Crónica: Urgente repensar a formação de futebol em Portugal

Os tempos de ouro da formação ao nível dos clubes e principalmente das Selecções parecem já ter passado. Não apenas pela falta de resultados colectivos, de vitórias ou presenças nos grandes torneios dos chamados "sub", mas sim pela falta de uma cultura de jogo sólida que consiga trazer novos fortes valores para o futebol profissional. Tanto quanto à potencialidade colectiva como individual o que vemos é medíocre: não vamos estar nas melhores Selecções nos próximos 10 anos!Perdemos o nosso estilo próprio, de jogar bonito, com classe e colectivamente, mas sem anular os grandes craques individuais (bastar lembrarmo-nos do grande bailado colectivo que consistia nos movimentos em campo das Selecções de Rui Costa, Figo e Companhia). Passamos a ficar obcecados com a suposta lacuna da não concretização e menor poderio físico e passamos a procurar "matadores" de área e jogadores sólidos e estáveis no meio-campo: tudo isto em nome da suposta eficácia!Porém, deixamos de ter eficácia, pois as nossas equipas não cozinham jogo, não criam oportunidades, não procuram a posse de bola durante a maioria do tempo de jogo e não a utilizam para progredir (é raro vermos mais de 4 ou 5 passes antes de um "chuveirinho" e é raríssimo vermos os jogadores do meio-campo a tratar bem a bola, boas recepções, bons no passe curto e longo em progressão, capacidade de drible quando necessário para abrir espaços e desviar defesas para passes, habilidade para levar a bola controlada durante mais de 15, 20 metros que seja, etc). Queria-se tanto a eficácia que se ofuscou a criatividade à portuguesa que poderia ser melhorada sim e apenas com trabalho específico de criação de escolas de pontas-de-lança!Neste momento, a maioria dos jogadores que são chamados às Selecções (sem pôr em causa a mão que os empresários possam ter nestas escolhas) são fracos tacticamente (que não é só ocupar os espaços defensivamente, como às vezes certos sábios comentadores parecem elogiar cegamente!, mas também saber evoluir no campo ofensivamente, jogar em tabelinhas, ocupar o espaço livre, aparecer nos sítios certos para finalizar ou fazer os passes ou dribles certos) e são medíocres tecnicamente, tanto no ponto de vista do jogo colectivo como no individual! Para além disto são muito individualistas, egocêntricos e têm a mania desde cedo que são grandes craques!Isto tem que parar! Mas como? O que poderá estar na origem do problema e como se poderá trabalhar melhor? Poderemos dizer que é um problema dos empresários que acenam com as variáveis financeiras futuras desde muito cedo aos miúdos e suas famílias, mas isto também existe noutros países... Poderemos dizer que é um problema das elevadas expectativas dos pais nos seus miúdos, pois sonham que estes sejam futuros Cristianos Ronaldos, verdadeiras super-estrelas, mas também existe este tipo de pais noutros países... Poderemos dizer que é um problemas dos técnicos e do público que querem resultados imediatos, não têm paciência para jogadores que arriscam, que driblam mesmo falhando de vez em quando (lá vem algum sábio que grita "passa a bola, pá"!). Por vezes, parece que os jogadores que se escondem em campo são mais elogiados depois do que os que pegam no jogo e tentam dar a cara! Porém, outros países já tiveram ou têm técnicos e públicos assim...Gostaria que os relvas dessem a sua opinião sobre como trazer de volta as boas características que o estilo de jogo português tinha, melhorando apenas no que lhe faltava (a tal questão do trabalho específico dos pontas-de-lança) e ao mesmo tempo lidar com todas as variáveis potencialmente negativas que atrás apontei.Dean Saunders