebol não é circo...", a maioria dos portugueses ainda continua atraída pela estética, incentivando-a. E enquanto o maior elogio for para o jogador tecnicista que dribla, será esse o tipo de jogador que produziremos. Em Itália há putos a tentar imitar o Cannavaro...em Portugal querem bailar como o Figo, pedalar como o C.Ronaldo. Aqui, nos ringues, nas ruas, nos pátios, marcar um golo fácil, não é certamente O Momento. Há ainda portanto, uma liberdade não europeia, não só no futebol mas em outras áreas, fruto talvez da nossa História que nos posiciona entre-culturas. No futebol em particular, conseguimos chegar a um proveitoso equilíbrio, absorvendo conceitos europeus mais rígidos, sem nunca abdicar dos outros valores que primeiro se implantaram no futebol português (o primeiro da Europa, por exemplo, a descobrir Africa e a sua genética, com Coluna, Matateu e Eusébio) Quanto à genética. Embora continue a pensar que não será tão importante como a cultura futebolística, tem sem dúvida um peso grande sobre o jogador de cada país. Os povos latinos, dentro da Europa, parecem partilhar essa maior facilidade de interacção com a bola, embora fisicamente percam em toda a linha para os outros. Eu tenho estado bastante atento a essa relação futebol-genética e fazendo futurismo, acredito que a zona do Globo onde o futebol tem maior probabilidade de evolução seja no mundo árabe e não em Africa, opinião mais comum. Vejo ali, além da cultura futebolística apropriada(embora tacticamente muito atrasada), uma relação espantosa com a bola. O jogador africano puro, é fisicamente imbatível, mas não tem, na minha opinião, a mesma suavidade de toque de latinos ou árabes. Há no entanto, uma genética superior a todas…o mulato. Para mim não é coincidência , a produção em série de craques brasileiros. Muitos falam dos 180 milhões de habitantes, desvalorizando-a…meus amigos, façam a proporção. O Brasil é imbatível. Além da cultura, o grande número de mulatos, muito contribui para isto. Mas não é “qualquer” mulato…é precisamente o cruzamento entre latino e africano. A componente atlética do africano, a relação latina com a bola. É curioso verificar que mulatos de outras misturas, não parecem comungar das mesmas características. Sobre a altura. Muito pertinente a questão. É só ver jogos antigos e percebe-se que havia grande inferioridade dos portugueses em relação aos outros europeus. Há pouco tempo em conversa com um amigo, eu baseava-me nisso para o facto de em Portugal ainda se elogiar tanto jogadores como Fernando Couto ou Bruno Alves, centrais sofríveis(na minha opinião um pouco polémica)que vivem da superioridade física para recolherem respeito. É que imagino que quem cresceu, habituado a ver Portugal sucumbir no jogo aéreo e no confronto físico, tenda a valorizar mais um jogador que apareça e faça esquecer essas “deficiências”. O problema é que hoje, essa inferioridade já quase não existe e já não é necessário o Adamastor Salvador, a tirar bolas de cabeça da nossa área. Um pouco como as nordicas que aqui vinham nos anos 90 e deixavam os homens malucos, quando na verdade a morena portuguesa até é mais bonita… Aconteceu que os portugueses cresceram e passaram a ter uma média de alturas que será provavelmente a melhor para o futebol. Centrais de 1m85, os habilidosos um pouco mais baixos. Ao mesmo tempo, os outros povos também cresciam, e se é verdade, que menos que os portugueses proporcionalmente, acabaram por ficar com medias de alturas não muito apropriadas para o futebol. Homens de 1m85 para cima, é muito difícil, terem coordenação motora para darem bons jogadores(e existem aos montes em outros países). E se uma Alemanha, por exemplo, já teve os pequenos Muller, Overath, Littbarski, Hassler, hoje será mais difícil achar alemaezinhos que possam dar esse toque miudinho de mais classe, à musculada selecção nacional.

Existem aí uns paralelismos pouco credíveis para sustentar a tese do autor do artigo tais como a ideia de que o Brasil também é bom em futebol porque foi uma colónia nossa. Os brasileiros têm uma ideia diferente quando entram em comparações connosco, pelo contrário eles acham que se tivessem sido colonizados pelos anglo-saxónicos seriam bem melhores, não em relação à habilidade pelo futebol mas sim em relação ao desenvolvimento sócio-económico. O Brasil tem cerca de 40% (ou mais) de descendentes de portugueses mas é uma nação onde há de tudo desde descendentes de italianos e alemães (mais a sul), japoneses (mais em S.Paulo Estado), negros e mulatos (nesse particular somos muito bons porque nos soubemos misturar bem com qualquer etnia e não raça porque raça é uma só a humana). O futebol nasceu quase na mesma altura no Brasil que em Portugal (e foram os ingleses lá, aqui e em quase todo o lado a introduzi-lo, não apenas o jogo mas os clubes que são a essência e a virtualidade maior do desporto como agregação de gente em torno de um logotipo), tivemos caminhos diferentes e só a partir da década de 50 tivemos importações a nível de jogadores e treinadores do Brasil - Otto Glória, Yustrich, Flávio Costa e outros trouxeram para Portugal a organização que faltava em Portugal a nível de treinamento diário e de organização desportiva. Antes deles fomos influenciados pelos ingleses (início do século XX) e húngaros que eram do melhor que havia na década de 30, a 2ªguerra mundial e o nazismo fizeram abortar essa brilhante escola. Agora a questão de "sermos baixos"; Foi assim mesmo até meados dos anos 70, era normal termos defesas centrais com 1,70 e menos e médios atarracados, tinhamos equipas de bom futebol mas que a nível internacional não brilhavam com escepção da década de 60 com importação de africanos das ex.colónias morfológicamente mais bem dotados, quando esse filão esgotou, fruto do 25 de Abril, penamos e não conseguimos ir a fases finais dos campeonatos europeus e mundiais. A partir da década de 80 tudo mudou, o pão tinha chegado a todo o lado (fruto do 25 de Abril) e o português alimentado a broa, batata ,arroz, algum peixe e pouca carne mudou. Teve aquilo que os outros tinham e cresceu mais, tornou-se mais forte e igual a toda a gente (o mesmo se passa na China hoje em dia, o chinês típico de 1,60 ou menos já tem 1,70 de média e aparecem atletas com 1,90 e mais). Hoje para se ser central bom tem que se ter mais de 1,82 e temos vários, médios idem e até laterais com 1,80 para cima. Temos uma economia frágil mas que pode melhorar, todos os produtos que existem nos mais países mais ricos estão aí à venda se há quem não os possa comprar é uma coisa mas eles existem. No meu tempo de menino não havia iogurtes, farinhas lácteas, não havia nada e eu até era de uma família rica. Lembro-me que para comprar certos produtos estrangeiros, como fruta tropical, só havia uma casa na cidade do Porto. Na escola primária só eu e mais dois ou três tinhamos sapatos em número de 3 a 4 pares, muitos colegas meus andavam com sapatos rotos e não havia sapatilhas, a cantina dava sopa a 99% dos alunos que tinham apenas uma refeição por dia. O mundo mudou em Portugal, há muita coisa que não foi feita e que precisa de ser incrementada mas não comparem com a década de 50 e mesmo 60.