Euro'12: há quem complique, mas Varela resolve (crónica)

Ao 2-0 parecia tudo bem encaminhado. Mas quando se defende mal o adversário pode perfeitamente empatar. Varela depois apareceu e Portugal derrotou a Dinamarca por 3-2, em partida da segunda jornada do Grupo B do Europeu 2012.

Bom arranque dinamarquês - Foi a Dinamarca a começar melhor. A aproveitar sobretudo "buracos" no lado esquerdo da defesa lusa - Cristiano Ronaldo não desce e Fábio Coentrão ia falhando na marcação - os dinamarqueses tentavam criar perigo na área, mas sem sucesso. Portugal não encontrava soluções ofensivas, faltavam espaços e vivia à base de cruzamentos, sem o desfecho adequado.

O cenário foi este no primeiro quarto de hora, no momento em que Zimling (que estava em dúvida para a partida) se lesionou, sendo substituído por Poulsen, que mal entrou viu Ronaldo com espaço à entrada da área, mas este rematou muito torto. A culpa era da relva, queixou-se o extremo.

Jogo mudou e golos surgiram - Estavam decorridos 23 minutos quando, num livre marcado por Miguel Veloso, Hélder Postiga esteve perto de desviar para o golo, mas um defesa desviou a bola para a linha final. O golo surgiu mesmo na sequência do pontapé de canto: João Moutinho cruzou do lado esquerdo e Pepe, mais rápido ao primeiro poste, marcou de cabeça o primeiro golo de Portugal no Europeu 2012, tal como o tinha feito no Europeu 2008.

Era o reflexo da mudança que se via na partida: a Dinamarca praticamente deixou de atacar, mal tinha a bola no sector ofensivo, e era Portugal quem dominava. Logo a seguir Ronaldo conseguiu um grande passe para Postiga, mas o avançado atrapalhou-se um pouco e permitiu o corte de um adversário. Seguiu-se um livre de Ronaldo, muito perto da área, desviado pela cabeça de Poulsen.

Eram várias as ameaças, como que a prever o segundo golo português, que surgiu pelo pé de Postiga. Nani correu pelo lado direito e, quando todos esperavam o cruzamento, fez um passe rasteiro para a linha da pequena área onde apareceu o avançado do Saragoça a atirar forte para o canto da baliza de Andersen. 2-0 aos 35 minutos.

Dinamarca respondeu - Foi então que apareceu o primeiro remate da Dinamarca à baliza, por Eriksen, travado por Rui Patrício a dois tempos. Um certo relaxamento terá se apoderado dos jogadores lusos, que deixaram os adversários subir no terreno com maior frequência.

Tanto subiram que marcaram. Jacobsen teve espaço, cruzou para o segundo poste, onde houve um toque de Krohn-Dehli de cabeça para Bendtner, que estava sozinho. A defesa esqueceu-se de recuar e o avançado, a um metro da baliza, só teve de encostar de cabeça, com Patrício já fora da jogada.

Antes do intervalo podia ter chegado o terceiro golo português, quando Nani cruzou, Postiga e Andersen chocaram, Ronaldo tentou a recarga mas o defesa mais rápido, mantendo o 2-1 até ao descanso.

Contra-ataques não resultaram - Os dinamarqueses entraram na segunda parte com claramente mais posse de bola, maior pendor ofensivo e mais iniciativa, como era esperado. E Portugal podia ter aproveitado em dois contra-ataques. Nani lançou Ronaldo e este, mais lento e hesitante do que é habitual, correu, correu e fez quase um passe para Andersen. Na recarga, Postiga nem dominou a bola. Poucos minutos depois, uma oferta da defesa permitiu que Postiga ficasse com a bola perto da área, mas este foi lento e a defesa cortou.

À passagem do quarto de hora da primeira parte, Zimling lesionou-se. Aos 15 minutos do segundo tempo Rommedahl também saiu devido a lesão, entrando Mikkelsen.

Defender pouco ou mal - Foi por esta altura que recomeçou o filme do "buraco" do lado esquerdo da defesa lusa. Ronaldo continuava sem defender, Coentrão parecia desgastado e, frequentemente, apareciam três dinamarqueses contra Coentrão e Moutinho ou Coentrão e Veloso. Não chegava e Kvist podia ter aproveitado mas rematou um pouco por cima.

Após um período morno, com a bola quase sempre no meio campo, os atletas lembraram-se de rematar: Nélson Oliveira (Postiga já estava fora) atirou rasteiro e fraco, Bendtner, com espaço, rematou ao lado e Meireles chutou depois para a bancada. Tudo num curto espaço de tempo.

Ronaldo falha e adversário marca - Espaço teve novamente Ronaldo. O capitão da seleção recebeu um grande passe de Nani, que "partiu" completamente a defesa contrária, mas isolado, com tempo e oportunidade para tirar Andersen do lance, rematou ao lado. Muito mal finalizado.

Um minuto depois, aos 80', a Dinamarca chegou ao empate. Era tão óbvio que o corredor esquerdo português defendia mal, que os dinamarqueses insistiram muito por esse flanco. Entre mais de uma dezena de jogadas que surgiram por aquele lado, alguma haveria de dar o empate. Cruzamento de Jacobsen, Pepe cedeu um pouco de espaço a Bendtner e este - como gosta de marcar a Portugal - cabeceou para o 2-2. Patrício ainda tocou na bola, mas não conseguiu evitar o golo.

Varela liderou a reação final - Era altura de reagir e atacar mais. Apareceram então mais dois capítulos na "novela" Ronaldo. Novo passe de Nani e o extremo do Real Madrid, desta vez pressionado, limitou-se a passar a bola ao guarda-redes; canto para Moutinho, mais tarde, e Ronaldo atrapalhou-se e falhou o remate de primeira.

Se o lado esquerdo não funcionou a defender, funcionou a atacar. Foi dado espaço a Coentrão, que cruzou para Varela; o jogador do FC Porto ainda falhou uma primeira tentativa, mas à segunda enviou um "tiro" junto ao poste sem hipótese para Andersen, aliviando os seguidores lusos. Desta vez não havia Neuer pela frente. Mas não era preciso sofrer tanto.

Faltavam três minutos para os 90, mas no período de compensação ainda houve oportunidade para Schone rematar por cima, quando estava sozinho.

Destaques individuais - E Schone apareceu por onde? Pelo lado esquerdo da defesa portuguesa. Além de Coentrão ter estado a um nível menos positivo, Ronaldo foi simplesmente o pior jogador português. Não defendeu e, no ataque, complicou. A partir do meio da segunda parte, terá faltado coragem a Paulo Bento para retirar a "estrela".

Raúl Meireles também não esteve muito bem, falhando vários passes e marcações. No outro extremo, Nani interveio muito no ataque, correu muito e também defendeu muito. Pepe foi o melhor em campo. É provavelmente o melhor central do Europeu; e ainda teve tempo para inaugurar o marcador.

Portugal somou os primeiros três pontos, agora falta a Holanda. Para já tem três pontos, tal como holandeses, a Dinamarca e a Alemanha, que vai jogar mais logo contra a Holanda.