Crónica: A culpa é de Scolari

Carlos Queiroz, nos anos 80/90, teve o mérito de levar os portugueses a várias vitórias em camadas jovens, com o culminar nas gerações vencedoras dos Mundiais de sub-21. Tal como nos clubes, a formação das Selecções tem como principal objectivo a alimentação da equipa principal, e é indubitável que a Selecção nacional, em toda a década de 90 e até 2002, teve como principal ponto de alimentação as gerações vencedoras de Queiroz, a que se juntam a Selecção classificada em 3.º lugar no Mundial sub20 de 1995 (+ Quim, Nuno Gomes e Beto) e a 4.ª classificada nos Jogos Olímpicos de 1996 (+ Vidigal). Juntaram-se ainda dois perfeitos desconhecidos para as Selecções nacionais, Petit e Pauleta.No entanto, em termos de resultados, a década de 90 foi pouco mais que sofrível. Contamos com dois falhanços no apuramento para Mundiais (94, com Queiroz, e 98, com Artur Jorge), um falhanço no apuramento para o Euro92 (muito mais difícil, apenas 8 equipas na fase final), uma prestação razoável no Euro96 (eliminados face ao finalista), e uma boa prestação no Euro2000 (com as gerações de 89 e 91 no auge das suas carreiras).Na década de 2000, tivemos uma qualificação imaculada para o Mundial 2002, manchada pela fase final. Com o fim do Mundial 2002, para além disso, tivémos o fim das gerações vencedoras de 89 e 91, poucos jogadores dessas Selecções se mantiveram disponíveis para Scolari. Apenas 3 desses jogadores estiveram na fase final do Euro2004: Figo, Fernando Couto e Rui Costa. E Scolari teve de fazer uma renovação da Selecção, andou um ano e meio a fazer equipas até conseguir a melhor prestação de sempre de Portugal numa competição de futebol sénior. Depois de 2000, Portugal voltava a estar perto do topo da Europa. Em 2006, continuou a renovação e a caminhada ascendente da equipa, com uma prestação sem reparos na fase de qualificação e um meritório 4.º lugar final.O caminho para o Euro 2008 sim, já foi decadente, e acabou com uma prestação semelhante ao Euro 96 (curiosamente, também uma eliminação perante o vice-campeão). E regressa Queiroz, o segundo seleccionador a repetir a liderança da Selecção nacional desde Oliveira (que, tal como Queiroz, ganhou um contrato de 4 anos, benesse com a qual Madaíl nunca agraciou Humberto Coelho ou Scolari).Scolari fez-nos chegar ao topo do futebol mundial, fez-nos acreditar, num período pós "geração de ouro", que os portugueses tinham uma equipa capaz de ombrear com os melhores. E, por isso, Scolari é culpado de estarmos agora tão exigentes com a Selecção.Mas o facto é que só em sonhos podemos dizer que temos um naipe de jogadores tão bom como a Itália, a Alemanha, a França, a Espanha ou a Inglaterra. A falta de um ponta-de-lança credível, de um bom guarda-redes e de um defesa-esquerdo constante já se verifica há muitos anos. São muitos lugares em falta para se considerar ter uma Selecção de nível mundial. Apesar desses condicionalismos, Scolari conseguiu fazer-nos acreditar nesse sonho. E porquê? Pelo factor motivação, que permitiu a superação dos jogadores nos momentos-chave e disfarçar as fraquezas evidentes. Agora, e uma vez que Queiroz não tem capacidades nesta área, vamos voltar ao tempo dos duques. Falta, na equipa, um líder, como Figo sempre foi. Não pode ser Ronaldo a assumir esse papel, que não tem (ainda) qualidades para isso.Foi bom fazer figura de rainha por algum tempo. Agora voltamos ao período das vitórias morais e do uso intensivo das calculadoras. Esses bons velhos tempos...
LG